Negra Li: novo álbum é ‘manifesto’ e ‘grito preso na garganta’; artista se apresenta na Virada Cultural neste sábado (24), em SP

A cantora, compositora e atriz Negra Li se apresenta neste sábado (24), às 19h, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, na zona Leste de São Paulo (SP), como parte da programação da Virada Cultural. O show antecipa o lançamento de seu novo álbum, Um silêncio que grita, previsto para a próxima sexta-feira (30).

Em entrevista nesta sexta (23) ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a artista descreveu o trabalho como um reflexo de sua trajetória e autonomia. “O disco é um manifesto. Ele veio num momento em que eu tenho autonomia, liberdade, sou dona e proprietária da minha marca, da minha vida. Estou independente”, afirma.

O projeto reúne colaborações de nomes como Djonga, Gloria Groove e Liniker, e resgata o discurso político que marcou o início da carreira da artista. “É um grito que está preso na garganta. Fala sobre questões precisamos falar, mas muitas vezes são camufladas, as pessoas não falam. Tem dedo na ferida, mas tem acalento também”, diz.

Na Virada Cultural, Negra Li promete apresentar as faixas do novo álbum Black Money e Fake, já divulgadas nas plataformas de streaming. “Acho que a galera vai curtir muito. Tem muito rap”, adianta.

Com três décadas de carreira, a cantora celebrou a consolidação do rap nacional, movimento do qual é uma das pioneiras. “Entrei [nesse cenário] quando o rap já tinha dez anos e vi o quanto os caras faziam realmente por amor, pelo discurso, pela sede de mudança. […] Hoje estamos conseguindo viver da música, do rap. Ainda é uma realidade complicada, um movimento que ainda é periférico, criminalizado. Mas muitos já quebraram essas barreiras, estão com seu dinheiro. Tem lugar para todos.”

A maternidade também ocupa um espaço central na sua produção atual. Para o novo álbum, Negra Li escreveu a canção “Filhos” como uma carta melódica para seus dois filhos, Noah e Sofia. “Acho importante deixar meus filhos com os olhos bem abertos, com a autoestima lá em cima, para eles entenderem a luta da mamãe, de onde a mamãe veio, onde a mamãe chegou, por que que eles têm o acesso às coisas que eles têm. […] Temos que preparar o futuro também, a luta não acabou”, declara.

Confira a entrevista:

Qual a expectativa para o show deste sábado (24) na Virada Cultural?

A expectativa é sempre das melhores. Eu adoro fazer show para públicos quando é livre, porque as pessoas não necessariamente foram ali para ver meu show. Muitas vezes, nem me conhecem. Aí me surpreendo, ganho mais um público, mais um fã. É muito bom poder fazer show na Virada Cultural, onde estou presente já há uns bons anos. Fico sempre na expectativa, todo ano. Vou apresentar duas faixas que lancei recentemente, Black Money e Fake, que vão estar dentro desse álbum que lanço dia 30. Acho que a galera vai curtir muito. Tem muito rap.

O que podemos esperar do seu novo álbum, “Um silêncio que grita”?

Além do Djonga, no disco tem Gloria Groove e Liniker. As pessoas já podem fazer o pré-save nos seus streamings favoritos, já não é mais surpresa. O disco é um manifesto. Ele veio em boa hora, num momento em que eu tenho autonomia, liberdade, sou dona e proprietária da minha marca, da minha vida, da minha empresa, Negra Li Produções, que tem produzido e tem feito tudo. Eu estou independente. Coloquei no disco tudo o que eu quero, tudo que eu penso, mas é mais do que sobre mim. Esse disco também fala por todos, conta histórias. É um grito que está preso na garganta. Fala sobre questões precisamos falar, mas muitas vezes são camufladas, as pessoas não falam. Tem dedo na ferida, mas tem acalento também.

Você é um dos principais nomes do rap nacional. Abriu caminho para muita gente, para muitas outras mulheres também. Queria que você comentasse isso.

Por conta da minha diversidade musical durante 30 de carreira, eu passei por diversos gêneros. Por isso que estou dando ênfase no discurso dentro desse disco, do que se espera de Negra Li. Poderia ser diferente, ser pop. Eu gosto de atravessar esses universos, mas nesse disco não. Nesse disco, você pode esperar rap e muito manifesto.

Como você vê o momento atual do rap no Brasil?

Sobre o rap atual, eu fico muito feliz de termos alcançado o mainstream, de termos mais espaço, festivais. Eu só tenho a comemorar mesmo. Tem pessoas que gostam, outras que não, mas eu prefiro não criticar porque eu sei da correria, da luta que foi. Eu entrei [nesse cenário] quando o rap já tinha dez anos e vi o quanto os caras faziam realmente por amor, pelo discurso, pela sede de mudança.

Quando estávamos ali no início, não imaginávamos isso. Nem queríamos que fosse tão aberto, tão popular. Queríamos mesmo era ser contra o sistema, não estar na televisão, mas ser líder da nossa comunidade. Mas, graças a Deus, tomou um rumo onde agora nos profissionalizamos. Eu já cheguei a cantar em cima de um caixote, sem condição nenhuma, sem segurança, muitas vezes cobrando o dinheiro do contratante na hora do show.

Hoje lidamos com contrato, estamos conseguindo viver da música, do rap. Não é para todos, infelizmente, ainda é uma realidade complicada, um movimento que ainda é periférico, criminalizado. Mas muitos já quebraram essas barreiras, contrariaram a estatística, estão com seu dinheiro, ostentando. Não tem problema. Eu gosto de diversidade, tem lugar para todos.

A maternidade tem influenciado em alguma medida a sua produção musical?

Com certeza, os meus filhos sempre me influenciam. Eles sempre estão ali para mim como uma referência, me fizeram uma pessoa melhor. Por eles, eu quero ser o melhor exemplo que eu posso. E isso se estende ao meu trabalho, à minha música.

No disco, tem uma música chamada Filhos, onde eu deixo uma carta melódica para cada um deles. A primeira parte é para o Noah, a segunda parte é para a Sofia, e o refrão é para todos nós. Dou conselhos porque acho importante deixar esse legado, os meus filhos com os olhos bem abertos, com a autoestima bem lá em cima, para eles entenderem a luta da mamãe, de onde a mamãe veio, onde a mamãe chegou, por que eles têm o acesso às coisas que eles têm. E para eles não esquecerem quem eles são, qual é o papel da pessoa preta dentro desse país, qual o papel que tentam nos colocar e qual é o verdadeiro papel.

Temos direitos iguais a qualquer outra pessoa, e isso foi conquistado, nos foi tirado, e depois reconquistamos esse espaço, essa liberdade. Lutamos até hoje para continuarmos tendo esses direitos, porque se deixarmos para lá, voltamos a como era há cento e poucos anos atrás, e isso não podemos deixar. Então temos que preparar o futuro também, para entender que a luta não acabou.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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