
Segundo protetora, quantidade foi reduzida pela metade e é insuficiente para alimentar animais que moram no Cemitério da Saudade. Acordo de 2014 prevê custeio pela prefeitura. Protetoras denunciam redução na ração fornecida a gatos abandonados em Piracicaba
O Ministério Público (MP-SP) pediu esclarecimentos à Prefeitura de Piracicaba (SP) após receber denúncia de redução na quantidade de ração destinada a gatos abandonados no Cemitério da Saudade.
De acordo com uma das protetoras dos animais, o governo municipal reduziu a quantidade de alimentação pela metade. Um acordo firmado junto ao MP, em 2014, prevê o custeio da ração pelo poder público.
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Segundo a cuidadora Elcian Granado, o cemitério é ponto de abandono de animais há mais de 60 anos. Em 2012, uma série de mortes de gatos foi registrada no local, e o caso foi denunciado ao MP. Os crimes também foram investigados pela polícia. Laudo pericial apontou que ocorreram mortes por espancamento.
Devido aos registros de maus-tratos, em 2014, foi firmado o acordo junto ao MP que previa a instalação de câmeras no local, além do custeio da alimentação.
Gatos abandonados no Cemitério da Saudade, em Piracicaba
Acervo pessoal
De 30 para 15 quilos por dia
De acordo com Elcian, desde o acordo de 2014, eram destinados 30 quilos de ração diariamente. No entanto, com a finalização de uma nova licitação para compra da alimentação, neste mês, recebeu a informação de que serão destinados 15 quilos por dia. Além disso, ela relata que a ração não vinha sendo enviada desde o final de 2024.
“A prefeitura perdeu o prazo da licitação que tinha começado em novembro do ano passado, fez uma nova licitação e, de repente, terminou a licitação e com a metade da ração”, afirma.
A protetora relata que tem enfrentado dificuldades nas tentativas de diálogo com a atual gestão da prefeitura e que não recebeu justificativas para a redução da ração.
“Liguei dezenas e dezenas de vezes. Tentamos reunião com o prefeito, marcou, chegamos lá, ele não recebeu. Mandaram a gente conversar com o secretário do Meio Ambiente, também não recebeu. Ele mandou um rapaz que trabalha lá na prefeitura, que falou: ‘olha, eu só vou levar o recado, porque eu não tenho nenhum poder de decisão'”, detalha.
Local é ponto histórico de abandono de animais, segundo protetora
Acervo pessoal
Complementos com doações e vendas
Elcian conta que os 30 quilos já não eram suficientes para alimentar todos os gatos que ficam no cemitério, que são centenas, segundo ela. A protetora aponta que são necessários pelo menos 40 quilos.
O grupo que dá auxílio aos animais já vinha realizando ações para complementar a alimentação e dar outras assistências a eles, com dinheiro proveniente de doações e vendas de sorvetes e massas.
‘Se for parar para chorar, não alimento’
No entanto, com a redução na ração, ela diz que ainda não sabe como vai garantir a alimentação de todos os animais.
“Hoje me deu vontade mesmo é de chorar. Mas se eu for parar para chorar, eu não alimento. Porque a gente até pode fazer campanha para arrecadar ração, mas as pessoas vão ajudar por um tempo, não vão ajudar o tempo inteiro. Se esses 15 quilos forem mantidos pelos quatro anos do governo do [prefeito] Helinho Zanatta, foi o que o meu marido falou: ‘você vai ter que gastar o que você tem na sua poupança para não deixar os gatos passarem fome'”, diz a protetora.
Protetoras relatam dificuldades para garantir alimentação a gatos abandonados
Acervo pessoal
Possibilidade de ação judicial
Ao g1, o Ministério Público informou que foi comunicado pelos cuidadores e intimou a prefeitura para que preste informações a respeito da denúncia.
“Caso confirmado que a Prefeitura Municipal de Piracicaba não está cumprindo o acordo, o Ministério Público poderá ajuizar ação judicial”, acrescentou.
O que diz a prefeitura
Em nota ao g1, a prefeitura informou que a licitação para o fornecimento de ração foi aberta no ano passado, na gestão anterior, e houve atraso por problemas na documentação das empresas vencedoras.
Também conforme a administração municipal o fornecimento de ração teve início neste mês de maio, com 5,52 toneladas de ração para a alimentação dos animais para os próximos 12 meses. A quantidade equivale, exatamente, a uma média de 15 quilos por dia.
A reportagem questionou o motivo da redução, se há previsão de voltar a enviar os 30 quilos e por que não está ocorrendo diálogo com as cuidadoras dos animais, mas não houve respostas a estes questionamentos.
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