O impacto da COP30 na elevação dos preços de hospedagem em Belém

A Conferência das Partes (COP) é um megaevento com desdobramentos econômicos e sociais e, para o turismo e a economia urbana, a realização dos diversos encontros que ocorrem na fase preparatória, durante e pós-evento traz um significativo impacto na cidade anfitriã. De acordo com dados divulgados em veículos de comunicação governamentais e empresariais, a expectativa é que Belém receba cerca de 50 mil participantes. Sendo assim, é necessário uma série de investimentos em infraestrutura e serviços urbanos.

Com isso, a cidade vivencia uma intensa procura por hospedagens por parte de comitivas e delegações de países membros, dentre outros atores, tais como jornalistas, movimentos sociais e ativistas ambientais. Isso tem feito disparar os preços de hospedagem, tanto na rede hoteleira como nas locações por temporada, fato que tem sido divulgado nos principais veículos de comunicação locais, nacionais e internacionais.

Nesse sentido, desde 2023, quando o evento foi oficialmente anunciado pelo governo federal, tanto a hotelaria convencional quanto o aluguel de imóveis por temporada vêm sofrendo uma série de incentivos e especulações. O primeiro, equipamento essencial para a formatação do produto turístico de determinado destino, agrega estabelecimentos comerciais como hotéis, hostels e pousadas. O segundo, por sua vez, difere de um equipamento tradicional de hospedagem e tem legislação específica, que considera a locação para temporada como um tipo de contrato de locação destinado à residência temporária. Esse contrato tem prazo máximo de noventa dias, independentemente de o imóvel ser mobiliado ou não. A locação por temporada pode ser praticada tanto por pessoa física quanto por pessoa jurídica, cuja formalização pode ocorrer diretamente entre o proprietário e o hóspede ou por intermédio de um atravessador.

Segundo dados do Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur), até o final de 2024, Belém registrava 92 empresas de hospedagem. Recentemente, em fevereiro de 2025, essa soma aponta 119 empreendimentos.

A presença de organizações empresariais internacionais de hotelaria, mesmo não sendo recente, ganha notoriedade a partir do final dos anos 2000, com a presença de grupos como as redes francesas Accor (responsável pelas bandeiras Ibis, Mercure e Formule 1, atual Ibis Budget) e Tulip Inn; a administradora multimarcas Rede Atlântica Hotels (parceira dos grupos Choice Hotels, Radisson Hotel Group, Hilton e Wyndham); bem como grupos de origem nacional com unidades em diferentes pontos do país, como a Rede Stada Hotels e Andrade Hotéis. Em 2017, a Rede Bristol Hotéis e Resorts instalou empreendimento no bairro Umarizal, na área central da cidade.

Esses e alguns hotéis independentes localizaram-se em bairros da área central, como Batista Campos, Campina, Reduto e Nazaré, onde o solo urbano é valorizado por camadas de maior poder aquisitivo da população e turistas, concentrando prédios de escritórios e de serviços públicos, shopping centers, pontos turísticos, além de outras amenidades.

Já o mercado de aluguel de imóveis por temporada conta com diversas plataformas de comercialização, físicas e virtuais. O Airbnb e a Booking.com são as organizações empresariais internacionais mais conhecidas e utilizadas por viajantes que buscam hospedagem por meio de ferramentas digitais. A primeira, sediada nos Estados Unidos, e a segunda, na Holanda, integram circuitos espaciais e tecnológicos hegemônicos de produção do turismo, estabelecendo relações comerciais das mais variadas com operadores turísticos, hoteleiros e proprietários de imóveis, capazes de alcançar o consumidor final sem precisar da intermediação de atravessadores.

As propostas comerciais do Airbnb e da Booking.com popularizaram-se em vários países como modelos de negócios que ainda possuem pouca ou quase nenhuma legislação, como é o caso do Brasil. A respeito do Airbnb, os estudos recentes mostram que, no ano de 2019, Belém já contava com algo em torno de 274 imóveis registrados no portal eletrônico, número que subiu para 437 no final de 2020. Em junho de 2021, registrou-se mais de 500 imóveis disponíveis para locação, número que se elevou para 604 em agosto de 2022.

De acordo com dados do site AirDNA, que atua no fornecimento de dados e análise para investimentos em imóveis de aluguel por temporada, Belém encerrou o ano de 2024 com cerca de 1.800 imóveis cadastrados no Airbnb. No mês de fevereiro de 2025, esse número sofreu um salto para 1.900 imóveis registrados. A grande elevação das ofertas desse tipo de imóvel para hospedagem se deu em Belém, havendo pouca participação dos demais municípios da Região Metropolitana, com exceção de Ananindeua, que passou de 136 imóveis em 2024 para 160 imóveis em fevereiro de 2025.

Belém: número de imóveis cadastrados no Airbnb

Esses números diferem da expectativa apresentada pelo poder público para a COP30, conforme vem sendo amplamente noticiado pelas agências de notícias do governo estadual, que apontam mais de 4.500 imóveis registrados no Airbnb até o momento. A parceria entre o Governo do Pará e a plataforma Airbnb foi anunciada em novembro de 2023, com vistas ao incremento do turismo e ao aumento no número de leitos de hospedagem durante a COP30.

