A defesa de reposição salarial e da saúde foram algumas das pautas levadas às ruas do centro de Porto Alegre por servidores e servidoras públicas do Rio Grande do Sul, na manhã desta sexta-feira (16). O ato convocado pela Frente dos Servidores Públicos (FSP/RS) teve adesão de 25 entidades sindicais que marcharam da frente da sede do Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (Ipe Saúde), na avenida Borges de Medeiros, até o Palácio Piratini. A estimativa dos organizadores é que cerca de 3 mil manifestantes participaram da mobilização.
“O ato hoje da Frente dos Servidores é uma pauta que nos unifica, a questão das perdas salariais que nós tivemos no último período, que foram mais de 70% desde 2014, e nós estamos pedindo uma reposição salarial de 12,14% para todos os servidores públicos, com base nos apontamentos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Chega de massacrar aposentados, chega de massacrar servidores públicos. Juntos à unidade e também em defesa do serviço público”, ressaltou a presidente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers Sindicato), Rosane Zan.

De acordo com a dirigente, o congelamento salarial tem afetado o poder de compra no último período, não somente da educação, mas dos demais servidores públicos, principalmente da saúde, da segurança e da educação. “Eles foram os mais taxados por parte do governo. Nós precisamos ter essa revisão geral de salários, outros estados da federação, anualmente, dão revisão geral de salários”, afirma Zan.

Aposentados há 10 anos sem reajuste
A mobilização chamou atenção para a situação dos aposentados no estado. Segundo os manifestantes, fora a reposição geral de 6% promovida pelo governador Eduardo Leite (PSD) em 2022, há dez anos os aposentados não têm ajustes na remuneração. “Tem casos de servidores e servidoras, aposentados sobretudo, que há 10 anos, ganhavam mais do que hoje, e que agora , por conta desse cenário de arrocho que é provocado pela política de desmonte do estado do governador Eduardo Leite e dos seus aliados vivem uma situação preocupante. É por isso que estamos na luta, na defesa do serviço público e na defesa também dos servidores e das servidoras”, ressaltou o dirigente do Sindicato dos Servidores da Justiça do RS (Sindjus/RS), Fabiano Salazar.
Salazar também observou a dificuldade dos servidores participarem das manifestações. “Tem cada vez menos servidores públicos na estrutura do estado, e cada vez mais cargos comissionados (CCs). Cada vez mais servidor que depende de função gratificada (FG), que não pode abandonar o seu local de trabalho, que ganha a sua verba indenizatória, que passa por avaliação de desempenho. Então as pressões são cada vez maiores.”
De acordo com o governo estadual, a administração direta do Poder Executivo tem atualmente 118,6 mil servidores na ativa, contra 162 mil inativos. Em 2011, eram 147,6 mil ativos para 132,7 mil inativos.

O presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul (Ugeirm), Issac Ortiz, chamou atenção para a situação da segurança pública no estado, como Polícia Civil, Brigada Militar, Polícia Penal, Instituto Geral de Perícias (IGP) e bombeiros. “Estamos aí amargando o arrocho salarial. A nossa categoria tem dado para esse governo excelente trabalho, em contra partida ele retribui como desprezo. Um governador que nunca nos recebeu pra tratar de segurança pública.”
Conforme ressaltou o dirigente, os trabalhadores de segurança pública estão sendo feridos e morrendo em conflitos , mas mesmo assim segue lutando. “O trabalhador da segurança pública, quando morre, a família fica mais de cinco anos sem receber a pensão, é essa herança que o governo deixa para nós. Temos que unir, temos que fazer uma grande manifestação de novo.”

Em defesa do Ipe Saúde
Outra pauta enfatizada na manifestação desta sexta-feira foi a defesa do Ipe Saúde, que atende cerca de 1 milhão de servidores e seus dependentes em todo estado. Segundo os manifestantes, oiInstituto está sucateado, e a reestruturação que houve há dois anos não se configurou na melhoria da prestação dos serviços para os servidores e as servidoras.
“O Ipe é fundamental para o sistema de saúde do estado, e a luta é justa e necessária. Mas o Ipe não terá solução se não tiver reposição salarial e política salarial, porque o Ipe sobrevive de parte do nosso salário. O nosso salário não aumenta, mas os insumos hospitalares aumentam, o bloco cirúrgico aumenta, a consulta médica aumenta, e o nosso salário está congelado há mais de uma década”, enfatizou o presidente do Sindicaixa, Érico Corrêa.

A Frente dos Servidores planeja realizar quatro grandes atos em todo o estado, culminando em uma mobilização na frente do Palácio Piratini em julho, para pressionar o governo a atender suas demandas.
“O Sindicaixa comemora o vitorioso ato de hoje! Somos construtores de primeira hora da unidade, e assim, contar com 25 entidades participando já é uma vitória! Mas fomos além: construímos um ato gigante, o maior, sem dúvida, dos últimos tempos. Eduardo Leite merece! Um governador carrasco, carreirista e que condena os servidores à miséria, está sucateando os serviços públicos e coloca sob risco a própria existência do Ipe Saúde. A luta seguirá, faremos quatro atos regionais (Pelotas, Passo Fundo, Santo Ângelo e Santa Maria) no mês de junho e um novo ato estadual em meados de julho, com mais força e mais disposição.”

O Brasil de Fato RS solicitou um posicionamento acerca das denúncias dos servidores, em resposta a Casa Civil do RS declarou em nota que “manifestações fazem parte da democracia e da liberdade” e que “nenhum ofício foi protocolado na Casa Civil nesta sexta-feira (16) por conta de ação realizada na praça da Matriz”.

*Com a colaboração de Rafa Dotti
