
Ocorrência foi filmada por morador. Prefeitura do município afirma que agentes foram ‘recebidos com hostilidade, sendo alvo de rojões e pedradas por parte de alguns participantes da festa’, mas os moradores negam. Prefeitura de Diadema afasta 5 GCMs após denúncia de agressão
A Guarda Civil Municipal de Diadema informou, nesta sexta-feira (16), que afastou cinco agentes por envolvimento num episódio de agressão a moradores, durante uma festa de Dia das Mães no bairro Serraria.
A ação foi filmada por um morador da região (veja vídeo abaixo). Nas imagens, os guardas aparecem agredindo as pessoas com golpes de cassetete e jatos de spray de pimenta.
Moradores relatam agressões por GCMs durante festa em SP no Dia das Mães
A Prefeitura de Diadema afirmou que a GCM foi acionada após uma denúncia de perturbação de sossego durante a madrugada e que os “agentes foram recebidos com hostilidade, sendo alvo de rojões e pedradas por parte de alguns participantes da festa”. O município disse, ainda, que três guardas ficaram feridos e uma viatura danificada (íntegra abaixo).
Os moradores, no entanto, dizem que tudo aconteceu por volta das 20h de domingo.
No registro, é possível ver diversos agentes promovendo um “quebra-quebra” em parte da estrutura da festa;
Enquanto um GCM dá golpes de cassetete na porta de um comércio, uma outra agente destrói um tenda e, em seguida, joga spray de pimenta em um grupo de pessoas que presenciava a cena e até dentro do estabelecimento;
Depois, a mesma pessoa pega uma viga de madeira e bate contra o estabelecimento;
Um outro guarda passa a distribuir golpes de cassetete nas pessoas na tentativa de afugentá-las;
Ao menos nessa filmagem, nenhuma das pessoas esboça reação contra os agentes;
Algumas das pessoas entram em uma quadra e passam a fugir por meio de um buraco na grade;
Em determinado momento, apenas um casal e um GCM ficam dentro da quadra, e o agente parece dar a ordem para que eles passem pela grade;
Enquanto passa pelo buraco, o rapaz recebe mais um golpe de cassetete nas pernas.
O g1 conversou com algumas pessoas que estavam na festa e foram agredidas. Elas preferiram não se identificar por medo de sofrer represálias.
“Fui agredido sem fazer nada. Fui conversar com o policial e ele me deu uma cacetada. Ele ainda falou ‘sai daqui, satanás’. Me chamou de satanás ainda”, lamentou um jovem.
Ele é o rapaz que aparece de boné branco nas imagens levando dois golpes de cassetete na perna. No vídeo, ele aparece ao lado do portão da quadra observando a ação dos GCMs. Quando uma agente joga spray, ele se afasta. Em seguida, ele é obrigado a sair do espaço por um buraco na grade e leva dois golpes.
O jovem contou que, depois, ainda foi agredido com outro golpe nas costas. Ele enviou a imagem do hematoma:
Hematoma na região das costas
Arquivo pessoal
Pai de um comerciante do bairro, um idoso também relatou ter sido empurrado e ameaçado por agentes. “Os policiais vieram com muita truculência, estavam muito nervosos. Chegaram batendo em todo mundo. A gente estava curtindo um forró num barzinho, um pagodinho no outro. Era Dia das Mães, tinha bastante gente, criança na rua, gente de família mesmo. Me oprimiram, falaram para eu ir para casa ou tomaria um porrete na cara. Eram oito da noite”, relatou.
“Quase morri com falta de ar. Até hoje ainda sinto dor na cabeça e uma tosse que não passa. Falta de respeito. Eles vêm para cima da gente como se a gente fosse lixo. A gente fica coagido, sendo oprimido”, relatou uma moradora.
Ela relatou ter passado muito mal após ser atingida por um jato de spray de pimenta no rosto, o que foi registrado em vídeo. Afirmou ainda ter sido agredida no braço, ficando com um hematoma no local.
