Família de criança morta após queda de eucalipto evita ‘passar perto’ do Taquaral e quer achar enfermeira que ofereceu ajuda


Um ano após acidente que matou Isabela Tibúrcio Firmino em Campinas, família falou ao g1 sobre o processo do luto. Pai vai fazer ato na parte externa do parque nesta quarta-feira. Sergio Fermino, a mulher Gislene e a filha Isabela
Arquivo Pessoal
Um ano após a queda de um eucalipto que matou Isabela Tibúrcio Fermino, de sete anos, na Lagoa do Taquaral, em Campinas (SP), a família da menina ainda vive o luto do acidente. Em meio a ajuda psicológica, rede de apoio e orações, os pais da criança passaram pelos 365 dias sem a filha apoiados ao que “resta para não desmoronar” e tentaram se preparar para a dor e a saudade que todo 24 de janeiro vai levar a eles.
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Em homenagem à menina, o pai dela decidiu, na manhã desta quarta-feira (24), circular o entorno da Lagoa do Taquaral para pendurar fitas pretas na grade do lado de fora, com o objetivo de simbolizar o luto pela morte de Isabela. A opção por realizar o ato na parte externa do parque não é por acaso. A família ainda tem muita dificuldade de “passar perto” do local e, por enquanto, não cogita a possibilidade de entrar novamente no espaço.
Ao g1, Sérgio Luís Fermino e Gislene Silva Tibúrcio Fermino lembraram das dificuldades de enfrentar a perda durante o período de um ano, os auxílios que usam para tentar seguir em frente e a decisão de evitar frequentar o Taquaral. Além disso, a mãe da menina revelou um desejo: reencontrar a enfermeira que ofereceu ajuda com os primeiros socorros da menina.
“Até agora, só passei lá de carro. Para fazer esse ato, vai ser a primeira vez que eu vou passar a pé, mas não vou entrar. Entrar eu realmente ainda não consigo, não tenho condições nenhuma para isso. Não sei dizer se nunca mais vou entrar lá, mas agora eu ainda não tenho noção de quanto tempo vai demorar”, afirmou Sérgio.
A restrição de Gislene é ainda maior. Ela relatou que nunca mais passou em frente à Lagoa e nem vai participar do ato por ainda não se sentir preparada.
“Eu peguei um transporte por aplicativo recentemente e achei que iria passar em frente [à Lagoa do Taquaral]. Eu comecei a chorar e pedi para o motorista desviar o caminho. No fim, ele nem ia passar por lá, mas eu fiquei muito nervosa”, contou a mãe de Isabela.
Pais de Isabela, morta atingida por árvore em Campinas
Reprodução/EPTV
Tentativa de reencontro
Com auxílio psicológico, psquiátrico e apoio de amigos e familiares, Sérgio e Gislene afirmaram que “tocaram a vida na medida do possível”. Há seis anos pastor, o pai da menina começou a trabalhar com crianças para “ficar mais perto da filha” de alguma maneira. Ele também frequenta igrejas para falar sobre como processar o luto, mas revela que a família ainda tem muita dificuldade de administrar a situação internamente.
“Falar de maneira geral a gente até consegue, mas dar conselhos individuais, é muito difícil para mim. A nossa felicidade ruiu, nossa vida acabou como se fosse uma bomba. A vida nunca será mais a mesma. É como um navio que naufraga e sobra só as tábuas, a gente está se agarrando a essas tábuas para não naufragar de vez”, revelou.
Em meio à tristeza, Gislene ainda teve tempo para encontrar forças para lembrar de uma enfermeira que, antes de chegar o resgate, auxiliou nos primeiros socorros de Isabela. A mulher estava passando pelo local no momento do acidente e tentou ajudar a família enquanto não chegava a ambulância.
“Eu sei que ela fez o que pôde. Ela tentou fazer massagem cardíaca, mas a Isabela não estava mais ali. Ela foi muito prestativa, eu não sei nem o nome dela, não sei quanto tempo vai demorar, mas quem sabe um dia eu não posso encotrá-la para agradecer aquela ajuda. Eu sei que ela tentou de tudo”, disse a mãe, emocionada.
Isabela Fermino, de 7 anos, morreu após queda de uma árvore em parque de Campinas (SP)
Reprodução/redes sociais
Linha tênue
Em 24 de janeiro de 2023, Isabela Tibúrcio Fermino foi atingida pelo eucalipto enquanto fazia um passeio na Lagoa do Taquaral. Ela estava com a família, comemorando o aniversário da prima, e morreu no local. Na ocasião, uma jovem de 27 anos também ficou gravemente ferida após a queda da árvore. Ela passou por duas cirurgias no Hospital Mário Gatti, antes de receber alta.
A partir disso, a Polícia Civil iniciou um inquérito policial para apurar as circunstâncias da queda e se haveriam responsáveis pelo acidente. A Prefeitura de Campinas apresentou laudos que atestam que o eucalipto caiu por conta do solo encharcado provocado por fortes chuvas e a investigação concluiu que não houve omissão ou negligência.
No entanto, o Ministério Público ingressou na Justiça com uma ação civil pública na qual responsabiliza a prefeitura pela queda. A Promotoria pede que o governo municipal seja condenado ao pagamento de R$ 2 milhões em indenização por danos morais coletivos “referentes aos constantes riscos à saúde, à vida e à integridade física da população de Campinas em razão do descumprimento das normas de manejo adequado da arborização urbana no município”.
Isabela com prima e amigas brincando em piquenique antes de tragédia na Lagoa do Taquaral
Reprodução/EPTV
Sérgio Fermino frisou que, em caso de condenação, o dinheiro irá para um fundo e não para a família, e afirmou ainda, apesar de se distanciar de qualquer anseio pela punibilidade seja de quem for, querer Justiça se existir algum responsável pela árvore ter caído.
“É uma linha muito tênue que existe entre vingança e Justiça. A gente realmente quer Justiça. Se tiver alguém responsável, alguém que tinha que ter olhado e não olhou, alguém que tinha que ter vistoriado e não vistoriou, que tinha que ter tirado a árvore e não tirou, essa pessoa tem que ser punida. A nossa vida virou de cabeça para baixo. Se tiver um culpado, eu quero saber”, completou.
Manter a memória viva
Ainda no ano passado, o pai de Isabela lançou um livro de poesias escritas pela menina. A intenção, segundo ele, é manter a memória dela viva por meio das coisas que ela gostava e fazia e não por ter sido a vítima do trágico acidente no Taquaral.
“As pessoas passaram a conhecer a Isabela por ter sido a menina que morreu com uma árvore em cima dela. Mas a Isabela era uma menina incrível, estudiosa, talentosa, amava a arte, amava os amigos, a família, queria ajudar, então eu vou levar para frente as coisas dela, as coisas que ela gostava, o que ela escrevia, o que ela desenhava, para todo mundo saber a menina maravilhosa que ela era”, finalizou Sérgio.
Além da homenagem da família, Isabela também vai ganhar uma lembrança da Prefeitura de Campinas. O Executivo informou que vai implantar, dentro da Lagoa do Taquaral, uma biblioteca infantil com uma praça e dará o nome de Isabela Tibúrcio Fermino.
Livro póstumo de Isabela Tibúrcio Férmino
Reprodução/Adonis
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