
A intensificação de eventos climáticos extremos — como tempestades, secas e variações bruscas de temperatura — tem pressionado o setor de distribuição de energia em todo o mundo. No Brasil, esse cenário exige uma transformação estrutural: não basta reforçar a infraestrutura existente. É preciso redesenhar as redes de distribuição de energia com base em três pilares: digitalização, descentralização e interoperabilidade.
É o que defende Mark Granaghan, engenheiro americano e referência global em modernização do setor elétrico. Ele será um dos destaques do SENDI 2025, principal evento latino-americano de distribuição de energia elétrica, promovido pelo Instituto Abradee e realizado pela Cemig entre os dias 27 e 30 de maio, em Belo Horizonte.
Energia em foco: digitalização e interoperabilidade como base da nova rede
Granaghan ressalta que a digitalização da distribuição de energia, com sensores, medidores inteligentes e comunicação em tempo real, é hoje o alicerce para as mudanças mais relevantes no setor. Combinados com inteligência artificial, esses dados permitem antecipar falhas e otimizar a operação da rede elétrica.
“Agora o desafio é garantir que todos os agentes do ecossistema — das grandes distribuidoras a comunidades locais — operem de forma coordenada. Para isso, é essencial que os diferentes sistemas se comuniquem entre si. Daí a importância de padrões técnicos e da interoperabilidade”, afirma o especialista.
O presidente da Abradee, Marcos Madureira, reforça que a distribuição de energia no Brasil precisa ser cada vez mais preparada para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. A associação estima mais de R$ 145 bilhões em investimentos até 2028 destinados à modernização, manutenção e ampliação das redes.
Entre as medidas necessárias, Madureira cita o planejamento urbano integrado, a escolha de espécies arbóreas compatíveis com a infraestrutura elétrica, investimentos em redes automatizadas e a atuação coordenada das distribuidoras em situações extremas, como a tragédia climática no Rio Grande do Sul em 2024.
Sobre o enterramento das redes elétricas, frequentemente sugerido como solução, Madureira pondera que embora aumente a resiliência, o custo pode ser até 10 vezes maior do que o das redes aéreas, exigindo avaliação técnica e econômica criteriosa.
Setor de energia: Cemig lidera investimentos em Minas Gerais com foco em resiliência
A Cemig é um dos exemplos de distribuidoras que já adotam uma estratégia clara de modernização da distribuição de energia elétrica. A empresa mineira está investindo R$ 6 bilhões até 2027 para tornar sua rede mais robusta e inteligente.
Entre as iniciativas, estão a instalação de equipamentos automatizados, redes compactas protegidas, uso de drones, religadores automáticos e plataformas de gerenciamento em tempo real. Desde 2023, essas ações reduziram significativamente o tempo médio de interrupção por cliente, especialmente em áreas urbanas mais vulneráveis.
A empresa também instalou um radar meteorológico em Mateus Leme (MG), com alcance de 450 km. O equipamento permite prever chuvas fortes com até quatro horas de antecedência, possibilitando a mobilização proativa das equipes técnicas.
Energia solar com armazenamento entra na rede de distribuição
Outra iniciativa da Cemig, considerada inédita no Brasil, é o desenvolvimento de um sistema de geração solar com armazenamento de energia integrado à rede de distribuição. A proposta é oferecer mais estabilidade no fornecimento e reduzir a duração de interrupções.
Segundo Marney Antunes, vice-presidente de Distribuição da Cemig:
“A integração de redes inteligentes, monitoramento climático e automação de processos operacionais amplia a capacidade da distribuidora de responder rapidamente a eventos severos. São investimentos que aumentam a segurança da rede e a qualidade do serviço prestado à população.”
Desafios exigem inovação e ação coordenada
Diante de um ambiente climático cada vez mais desafiador, o setor elétrico brasileiro avança em uma direção clara: modernizar a distribuição de energia com base em inovação, eficiência e interoperabilidade. A integração entre planejamento urbano, tecnologia e padrões técnicos é o caminho para garantir a resiliência do sistema e a segurança do fornecimento nos próximos anos.
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