Precarização: 57,9% das jovens negras em São Paulo (SP) estão em empregos informais

A realidade do mercado de trabalho para jovens negras em São Paulo (SP) expõe um cenário de profunda desigualdade racial e de gênero. Mais da metade das jovens negras ocupadas no município 57,9% estão inseridas em empregos considerados precários. Essas mulheres trabalham sem carteira assinada, sem contribuição previdenciária ou mesmo como trabalhadoras domésticas sem direitos garantidos.

A taxa de informalidade entre as jovens negras na capital paulista é 10,2 pontos percentuais superior à verificada entre jovens brancas da mesma faixa etária. A diferença também se expressa no acesso a vínculos formais de emprego: enquanto 53,3% das jovens brancas ocupadas em São Paulo têm carteira assinada, entre as negras esse índice é de apenas 42,1%.

Os dados integram o relatório “MUDE com Elas”, lançado nesta terça-feira (21), resultado de uma parceria entre o CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), a Ação Educativa, a organização internacional Terre des Hommes e o Ministério para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ). A análise se baseia nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e abrange o período entre 2021 e 2024.

Para Fernanda Nascimento, coordenadora do projeto MUDE com Elas, os números são o reflexo direto do racismo estrutural: “As jovens negras, além de enfrentarem o desemprego em taxas altíssimas, seguem sendo empurradas para postos de trabalho mais precários, informais e mal remunerados”, afirmou.


Desigualdade estrutural se repete em todo o país

O retrato da cidade de São Paulo não é isolado. Em nível nacional, a desigualdade se mantém e atinge de forma mais intensa as jovens negras em diferentes indicadores do mercado de trabalho.

A taxa de informalidade entre jovens mulheres negras no Brasil chega a 40,8%, superando em 8,4 pontos percentuais a taxa entre jovens brancas (32,4%). Entre os jovens homens negros, esse índice sobe para 45,3%.

O desemprego também atinge mais duramente esse grupo: no terceiro trimestre de 2024, a taxa de desocupação entre jovens negras de 14 a 29 anos foi de 16%, enquanto entre jovens homens brancos o índice ficou em 4,4%. Já a subutilização da força de trabalho que inclui o desemprego, trabalho por menos horas do que o desejado e o desalento afeta 23,2% das jovens negras, contra 9,6% dos jovens brancos.

As diferenças salariais também são marcantes. No Brasil, as jovens negras recebem, em média, apenas 46,3% do rendimento mensal obtido por jovens homens brancos. Na Região Metropolitana de São Paulo, a disparidade é ainda mais profunda: 62,2%.


Saneamento e moradia também refletem desigualdades

O relatório traz ainda dados sobre as condições habitacionais das jovens negras em São Paulo. Em áreas onde há maior concentração desse grupo, 19,3% dos domicílios não possui esgoto ligado à rede geral índice que cai para apenas 0,4% em regiões onde predominam jovens brancas.

Outro dado que ilustra a desigualdade urbana é o tipo de moradia: somente 6% das jovens negras vivem em apartamentos, enquanto esse número sobe para 68,2% entre as jovens brancas.

“É impossível pensar políticas de equidade para as juventudes negras sem considerar as desigualdades territoriais que afetam seu cotidiano, seu acesso à infraestrutura urbana e sua dignidade habitacional”, conclui Fernanda Nascimento.

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