Com efeito ‘zumbi’ em artrópodes, verme faz hospedeiros irem para a água e se afogarem; VÍDEO


Uma vez na água, os parasitas saem do hospedeiro e buscam parceiros para reprodução. Filo Nematomorpha abrange entre 300 e 400 espécies, aproximadamente. Vídeo mostra louva-a-deus indo para a água liberar verme do filo Nematomorpha
Todo mundo já viu algum verme com formato de fio, mas talvez nem todos saibam que alguns deles são capazes de transformar artrópodes em “zumbis”. Uma vez parasitados, os vermes conduzem os hospedeiros até a água, os afogam e saem para se reproduzir. Assim, o ciclo recomeça.
Pertencentes ao filo Nematomorpha, que abrange entre 300 e 400 espécies de água doce e cerca de 5 de água salgada, esses animais bizarros têm distribuição mundial, o que inclui o Brasil.
Gordius robustus, espécie de verme do gênero Gordius
ozarkpoppy / iNaturalist
As baratas, grilos, gafanhotos, esperanças e louva-a-deus costumam ser “vítimas” frequentes de vermes de água doce, porém também há casos registrados de besouros, tesourinhas, baratas-d’água, e até outros grupos de artrópodes parasitados, como aranhas e piolhos-de-cobra.
Já os vermes de água salgada costumam parasitar caranguejos, como explica o biólogo especialista em insetos César Favacho. Além de irem para água no fim do ciclo do verme, os hospedeiros podem assumir um comportamento mais errático que o normal, meio “zumbizado” mesmo.
Gordius e Paragordius são gêneros comuns de vermes deste filo. O tamanho do corpo dos adultos pode variar de alguns centímetros a quase 2 metros de comprimento. No entanto, possuem geralmente menos de 1 milímetro de diâmetro corporal.
Ciclo de vida
Mas como é o “modus operandi” desses vermes? Segundo o biólogo especialista em insetos César Favacho, os adultos colocam os ovos na água e, após as larvas eclodirem, elas permanecem no ambiente, onde podem ser consumidas por animais aquáticos, que serão seus hospedeiros intermediários (larva de mosquito, por exemplo).
Depois de consumidas, as larvas irão penetrar na parede intestinal e formar cistos que ficarão numa espécie de dormência até o hospedeiro intermediário ser comido pelo hospedeiro definitivo.
Verme do gênero Paragordius parasitando um inseto, que é seu hospedeiro definitivo
Marissa McNickle / iNaturalist
Caso o hospedeiro intermediário seja comido por outro animal que não o definitivo, a larva tem a capacidade de penetrar novamente pelo tecido do intestino e formar um novo cisto. Desse modo, ela ficará “à espera” da predação pelo hospedeiro definitivo, como um louva-a-deus, por exemplo.
Parasita pode se desenvolver dentro de grilos
Alan Henderson
“Além do consumo dos cistos pela predação, as larvas podem formar cistos na água ou sobre a vegetação (após uma cheia) e serem consumidas diretamente pelo hospedeiro final enquanto este bebe água ou se alimenta. É possível que as larvas formem cistos em peixes e sapos, mas nestes animais os vermes não irão completar o ciclo de desenvolvimento”, comenta o biólogo.
Ao entrar no corpo do hospedeiro definitivo, o cisto penetra a cavidade abdominal e começa o seu desenvolvimento parasítico. Essa fase pode durar de 1 a 8 meses, dependendo da espécie de verme.
Os vermes irão consumir os órgãos do hospedeiro, deixando apenas os essenciais para evitar a morte prematura do mesmo. Em muitos casos, o hospedeiro é “castrado” por ter suas estruturas reprodutoras internas totalmente comidas.
Após o desenvolvimento do parasita, o hospedeiro definitivo é induzido a se jogar na água, onde o verme atingirá a fase adulta e de vida livre. Nela, ele irá deixar o corpo do bicho parasitado, procurar por parceiros para acasalar e recomeçar o ciclo.
Inseto deixado na água após o desenvolvimento de verme do gênero Gordius
Alexander Ganse / iNaturalist
César Favacho explica que alguns animais parasitados pelas espécies do filo Nematomorpha sobrevivem, mas acabam tendo dificuldade de se reproduzir ou ficam estéreis.
Raros em humanos
“Apesar de raros, existem alguns casos desses vermes encontrados em humanos. Ao beber ou entrar em contato com água contaminada, as larvas podem acabar entrando no corpo (pela boca, uretra, ânus, ouvidos, etc). Também é possível que a ingestão, mesmo acidental, de hospedeiros contaminados possa levar os vermes aos humanos.”, relata o pesquisador.
Segundo ele, nos casos registrados, os vermes não são capazes de completar seu ciclo de desenvolvimento, assim acabam sendo expelidos ou retirados. Sua presença no corpo humano pode provocar sintomas de dor e desconforto, que desaparecem após a retirada do parasita.
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