Não existe “autismo leve”


Níveis de suporte não refletem gravidade do autismo e, sim, a necessidade de suporte para cada pessoa que está no espectro. A compreensão do autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é frequentemente cercada de confusões e mitos. Um dos equívocos mais comuns é a categorização do autismo em níveis de gravidade, como “leve”, “moderado” ou “grave”. Essa classificação, embora amplamente utilizada, é problemática e pode levar a uma visão distorcida sobre a condição. A classificação mais adequada é por níveis de suporte.
O que são os níveis de suporte?
O DSM-5, manual de referência para diagnósticos psiquiátricos, introduziu a ideia de “níveis de suporte” ao invés de graus de autismo. “Cada indivíduo no espectro tem suas características, suas dificuldades, potencialidades que vão se manifestar diante sua condição. Os níveis de suporte no autismo, são uma classificação do DSM-5 para descrever o grau de apoio necessário. Para o autismo, essa divisão é baseada na intensidade dos sintomas, o quanto compromete a funcionalidade do indivíduo, ou seja, o quanto aquele autista necessita de apoio terapêutico para se desenvolver”, explica a psicóloga especialista em atendimento a crianças e adolescentes com transtornos do neurodesenvolvimento, Aline Fischer.
Nível 1: Requer menos suporte e intervenções para conseguir se desenvolver e ter autonomia em comparação a autistas de nível 2 e nível 3. Mas, a intervenção não pode ser descartada. Nesse caso, os autistas podem ter dificuldades em iniciar interações sociais e compreender nuances da comunicação. Pouco ou nenhum prejuízo na fala, desafios mais sutis na interação e na comunicação, mais autonomia para as tarefas do dia a dia, pouca ou nenhuma dificuldade na aprendizagem. Conseguem, também, expressar melhor os seus desconfortos frente a mudanças, presença sutil de estereotipias e hiperfoco.
“Algumas pessoas ao ler essas características podem pensar que isso não é nada, isso se resolve rapidinho. O nível 1 pode até parecer mais leve porque não precisa de um apoio constante, mas ele tem suas dificuldades e elas interferem acarretando prejuízos em sua rotina e plena autonomia. Eles (autistas nível 1) podem até falar muito bem, mas ainda haverá prejuízos na interação social, muitas vezes, devido a rigidez mental, ou quando a dificuldade está centrada na tomada de perspectiva do outro, das intenções do outro, o que acaba sobrecarregando o seu emocional e a saúde mental das pessoas que convivem com ele”, explica Aline.
“O autista de nível de suporte 1 necessita de intervenção terapêutica como os demais autista com diferentes níveis de suporte, mas pode variar na intensidade desta intervenção. O acompanhamento psicológico é essencial, uma vez que eles são mais vulneráveis a desenvolver ansiedade e depressão. Também podem ser mais ingênuos e devidos às dificuldades na socialização, mascaram alguns sintomas, para evitar bullying e sofrimento psicológico. Quando diagnosticado tardiamente, percebem passar uma vida inteira de sofrimento por falta do apoio e suporte adequado”, completa a psicóloga.
Nível 2: Requer suporte substancial. Aqui, as dificuldades na comunicação e interação social são mais significativas.
De acordo com Aline Fischer, autistas deste nível precisam ainda mais de suporte para realizar as atividades de vida diária em comparação aos de nível 1, têm prejuízos mais significativos na comunicação e linguagem, interação social mais limitada e podem depender de recursos visuais, déficits marcantes na conversação com respostas reduzidas ou consideradas atípicas. “Podem apresentar com mais facilidade crises ou desregulações, devido a comunicação limitada para expressar seus sentimentos, desejos e até incômodos. Demonstram apego, inflexibilidade a mudanças, rituais e precisam de maior previsibilidade, do que autistas de nível 1. Autistas de nível 2 de suporte podem apresentar deficiência intelectual, nível leve e mais dificuldade de aprendizagem”, completa.
Nível 3: Requer suporte muito substancial. Indivíduos apresentam déficits severos na comunicação e podem ter comportamentos repetitivos intensos.
“São pessoas que estão sempre acompanhadas, porque precisam de suporte muito substancial e supervisão constantes. A interação social é bem limitada, podem depender de recursos visuais para compreender rotinas e transições, e essa dificuldade de compreensão se refere a linguagem, por isso também não desenvolveram ainda a fala. A deficiência intelectual é uma condição que pode estar associada ao autismo e limita suas capacidades adaptativas, de aprendizagem e independência. São pessoas que engajam em estereotipias, movimentos repetitivos e restritos com mais frequência, precisando de intervenção intensiva terapêutica e suporte total familiar”, conclui a psicóloga.
Psicóloga Aline Fisher, atua no atendimento especializado de crianças e adolescentes com transtornos no neurodesenvolvimento, realiza avaliação e intervenção para (TEA, TDAH, TOD) Pós graduada em ABA.
Divulgação – Da Assessoria
Desmistificando os níveis
É importante entender que cada pessoa no espectro autista é única. O uso dos termos “leve”, “moderado” e “grave” pode sugerir que existe uma hierarquia de capacidades ou valor entre os indivíduos autistas, o que não é verdade. As necessidades de suporte podem mudar ao longo do tempo e variar em diferentes contextos. Um indivíduo pode precisar de mais apoio em situações sociais complexas, mas ser bastante independente em ambientes familiares ou estruturados.
Divulgação
Assessoria Soulmare.
Muitas vezes, a percepção negativa do autismo é alimentada por estereótipos e desinformação. A categorização do autismo em níveis de suporte é uma ferramenta útil para entender as necessidades individuais, mas não deve ser confundida com uma avaliação da gravidade da condição.

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