Conforme dados da Agência Pará de Notícias, em 2024, o Airbnb apontou que a plataforma impactou positivamente a economia de Belém, contribuindo para o acréscimo de R$ 91 milhões no PIB da cidade. Além disso, em 2025, por meio da “Rota Isso é Pará”, com roteiros disponíveis para os municípios de Belém, Bragança, Salinas, Santarém e Marajó, os representantes da plataforma apontam um salto de 54% no número de leitos disponíveis.

A expectativa do governo federal é gerar cerca de 26 mil novas acomodações até a COP30, adotando estratégias que já aconteceram em outras COPs, a exemplo do lançamento de uma plataforma oficial, prevista para começar a operar em breve, cuja pretensão é manter um portfólio de unidades para locação na rede hoteleira, casas e apartamentos que serão disponibilizados para as pessoas credenciadas no evento.

Outra ação anunciada será o suporte à construção e reforma de hotéis. Dentre os recursos disponíveis, destacam-se 172 milhões de reais via Fundo Geral de Turismo (Fungetur). Prevê-se ainda o suporte das Forças Armadas com aproximadamente 2,3 mil leitos e de 17 escolas adaptadas como alojamentos, que poderão abrigar mais de 5 mil pessoas.

O governo federal também trabalha com a previsão de utilizar navios de cruzeiro, previstos para atracar em Belém e que podem oferecer cerca de 4.500 leitos. Além disso, novos hotéis podem resultar no acréscimo de mais de 1.000 acomodações. O Porto da Ilha de Caratateua, também conhecida como Outeiro (Distrito de Belém), foi definido como ponto estratégico para a atracagem de transatlânticos, visto que já opera e demanda poucas adequações — o que não envolve dragagem, problema encontrado para realizar essa ação no Porto de Belém, na área central, anteriormente escolhido para alocar os cruzeiros.

Dentre os novos empreendimentos de redes hoteleiras, encontram-se as marcas Vila Galé, com previsão de instalação de 206 apartamentos, em espaço de alto padrão localizado às margens da Baía do Guajará, nos galpões do Porto Futuro II, projeto de intervenção do governo estadual. O Governo do Pará definiu ainda que a empresa Roma Incorporadora ficará responsável pela reconstrução do antigo edifício da Receita Federal, localizado nas proximidades do Porto de Belém e que estava abandonado desde 2013, quando o edifício passou por um incêndio, com fins de implementar um hotel com 255 apartamentos em parceria com a rede portuguesa Tivoli — grupo presente em diversos países da Europa, como Portugal, Espanha, Holanda e Itália, além da China e do Brasil, com unidades na Bahia e em São Paulo.

Outro grupo investidor internacional previsto para atuar em Belém, especificamente no bairro do Reduto, é da bandeira Marriott, que contará com 168 apartamentos com vista para a Praça da República.

O Governo do Pará, em parceria com o governo federal e a prefeitura de Belém, está investindo na construção da Vila COP30, um empreendimento especialmente projetado para acomodar líderes globais, chefes de Estado e representantes das 190 nações que participarão do evento. Com uma área total de 19 mil metros quadrados, a vila contará com cerca de 405 suítes, além de um bloco de serviços que incluirá lobby, escritórios, salas de reunião, restaurante, bar-café, academia e quiosques de artesanato e conveniência. Após a COP30, o local será destinado a abrigar diversos órgãos públicos estaduais, atualmente instalados em prédios alugados, o que poderá contribuir para a otimização da infraestrutura pública.

Com vistas à formação de mão de obra especializada para atuar nos empreendimentos, o Governo do Pará criou o Programa Capacita COP30, voltado para a oferta de cursos de qualificação ligados às áreas de turismo, infraestrutura e serviços. O programa já contabiliza 4,5 mil concluintes dos cerca de 64 cursos implementados. Preocupa a fragilidade dessas formações que, dentre outros fatores, possuem carga horária e prática profissional reduzidas, compreendendo diferentes níveis de escolaridade dos participantes dentro da mesma sala de aula, além da maneira como os resultados das formações serão traduzidos em números que demonstrem o aumento de empregabilidade e do fluxo turístico na capital.

Com a especulação do evento, tem-se projetado um aumento da procura por hospedagem no período da COP30, elevando consideravelmente os preços das diárias de hotéis e do aluguel de imóveis de uso permanente e temporário, cada vez mais disponibilizados para locação a preços exorbitantes, impactando diretamente o fluxo de visitantes e o aluguel de moradias em Belém. Essa prática reflete o fenômeno da especulação imobiliária, que cresce de maneira acentuada, capitaneada por incorporadoras e marqueteiros independentes — não só no meio físico, mas também no ambiente virtual das páginas de internet e redes sociais —, responsáveis por fazer chamadas promocionais espetaculosas que visam seduzir moradores e investidores potenciais que estejam à procura de oportunidades de renda extra durante o evento.

*Ágila Flaviana Alves Chaves Rodrigues é Turismóloga (FACTUR/UFPa), doutora em Desenvolvimento Socioambiental (NAEA/UFPA), Técnica em Gestão de Meio Ambiente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS/PA).

**Marcel Assis Batista do Nascimento é Turismólogo (FACTUR/UFPa), doutorando em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (NUMA/UFPA), Técnico em Gestão de Meio Ambiente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS/PA).

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.