Os eventos climáticos extremos destruíram 22% da vegetação nativa da Mata Atlântica em 2024, conforme os dados da iniciativa MapBiomas Alerta, divulgados nesta quinta-feira (15).
Somente no Rio Grande do Sul, estado atingido pela enchente histórica de 2024, a força das águas desmatou uma área de 2.805 hectares de vegetação nativa, o que corresponde a mais de 3 mil campos de futebol.
Nesse caso, os eventos extremos são, geralmente, fortes chuvas que acabam desencadeando os deslizamentos e escorregamentos. “Mas podem acontecer eventos de fortes ventos que acabam por afetar os remanescentes florestais”, explica Natalia Crusco, pesquisadora da equipe Mata Atlântica do MapBiomas.
A catástrofe levou o Rio Grande do Sul à terceira posição entre as unidades federativas com maior desmatamento na Mata Atlântica no ano passado, atrás apenas de Minas Gerais e Bahia. Em 2023, o estado ocupava a quarta posição.
“Só para ter uma base de comparação, em 2023, no Rio Grande do Sul, a gente teve três eventos de desmatamento associados aos eventos climáticos extremos que totalizaram 2,8 hectares. Para 2024, a gente tem registrado 627 eventos de desmatamento que totalizam 2.805 hectares”, destaca a pesquisadora.
O impacto no estado gaúcho foi tamanho que manteve a Mata Atlântica no mesmo patamar de devastação do ano anterior, enquanto todos os outros biomas registraram queda no avanço do desmatamento em 2024, segundo o levantamento do MapBiomas.
“Então, só para vocês terem uma ideia, em 2023 a gente tinha 150 hectares associados aos eventos climáticos extremos. Em 2024, são 3.022 hectares”, diz Crusco, sobre a Mata Atlântica. Deslizamentos no litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo contribuíram com o dado.

No entanto, as cheias do Rio Grande do Sul representam o maior impacto. Caso esses eventos não tivessem ocorrido, a Mata Atlântica teria registrado uma redução de pelo menos 20% na área afetada em comparação com 2023.
“É um aumento gigante para o bioma”, observa a pesquisadora. No período anterior, entre 2022 e 2023, a Mata Atlântica havia registrado queda de quase 60% na área desmatada. “Entre 23 e 24 foi o bioma que mais é teve área desmatada e isso se deve aos impactos do evento climático extremo que aconteceu lá com altas índices de precipitação (…) Mas a agropecuária ainda continua sendo o vetor de pressão mais evidente dentro da Mata Atlântica”, diz.
Em 2003, as plantações de soja ocupavam mais de 3,5 milhões de hectares no estado. Em 2023, a área dessa monocultura era de cerca de 6,5 milhões de hectares.
Outros cultivos e ações geradoras de desmatamento também avançam pelo estado, como ressalta Cibele Kuss, secretária executiva da Fundação Luterana de Diaconia.
“O comitê de povos e comunidades tradicionais tem denunciado e alertado para os impactos da mineração, da energia eólica, do próprio avanço da silvicultura desenfreada no estado; e o quanto isso também tem diminuído a proteção natural das margens dos rios”, afirma.
Ela ressalta que, com as enchentes de maio de 2024, as margens dos rios ficaram ainda mais expostas. “E hoje precisam ser recuperadas, porque estão muito impactadas pela falta dessa vegetação natural”, diz.