Hematoma na região do braço
Arquivo pessoal
“Fui agredida no domingo também, sem fazer nada! Não tinha carro de música! Era só família em comemoração do Dia das Mães. Opressão e desrespeito”, lamentou outra moradora.
“Fui para o pagode, eu e minha namorada, tinham poucas pessoas, estava super tranquilo. Fui porque gosto de samba. Do nada, a GCM chegou quebrando as coisas, começou a correria, a galera ficou assustada tentando sair daquela situação. Eu corri sentido a quadra e tacaram spray de pimenta no nosso rosto sem necessidade alguma. Ninguém reagiu a nada e, mesmo assim, agiram com total violência e desrespeito”.
Morador mostra hematoma no braço
Arquivo pessoal
Na última terça-feira (13), guardas civis retornaram ao bairro em uma ação onde aparecem abordando pessoas pelas ruas. Moradores relataram ao g1 que os agentes voltaram ao local para coagi-los e ameaçá-los em razão da divulgação dos vídeos das agressões nas redes sociais.
A prefeitura de Diadema nega. O município diz que a GCM esteve no local porque recebeu uma denúncia de tráfico de drogas, mas não encontrou nada.
Em nota sobre a ocorrência na noite do Dia das Mães, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que o caso é investigado pelo 4º DP de Diadema como lesão corporal e dano. “Guardas civis informaram que, durante uma ação na noite de domingo (11), na Rua Francisco Antônio da Silva, foram atacados com garrafas, pedras e artefatos, e tiveram sua viatura danificada. Um agente foi ferido na perna. Foram solicitados exames aos IC e IML. A equipe policial realiza diligências para esclarecer os fatos”.
A prefeitura informou que uma viatura foi danificada pelos moradores. Na mesma noite, a GCM apreendeu diversos veículos no bairro (fotos abaixo).
Viatura da GCM em Diadema
Reprodução
Veículo apreendido em Diadema
Reprodução
Raio-x da GCM de Diadema
A cidade teve sua Guarda Civil criada em 1999, conta com 307 agentes da GCM, sendo 254 homens e 53 mulheres, que representam 17,3% do efetivo.
Os agentes passam for 160 horas de treinamento com o armamento. A corporação preferiu não informar a quantidade de armas que possui, mas afirmou que tem 37 viaturas disponíveis.
A GCM de Diadema faz metade das horas de treinamento com armas da Polícia Militar. Segundo levantamento do g1, durante as 52 semanas de treinamento inicial da PM, os agentes passam por 326 horas na matéria de Tiro Defensivo. Já a média dos guardas-civis é de 150 horas considerando o tempo de treinamento das cidades de São Paulo, Diadema, Guarulhos, Mauá, Osasco, Santo André e São Bernardo do Campo.
O que diz a Prefeitura de Diadema
“Em relação ao ocorrido na madrugada do dia 12 de maio, informamos que a “festa” descumpria normas relacionadas à segurança e à perturbação do sossego público. Diante disso, a Guarda Civil Municipal de Diadema foi acionada através de denúncia de moradores para intervir. Ao chegar ao local os agentes da GCM foram recebidos com hostilidade, sendo alvo de rojões e pedradas por parte de alguns participantes da festa, resultando, inclusive, em três guardas feridos (um dos agentes permanece afastado) e uma viatura danificada. Diante da situação de risco, foi necessário o uso de meios de contenção — como spray de pimenta e bastões — para dispersar os agressores e preservar a segurança dos próprios agentes e da população do entorno.
Reiteramos que as ações da GCM foram uma resposta à agressão sofrida e que a Guarda Civil Municipal de Diadema atua com base nos princípios da legalidade, proporcionalidade e respeito aos direitos fundamentais. Informamos também que o município está com uma forte ação de combate aos pancadões da cidade, que são aglomerações irregulares que fecham as ruas com utilização de som alto, uso de drogas e importunação do sossego.
Sobre hoje, encaminhamos anexo vídeo de inspeção da GCM feita hoje no local após denúncia de tráfico de drogas no local. Veja que o GCM abordou alguns transeuntes somente solicitando documentos. A Prefeitura de Diadema informa que continuará combatendo os pancadões da cidade”.