
Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre) estima que há cerca de 2,5 mil pessoas na fila de espera. Mutirão ocorreu no último sábado (15) e visa acelerar processo de atendimento. Fundhacre atende cerca de 700 pessoas em mutirão de consultas voltadas à saúde mental
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Medo, angústia, dias de impaciência e tristeza sem um motivo direto e aparente. Estes são os sintomas de ansiedade que a atendente Deuzimar Gurgel sente há muito tempo, mas que, segundo ela, nunca buscou ajuda por achar que eram apenas momentos ruins e que conseguiria superá-los sem ajuda especializada.
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Em 2023, depois de muitas crises, ela procurou um médico e, desde então, aguardava por uma consulta com especialistas na Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), o que só ocorreu quase dois anos depois.
“Se você falar de ansiedade para as pessoas, tem gente que não acredita, que acha que é ‘frescura’. O pessoal fala ‘você é doida’. É o que eu já ouvi bastante. Quando eu vou trabalhar, que eu tenho alguma crise, eu fico meio intocável, não gosto de conversar, não quero falar com ninguém”, relata.
Além da Deuzimar, outras 699 pessoas que aguardavam por atendimento com profissionais de saúde mental foram atendidas no mutirão realizado pela Fundhacre no último sábado (15), em Rio Branco.
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Deuzimar Gurgel é uma das 700 pessoas atendidas no mutirão da Fundhacre neste sábado (15)
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Hoje com 66 anos, o aposentado Luiz Souza também foi um dos 700 pacientes. Ele foi diagnosticado com esquizofrenia aos 35.
A sobrinha Cleide de Souza, que cuida dele e da avó de 98 anos diagnosticada com Alzheimer, conta que até 2019 ele seguia o tratamento correto com psiquiatras do Hospital de Saúde Mental do Acre, mas com o isolamento imposto pela pandemia, acabou perdendo a vaga.
“Desde a pandemia, não conseguimos voltar de novo para os atendimentos dele, que era a cada 2 meses, porque o remérdio só dá para esse período. Ele está renovando a receita dele em um postinho, só que o médico do posto, como é clínico-geral, ele não faz alteração na medicação, e estamos precisando que seja feita a mudança e fazer o acompanhamento certo com o psiquiatra”, explicou a mediadora.
Cleide de Souza é sobrinha de Luiz Souza, e acompanha o tio nas consultas; ele tem esquizofrenia há quase 30 anos e esteve no mutirão da Fundhacre
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Filas de espera
Segundo a direção da Fundhacre, cerca de 2,5 mil pessoas estão na fila de espera para atendimentos voltados para a saúde mental.
“Temos pesquisas que apontam que uma em cada oito pessoas tem um tipo de sofrimento ligado à saúde mental. Então nosso objetivo é trabalhar os mutirões para atacar essas filas mais robustas onde temos pacientes há mais tempo esperando, para poder proporcionar a esse paciente um contato com especialista, e que ele possa iniciar seu tratamento em tempo hábil”, destacou a presidente da Fundhacre, Sóron Steiner.
O Núcleo de Apoio e Atendimento Psicossocial, ligado ao Ministério Público do Acre (MP-AC), aponta que há 11 anos, o Acre registra crescimento no número de doenças mentais. A pandemia da Covid-19 também contribuiu de forma significativa para esse quadro.
“Sabemos que nesse mundo em que vivemos, há uma alta incidência de pacientes que necessitam de algum tipo de atendimento voltado à saúde mental. Tivemos a pandemia, os numeros estão aí para mostrar que os pacientes tiveram as patologias agravadas, aqueles que não tinham nada, passaram a ser diagnosticados com depressão, ansiedade, entre outras doenças de saúde mental, e essa ação é mais uma das bandeiras que visa reduzir as filas”, falou o secretário de Saúde do Acre, Pedro Pascoal.
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