Venezuelanos vão às urnas neste domingo (25) para escolher deputados e governadores do país em pleito no qual o governo precisa ratificar sua força eleitoral, meses após disputa presidencial contestada pela oposição. Nessa estratégia, a Assembleia Nacional é o foco prioritário.
As eleições vão eleger 285 congressistas, mais que em 2021, quando 277 deputados foram eleitos. Isso porque, além dos 24 estados que já têm eleições regulares, o país pela primeira vez vai escolher 8 deputados representantes de Essequibo, região historicamente disputada entre Venezuela e Guiana, sob controle guianense.
A distribuição do número de deputados na Venezuela se dá pelo número de eleitores de cada estado (ou departamento, em espanhol). Quanto mais eleitores, mais deputados. O Estado com maior representação é Zulia, com 25 deputados e 7 estados tem apenas 6 deputados, o menor número de representantes: Amazonas, Apure, Cojedes, Delta Amacuro, Nova Esparta, Vargas e Yaracuy.
Além dessa lista base, outros 48 deputados são eleitos pelo que é chamado de lista nacional, calculada nos votos recebidos por partido. Cada eleitor vota em um candidato e em um partido. Os votos nos candidatos são considerados votos nominais e o voto por partido entra no voto lista.
Já os votos para governadores de estado são simples. Cada eleitor vota em um e o mais votado em cada estado vence. A Venezuela hoje conta com 24 estados, mais o Essequibo. O Distrito Capital não tem governador.
Ainda há a votação para prefeituras e conselhos municipais, que são como as câmaras de vereadores. Serão eleitos 335 prefeitos e 2.471 conselheiros em todo o país. A composição desses conselhos, no entanto, é bem menor. O município Libertador, no Distrito Capital, por exemplo, é um dos maiores municípios do país e tem apenas 13 conselheiros.
Disputam essas vagas 6.687 candidatos e candidatas em todo o país, sendo 53,93% são homens e 46,07% mulheres. Para este pleito, 54 organizações políticas estão inscritas, sendo 36 ao nível nacional, 10 regionais e 8 indígenas.
Ao todo, 21.485.669 eleitores venezuelanos estão aptos. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), outros 196.824 cidadãos estrangeiros residentes no país têm direito a votar. Serão 15.736 seções eleitorais e 27.713 mesas divididas nestas seções.
Governo quer provar força e a oposição, se organizar
O Grande Polo Patriótico tem hoje a maioria da Assembleia Nacional e a maior parte dos governadores. No último pleito de 2021, a estratégia da maior parte da oposição foi o boicote. Por isso, dos 277 deputados que foram eleitos, 256 eram da frente de esquerda liderada por Nicolás Maduro. Outros 21 são opositores.
A meta do governo é manter essa força mesmo em um contexto de forte questionamento da oposição pelos resultados eleitorais de 2024.
Para isso, outro termômetro serão os governadores. Dos 23 estados que têm um chefe do Executivo, 19 são do Grande Polo Patriótico. A estratégia do governo foi mudar um pouco o perfil dos candidatos para essa disputa. Nomes mais experientes e militares foram escolhidos para as candidaturas de governadores. Já para os deputados, a ideia foi ter o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodriguez, como cabeça de lista. Ele também é coordenador de campanha e foi escolhido como negociador do governo com os Estados Unidos.
Os chavistas celebram a realização da 32ª eleição desde que o ex-presidente Hugo Chávez chegou ao poder em 1999. O atual presidente, Nicolás Maduro, afirma que essa é a principal demonstração da democracia participativa venezuelana, que realiza consultas populares, referendos e plebiscitos, além das eleições regulares.
…e oposição precisa se organizar
Os grupos de direita estão divididos. A principal força é encabeçada pela extrema direita, que teve o melhor resultado entre os opositores nas eleições presidenciais de 2024. Essa ala é liderada pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado, que pede desde o começo do ano a abstenção dos eleitores.
Segundo ela, a “derrota do regime” será dada com os “centros de votação vazios”. Em entrevistas recentes, ela repetiu o discurso de anos anteriores e disse que nunca houve uma oportunidade “tão grande” de conseguir fazer uma transição de governo no país.
Outro grupo da direita pede o voto como uma “arma fundamental” para derrotar o governo. Essa ala é liderada por Henrique Capriles. Ele foi governador do estado de Miranda, na região central da Venezuela, e candidato presidencial das eleições de 2012 contra Hugo Chávez e 2013 contra Nicolás Maduro, perdendo as duas. Capriles foi inabilitado em 2017 por 15 anos no país acusado de cometer delitos administrativos durante seu mandato como governador (2008-2017).
Agora, ele afirma que a sua inabilitação foi suspensa e será candidato a deputado. De acordo com Capriles, é preciso participar para garantir a disputa com o chavismo pelas vias eleitorais. De acordo com ele, essa é a única ferramenta que a direita tem de chegar ao poder, já que se mostrou enfraquecida nos últimos anos. Ele, no entanto, critica a falta de informação sobre o pleito.
“O Governo quer que esta seja uma eleição clandestina no próximo domingo, porque o Governo fez o oposto do que deveria fazer, que é fornecer informações sobre as eleições. Tem gente que nem sabe que vai ter eleição”, afirmou.