Aniversário de SP: refugiada do Congo ajuda imigrantes e ensina crianças sobre a África


Claudine Shindany precisou deixar seu país após perseguição política e reconstruiu a vida no Brasil. Seu trabalho se conecta ao ODS 10, reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. Cami (Centro de Apoio Pastoral do Migrante)
Dvulgação
Quem entra para ser atendido no Centro de Apoio Pastoral do Migrante (Cami), na região central de São Paulo, encontra a sorridente Claudine Shindany, de 46 anos. O que nem todo mundo sabe é que ela mesma já precisou de ajuda para conseguir seguir a vida em paz e segurança.
Em 2014 deixou seu país natal, a República Democrática do Congo, após sofrer perseguição política pelo trabalho que desenvolvia como jornalista. Atualmente, além de atuar apoiando a regularização migratória de imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil, visita escolas da rede municipal para ensinar sobre o continente africano.
Antes de sair do Congo, Claudine atuava com comunicação, viajando pelo país para relatar casos de violações de direitos humanos que aconteciam, envolvendo principalmente crianças.
“Eu sou de um país que tem conflito armado. Tentava fazer minha parte como ativista de direitos humanos, trabalhando, escrevendo, incentivando e sensibilizando a população em muitas questões”, relembra.
Começou a sofrer perseguições e decidiu que o melhor a fazer seria deixar o país com o filho, então com sete anos. Na época, chegou a ter a casa incendiada, não se sabe se foi algo criminoso ou um acidente, mas fez questão de salvar o diploma.
Quando chegou ao Brasil, Claudine não falava português. Apesar de ter o documento que comprovava a graduação e experiência no jornalismo, teve um começo difícil no país. Foi a comunidade da igreja que participava que a ajudou naquela fase.
“Eu ficava sozinha com meu filho, e as pessoas da igreja que me ajudaram a matriculá-lo na escola e até fazer algumas coisas simples, como ir a feira ou mercado.”
Acabou conhecendo uma amiga que a apoiou com o idioma, e as coisas foram melhorando. Ela conseguiu se inscrever em um edital na Secretaria Municipal da Cultura e começou a atuar em escolas ensinando sobre a África. “Eu ensino através de brinquedos, jogos e canções”, conta. “A necessidade nasceu porque percebi que realmente muitas pessoas não sabem sobre a África aqui no Brasil.”
Uma das escolas em que já atuou é a EMEF Duque de Caxias, que fica na Liberdade, no Centro. Para Inês Madureira, coordenadora pedagógica da unidade, Claudine é um exemplo para os educadores. “Ela nos orienta em relação aos migrantes internacionais. Nós estamos perto da Missão Paz e recebemos muitos estudantes que são migrantes.”
Claudine concilia essas visitas nas escolas com o trabalho no Cami, ONG que foi fundada em 2015 para apoiar inicialmente imigrantes bolivianos, mas que agora oferece orientações e atendimento para que imigrantes e refugiados consigam se estabelecer no país e entender seus direitos.
A ONG também luta contra o fim do trabalho análogo ao escravo. Claudine conta que é necessária sempre uma escuta ativa na hora dos atendimentos. “A gente atende algumas pessoas que vêm aqui precisando tirar a documentação, mas, conversando, você descobre que ela está trabalhando e não recebendo o direito dela, não está em um trabalho digno.”
De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), entre janeiro e novembro de 2023, a rede socioassistencial da capital acolheu 6.583 imigrantes, sendo a maioria de Angola (3.196), seguido por Afeganistão (995) e Venezuela (852).
“Eu fico muito feliz quando a pessoa me retorna falando que conseguiu os documentos”, conta Claudine. “Quando isso acontece, eu vou dormir em paz, falando para mim mesma: pelo menos eu consegui mais um.”
Por dentro dos ODS
Para as celebrações dos 470 anos da capital paulista, o Bom Dia São Paulo, o SP1, SP2 e o g1 exibem nesta semana uma série de reportagens sobre paulistanos que estão fazendo a diferença em cada uma das áreas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ajudando a tornar a cidade um lugar melhor e mais justo para todos.
Nesta reportagem, tratamos do ODS 10: reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles no vídeo com o presidente do Pacto Global da ONU no Brasil.
Confira em detalhes o que ele estabelece:
10.1 Até 2030, progressivamente alcançar e sustentar o crescimento da renda dos 40% da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional
10.2 Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra
10.3 Garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades de resultados, inclusive por meio da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e da promoção de legislação, políticas e ações adequadas a este respeito
10.4 Adotar políticas, especialmente fiscal, salarial e de proteção social, e alcançar progressivamente uma maior igualdade
10.5 Melhorar a regulamentação e monitoramento dos mercados e instituições financeiras globais e fortalecer a implementação de tais regulamentações
10.6 Assegurar uma representação e voz mais forte dos países em desenvolvimento em tomadas de decisão nas instituições econômicas e financeiras internacionais globais, a fim de produzir instituições mais eficazes, críveis, responsáveis e legítimas
10.7 Facilitar a migração e a mobilidade ordenada, segura, regular e responsável das pessoas, inclusive por meio da implementação de políticas de migração planejadas e bem geridas
10.a Implementar o princípio do tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, em conformidade com os acordos da OMC
10.b Incentivar a assistência oficial ao desenvolvimento e fluxos financeiros, incluindo o investimento externo direto, para os Estados onde a necessidade é maior, em particular os países menos desenvolvidos, os países africanos, os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus planos e programas nacionais
10.c Até 2030, reduzir para menos de 3% os custos de transação de remessas dos migrantes e eliminar os corredores de remessas com custos superiores a 5%
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