
O Ibovespa superou os 140 mil pontos pela primeira vez na história nesta segunda-feira (19), atingindo a máxima intraday de 140.079 pontos. O movimento reflete a continuidade da recuperação dos ativos domésticos e consolida o segundo recorde nominal em menos de uma semana, reforçando a percepção de uma mudança no humor do mercado.
Mas o avanço da bolsa em 2025 não se resume apenas ao desempenho em reais. De acordo com Josilmar Cordenonssi Cia, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, quando dolarizado, o desempenho do Ibovespa surpreende ainda mais: alta de 27,34% no ano, ante quedas de 8,49% e 9,97% nos índices americanos S&P500 e Nasdaq, respectivamente. “Apesar do recorde do Ibovespa, o Brasil vai na contramão dos manuais de finanças. Aqui, o ativo de menor risco — a LFT — gerou 15% em dólar no ano, quase o mesmo do Ibovespa. O cenário atual abala muitas das convicções que usamos para projetar o futuro”, afirma o economista.
Segundo ele, esse cenário evidencia que o conservadorismo do investidor brasileiro não é uma escolha cultural, mas consequência direta de um ambiente de negócios instável e taxas de juros persistentemente elevadas: “Enquanto as contas públicas não estiverem controladas, a dívida em trajetória de queda, e a Selic não cair para níveis civilizados, o melhor investimento ainda será o título público”, analisa Josilmar. “Investir no Brasil é um ato de extrema coragem.”
Ibovespa nominal x Ibovespa real
Apesar da marca histórica, o economista Juan Schiavo, sócio da Cimo Family Office, lembra que o Ibovespa ainda está longe das máximas reais e dolarizadas registradas em 2008. “Corrigido pela inflação, o recorde de 2008 representaria hoje mais de 191 mil pontos. Ou seja, mesmo com os 140 mil de agora, o índice ainda tem um espaço de valorização de mais de 30% para retomar seu topo real”, afirma Schiavo.
O analista reforça que o índice brasileiro continua negociando a múltiplos descontados, com P/L de cerca de 8 vezes os lucros projetados, e que o maior risco para o avanço das ações segue sendo o ambiente fiscal e os juros reais elevados.
Aposta estrangeira e realocação tímida
Na visão de Marco Saravalle, economista-chefe da MSX Investimentos, o principal motor da alta recente tem sido o fluxo internacional. “Quem está aproveitando o rally é o investidor estrangeiro. O local ainda está fora da bolsa. A renda fixa continua sendo o destino principal do capital doméstico, e isso limita o potencial imediato de alta”, observa.
Para ele, parte da recuperação está relacionada à reversão de uma visão extremamente pessimista sobre o Brasil no final de 2024. “Os preços estavam muito distorcidos, com um desconto excessivo. A correção dessas distorções explica boa parte da performance recente”, explica Saravalle.
Longo prazo ainda pede cautela
Apesar do otimismo de curto prazo, a visão estrutural ainda carrega alertas. A rentabilidade de ativos considerados livres de risco — como a LFT, que rendeu 15,03% em dólar no ano — desafia os manuais tradicionais da teoria financeira. O que se observa, na prática, é um cenário em que a renda fixa de curto prazo tem vencido a renda variável, mesmo em anos de valorização da bolsa.
O professor Josilmar chama atenção para o papel do câmbio nessa conta. A valorização do real frente ao dólar — cerca de 9% no ano — teve um impacto direto na comparação de rentabilidades. “Muitas análises ignoram esse ponto crucial. A cotação do dólar passou de R$ 6,19 para R$ 5,63. Isso muda completamente a fotografia”, explica.
Ainda assim, ele alerta que o momento exige prudência: “O investidor precisa olhar para horizontes mais longos. As mudanças podem ser transitórias ou estruturais, mas só o tempo mostrará.”
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