Como a corrupção no INSS expõe as feridas do Estado brasileiro

O brasileiro se deparou com a revelação de um esquema de corrupção em um dos órgãos mais sensíveis da administração pública: o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A operação da Polícia Federal identificou um esquema bilionário de concessão fraudulenta de aposentadorias e, mais grave, o uso criminoso de dados de beneficiários para obtenção indevida de empréstimos consignados. Estima-se um prejuízo superior a R$ 1 bilhão aos cofres públicos, mas o dano real — institucional, econômico e social — é incalculável.

Essa investigação escancara, mais uma vez que o Estado brasileiro se tornou uma estrutura tão inchada e vulnerável à corrupção que, muitas vezes, opera contra o interesse público.

E, quando se trata do INSS, os efeitos são ainda mais perversos, porque afetam os mais vulneráveis, aposentados, pensionistas e pessoas com deficiência, que dependem da previdência para sobreviver.

O que está por trás do escândalo?

Segundo as investigações, servidores públicos facilitavam o acesso indevido a benefícios previdenciários em troca de propina. Paralelamente, dados de beneficiários legítimos eram usados para contratar empréstimos consignados sem autorização.

Ou seja, há um duplo golpe: contra o sistema previdenciário, que já opera no limite da sustentabilidade fiscal, e contra o cidadão, que muitas vezes só descobre que tem um empréstimo em seu nome quando o desconto já está feito.

Isso não é apenas um caso de má conduta funcional. Trata-se da captura do Estado por interesses criminosos. A corrupção aqui não é um desvio pontual, é uma engrenagem operando dentro da máquina pública. E quando isso acontece, há um sintoma claro de um problema maior: a falência do modelo estatal que privilegia o controle centralizado e a impunidade, em vez da eficiência, da meritocracia e da responsabilização.

A falácia do “mais Estado”

Durante décadas, parte da intelectualidade e da política nacional alimentou a ideia de que mais Estado significava mais justiça social. Como resultado, o cenário atual é de um aparato estatal gigantesco, mal gerido, com baixa produtividade e custo elevadíssimo.

E, como mostram escândalos como esse do INSS, esse mesmo Estado, que deveria proteger os mais fracos, se torna o instrumento de sua exploração.

Não se trata de demonizar o setor público, mas de reconhecer que o modelo estatal atual está falido. Quando se permite que servidores públicos atuem como atravessadores de fraudes, e não como garantidores de direitos, todo o contrato social é corroído. A consequência é um ambiente de desconfiança generalizada, no qual cidadãos duvidam do Estado, e investidores, do país.

Corrupção tem custo e quem paga é o povo

Para cada real desviado, há um hospital que não é equipado, uma escola que não é reformada ou uma obra que não é concluída. Mas o impacto vai além da prestação de serviços públicos.

A corrupção mina a competitividade do Brasil. Ela encarece o crédito, afasta investimentos, aumenta o risco regulatório e pune, com ainda mais burocracia, quem tenta empreender de forma honesta.

No caso específico dos empréstimos consignados, a fraude gera também uma distorção financeira grave. A inadimplência artificial, provocada por contratos fraudulentos, desestabiliza instituições financeiras e pressiona a elevação das taxas de juros para todos, inclusive para os tomadores legítimos. Ou seja, mais uma vez, o bom pagador, o empresário sério e o trabalhador formal pagam a conta.

A urgência de uma reforma ética

Não é possível falar de reforma administrativa, reforma previdenciária ou reforma tributária sem colocar a ética como eixo central. O Brasil precisa rever os mecanismos de fiscalização, auditoria e responsabilização dentro da máquina pública. Servidores públicos devem ser valorizados, sim, mas também devem estar sujeitos a métrica de desempenho, compliance e consequências claras em caso de desvios.

A iniciativa privada, por sua vez, tem um papel fundamental nesse processo. Empresas sérias devem se posicionar, exigir transparência, apoiar medidas de integridade e recusar qualquer tipo de facilitação ilícita.

É hora de fortalecer a cultura do “não” à corrupção, mesmo que isso signifique renunciar a vantagens no curto prazo. A construção de um país viável exige sacrifícios e princípios inegociáveis.

Conclusão

Não haverá crescimento sustentável nem justiça social verdadeira enquanto a corrupção seguir corroendo o Estado. A fraude no INSS não é um caso isolado, é um sintoma sistêmico. E, como qualquer doença, exige tratamento sério — com medidas estruturais, firmeza institucional e, sobretudo, vontade política.

O setor produtivo precisa ser protagonista desse processo. Porque, no fim das contas, é sempre o Brasil que produz, que emprega, que inova, que paga impostos e quem sustenta o Estado. E já passou da hora de exigir que esse Estado, ao menos, funcione.

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