
Pequisadores estão correndo para descobrir a dimensão dos danos causados ao oceano pelos incêndios florestais em Los Angeles, nos Estados Unidos, segundo a ABC.
A linha d’água apareceu escurecida pela fuligem. Restos queimados de máquinas de lavar, secadoras e eletrodomésticos de metal foram encontrados espalhados pela orla.

Durante a maré alta, as ondas batiam nas casas carbonizadas, puxando destroços e cinzas potencialmente tóxicas para o oceano à medida que recuavam.
“Foi de partir o coração”, disse Tracy Quinn, presidente do grupo ambiental Heal the Bay, que relatou a presença de cinzas e destroços a cerca de 40 quilômetros ao sul da área atingida pelo incêndio de Palisades, a oeste de Los Angeles.
Pesquisadores e autoridades tentam entender como os incêndios em terra impactaram o mar. Os incêndios transformaram objetos do dia a dia em cinzas perigosas compostas por pesticidas, amianto, plásticos, chumbo, metais pesados e outras substâncias tóxicas.
Parte desses resíduos pode acabar no Oceano Pacífico, por isso as preocupações e incertezas sobre os impactos na vida marinha.
Muito perto da água
“Nunca vimos uma concentração tão grande de casas e prédios queimados tão perto da água”, disse Quinn à ABC.
Os destroços do incêndio e a possível presença de cinzas tóxicas podem tornar a água perigosa para surfistas e banhistas, especialmente após chuvas, que transportam produtos químicos, lixo e outros poluentes para o mar. A longo prazo, cientistas temem prejuízos até para a cadeia alimentar.
A reportagem da ABC diz que os rios atmosféricos e os deslizamentos de terra que atingiram a região de Los Angeles na semana passada agravaram essas preocupações.
Cientistas a bordo de um navio de pesquisa durante os incêndios detectaram cinzas e resíduos na água a até 160 quilômetros da costa, afirmou Julie Dinasquet, ecologista marinha do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia, em San Diego.
Eles relataram a presença de pequenos galhos e fragmentos, além de um cheiro semelhante ao de eletrônicos queimando — e não o de uma fogueira comum.

O impacto das chuvas e do escoamento
O escoamento da chuva também é uma preocupação imediata. A água da chuva arrasta contaminantes e lixo enquanto desce em direção ao oceano por meio de redes de drenagem e rios.
Esse escoamento pode conter grandes quantidades de nutrientes, nitrogênio e fosfato presentes nas cinzas do material queimado, além de metais pesados e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs), que são liberados quando diferentes tipos de combustível queimam, explicou Dias.
Além disso, deslizamentos de terra e fluxos de detritos na zona queimada do incêndio podem despejar ainda mais resíduos perigosos no oceano. Após incêndios, o solo das áreas queimadas perde sua capacidade de absorver a chuva e pode desenvolver uma camada repelente à água formada pelos restos de material orgânico queimado.
Foram instaladas barreiras de concreto, sacos de areia e filtros de sedimentos para impedir que os destroços alcancem as praias.
Além das análises de rotina, as autoridades estaduais de controle da água e outros pesquisadores estão testando a presença de metais dissolvidos e totais, como arsênio, chumbo e alumínio, além de compostos orgânicos voláteis.
Também estão sendo coletadas amostras para detecção de microplásticos, PAHs (nocivos à vida humana e aquática) e bifenilos policlorados (PCBs), um grupo de produtos químicos industriais proibidos devido ao seu potencial cancerígeno e outros sérios riscos à saúde. Eles eram amplamente usados em tintas, pigmentos e equipamentos elétricos antes de serem banidos.
As autoridades de saúde pública informaram que testes químicos em amostras de água coletadas no mês passado não indicaram riscos à saúde, levando à reclassificação do fechamento de uma praia para aviso de precaução. No entanto, os frequentadores da praia ainda foram aconselhados a evitar entrar na água.

Os impactos a longo prazo ainda são desconhecidos
Incêndios florestais podem liberar nutrientes importantes, como ferro e nitrogênio, no ecossistema oceânico, estimulando o crescimento do fitoplâncton, que pode gerar um efeito positivo em cadeia. No entanto, as cinzas tóxicas de incêndios urbanos próximos à costa podem ter consequências devastadoras, alertou Dinasquet.
“Relatórios já mostram que havia muito chumbo e amianto nas cinzas”, acrescentou. “Isso é muito prejudicial para os seres humanos, então provavelmente também é extremamente nocivo para os organismos marinhos.”
Uma das maiores preocupações é se os contaminantes tóxicos dos incêndios irão entrar na cadeia alimentar. Os pesquisadores planejam analisar tecidos de peixes em busca de sinais de metais pesados e outros poluentes. No entanto, pode levar tempo para compreender como um grande incêndio urbano afetará o ecossistema marinho e o abastecimento de alimentos.
Dias ressaltou que o oceano há muito tempo recebe poluição vinda da terra, mas com incêndios e outros desastres, “tudo se agrava, tornando a situação ainda mais alarmante.”
Já o Los Angeles Times publicou uma declaração de que ao contrário da fumaça de incêndios rurais, o material carbonizado no oceano é o material das “casas das pessoas: seus carros, suas baterias, seus eletrônicos”, disse Rasmus Swalethorp, oceanógrafo biológico da Scripps Institution of Oceanography da UC San Diego.
“Certamente conterá muitas coisas que idealmente não queremos ver em nossos oceanos — e em nossos solos, nesse caso, e em nossos cursos de água, e certamente não em nossos pratos de jantar. Mas essa questão só poderia ser respondida estudando as camadas interconectadas do ecossistema marinho mais amplo.
Resíduos de incêndio nublaram a superfície do oceano. Redes de coleta antes brancas surgiram enegrecidas com fuligem e detritos carbonizados.