
Durante sua recente visita ao Oriente Médio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou a possibilidade de retomar negociações para um acordo nuclear com o Irã — uma iniciativa que, se concretizada, representará uma importante mudança na estratégia geopolítica americana.
A medida reacende não apenas o debate sobre a estabilidade regional, mas também coloca em xeque o posicionamento tradicional dos EUA ao lado de Israel, especialmente do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que historicamente defende uma postura hostil em relação ao regime iraniano.
Irã pode ser peça-chave para Trump corrigir erro diplomático de 2018
Segundo o professor de relações internacionais Marcus Vinicius de Freitas, o possível novo acordo seria uma tentativa de reconstruir pontes diplomáticas que foram rompidas pelo próprio Trump. Ele relembra que o acordo original com o Irã foi firmado durante o governo de Barack Obama, mas foi rompido unilateralmente pelos Estados Unidos em 2018, sob comando de Trump.
“Sem os Estados Unidos, os demais signatários do acordo não conseguiram avançar na implementação de medidas concretas. O Irã passou a desconfiar da confiabilidade americana no processo”, avalia o professor.
De acordo com De Freitas, o rompimento gerou instabilidade diplomática e afastou o Irã de qualquer compromisso verificável com o controle de seu programa nuclear. Agora, ao demonstrar abertura para retomar as negociações, Trump pode estar buscando solucionar um problema geopolítico que ele mesmo agravou durante sua gestão.
Netanyahu resiste à reaproximação entre Estados Unidos e Irã
Para Israel, a sinalização de diálogo entre EUA e Irã é vista com preocupação. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vinha defendendo, inclusive, uma linha mais dura e a possibilidade de ações militares contra Teerã.
“Netanyahu sempre considerou o Irã como um inimigo direto e esperava uma escalada com apoio total dos EUA. O movimento de Trump sinaliza um distanciamento claro”, analisa Marcus Vinicius de Freitas.
O professor destaca que a tensão gerada por essa possível reaproximação pode fragilizar a tradicional aliança entre Estados Unidos e Israel, especialmente em um momento de instabilidade na região e com as eleições americanas se aproximando.
Interesse econômico pode motivar aproximação dos EUA com o Irã
Além das motivações diplomáticas, De Freitas aponta que Trump tem interesses econômicos nessa aproximação. Durante sua viagem ao Oriente Médio, o presidente teria buscado apoio financeiro e investimentos para os Estados Unidos, em meio a uma crescente preocupação com a dívida pública americana e os juros elevados.
“Embora haja uma percepção de que a economia americana vai bem, a dívida e os vencimentos de juros este ano são fatores de preocupação real. Trump sabe que precisa de fôlego econômico e está tentando captar apoio no Golfo”, afirma.
Nesse contexto, retomar um acordo com o Irã também pode representar uma estratégia pragmática para desarmar tensões e manter a estabilidade energética, o que afeta diretamente os preços do petróleo e a inflação global — temas sensíveis para o eleitorado americano.
Acordo com o Irã impõe dilema entre pragmatismo e alianças históricas
Para Marcus Vinicius de Freitas, o momento é crucial para os Estados Unidos definirem sua postura no Oriente Médio. Se por um lado, um acordo com o Irã poderia reduzir tensões e reforçar a imagem de liderança diplomática, por outro, há o risco de romper alianças tradicionais e enfraquecer a confiança de parceiros como Israel.
“Estamos diante de um dilema típico da realpolitik: manter fidelidade a antigos aliados ou adotar uma postura pragmática que atenda aos interesses econômicos e de estabilidade”, pondera.
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O post EUA podem retomar acordo com Irã e reequilibrar cenário no Oriente Médio apareceu primeiro em BM&C NEWS.