Dia da Família: a história do influenciador Renan Barbosa mostra que amor é inclusão e não tem DNA

Renan (Esq.), Marquinhos (Centro), Silvio (Dir.) e Luísa | Foto: Reprodução / Instagram

Na data em que se celebra os laços familiares, Renan compartilha sua trajetória ao lado de Silvio, jovem com síndrome de Down e outros filhos do coração, mostrando que a verdadeira paternidade nasce do amor e da convivência.

Neste Dia da Família, uma história ganha um significado ainda mais especial. É a do influenciador digital Renan Barbosa, natural de Santa Bárbara, cidade do interior baiano a cerca de 34 km de Feira de Santana. Um jovem sonhador que saiu de casa em busca de oportunidades na publicidade e encontrou muito mais do que isso: encontrou a si mesmo, encontrou filhos e construiu, com afeto, respeito e inclusão, um novo jeito de ser família.

Renan (Esq.), a mãe e Silvio (Dir.) | Foto: Reprodução / Instagram

Renan se mudou para Feira de Santana com o objetivo de estudar Publicidade e investir na carreira de influenciador digital. Seu conteúdo era, no início, voltado para a moda — desfiles, campanhas, ensaios fotográficos. A internet foi uma alternativa para quem vinha de uma cidade com poucas oportunidades, e também uma forma de fazer amizades, criar conexões, explorar novos caminhos.

“Como a minha cidade não oferecia tantas oportunidades relacionadas ao hobby que eu gostava e queria seguir, entendi que a internet poderia ser o caminho para adquirir conhecimento, conhecer novas pessoas e buscar oportunidades – ou, quem sabe, futuras oportunidades. Eu pensava que, por meio dela, poderia fazer amizades com pessoas com interesses em comum e até encontrar gente de Feira de Santana, que era a cidade mais próxima, para talvez conseguir tirar fotos para uma loja, gravar um comercial. Naquele momento, eu não imaginava me tornar um influenciador digital, mas acreditava que a internet poderia me ajudar a fazer novos contatos. Hoje em dia, chamamos isso de ‘networking’.”

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Uma publicação compartilhada por Renan Barbosa (@renanbarbosa.oficial)

Ainda que a moda tenha sido o ponto de partida, ela logo deixou de ser suficiente. Renan percebeu que sua verdadeira missão era maior.

“Eu não queria só vender roupa. Eu queria levar algo intangível. Não era só estética. Eu queria mostrar quem eu sou, além de um rosto bonito. Quis trazer o Renan verdadeiro. O Renan que não precisava ser modelo pra estar na internet. O Renan com essência, com carisma, com brilho. E eu queria que as pessoas vissem isso. E então, logo depois, Silvio entrou na minha vida. Tudo aquilo que eu já sentia, que eu não estava agregando na internet, que eu queria algo intangível, Silvio trouxe e me mostrou”, disse.

Foi nessa fase de transição que a vida deu a Renan um novo papel, o de pai. Mas não de forma convencional. Em 2015, enquanto dava aulas de teatro na Paróquia São João Paulo II, em Feira de Santana, Renan conheceu Silvio, um jovem com Síndrome de Down, que viria a mudar sua vida. Silvio se interessou pelo curso e começou a frequentar as aulas. A conexão entre os dois foi imediata, mas foi no terceiro encontro que tudo mudou.

“Ele chegou com uma carta. Dizia que Jesus tinha revelado para ele que eu era o pai dele. Que eu era tudo que ele sempre procurou”, conta Renan. A carta, impressa numa gráfica local, dizia: “Renan Barbosa é pai verdadeiro de Silvio”. Com um misto de surpresa, emoção e carinho, Renan aceitou o chamado — não por obrigação, mas por afeto.

A paternidade através do amor e da inclusão

Ao contrário do que muitos pensaram, essa relação não começou na internet. “Durante dois ou três anos, vivemos tudo isso no anonimato. A inclusão aconteceu fora das redes, no dia a dia, no lanche que ele trazia, no jeito que arrumava a sala antes da aula. Ele me escolheu. Não fui eu que escolhi. E isso faz toda a diferença.”

Renan se tornou, naturalmente, “pai de Silvio”, título que, ao longo do tempo, se espalhou pela cidade.

“Foi de maneira tão especial porque eu me identifiquei muito com ele. Então, ele começou a frequentar minha casa aqui em Feira de Santana, que foi quando eu já tinha me mudado pra cá. E ele passou a ser o meu melhor amigo. E, claro, se tornou o meu filho. Hoje, a nossa relação é de amigo e filho. Eu entendi que me tornei essa figura paterna pra ele — e eu assumi isso, porque ele já tinha assumido antes. Isso se mostrava no dia a dia, nas ligações com aquele “Bença, Painho”, nos áudios dizendo: “Tô com saudade de meu pai”. Ele espalhou isso pra toda a cidade. Em todos os cantos que ele ia, levava minha foto, mostrava pra todo mundo. E as pessoas começaram a me parar e dizer: “Ah, você é pai de Silvio?”. E eu respondia e respondo: “Sou””, contou Renan.

Hoje, além de Silvio, Renan é pai de mais dois filhos de coração, Marquinhos e Luisa. Nas redes sociais, onde soma mais de 5 milhões de seguidores, sendo 1 milhão apenas no Instagram, ele compartilha sua rotina com humor, leveza e levando a mensagem de inclusão. Seus vídeos viralizam não apenas pelo carisma, mas pela autenticidade, pelo olhar sensível e por mostrar que família é feita de presença, de cuidado, de escolha.

“Silvio não mora comigo porque ele já tem uma família que cuida muito bem dele. Quando o conheci, foi ele quem me adotou. Costumo dizer que é uma guarda dividida. Ele passa temporadas comigo, finais de semana, viaja comigo. Passou a pandemia inteira na minha casa. Se for preciso ficar um mês, ele fica, um ano, ele fica. Mas eu sou uma extensão da família dele, estou ali como rede de apoio. Hoje as pessoas me chamam de pai. Seja virtualmente ou pessoalmente. Então, não posso dizer que sou pai apenas do Silvio, do Marquinhos e da Luísa. Eu sou pai de 5 milhões de pessoas. E como diz o ditado, coração de mãe sempre tem espaço para mais um — o coração de pai também. É emocionante ver pessoas maduras, com mais idade e experiência, se inspirando em mim como pai, na minha didática, na forma como educo e lido com meus filhos”

Os desafios e a força da inclusão

Renan lembrou que muitos o criticaram no início. “Muita gente ficou contra na época. Achavam estranho, não entendiam. Mas o amor gera inclusão. E onde há amor, não há espaço para julgamento”.

Mais do que influenciar com números, Renan influencia com propósito. Sua trajetória representa a força de quem nunca teve oportunidades, mas decidiu criá-las — não só para si, mas para os outros. Desde criança, ele já praticava a inclusão como forma de resistência. “Eu era excluído, então decidi incluir. Tudo o que eu não tive, eu quis dar. Foi minha forma de transformar o mundo à minha volta.”

O impacto nas redes sociais

Hoje, o influenciador digital Renann celebra não apenas os números expressivos nas redes sociais, mas também a construção de uma verdadeira família – dentro e fora da internet. “No total, hoje, se for juntar, nós temos mais de 5 milhões de pessoas nos acompanhando em todas as plataformas”, afirmou. Mas, para ele, o significado de “família” vai muito além dos seguidores.

De maneira íntima e pessoal, Renann compartilha que, ao longo dos anos, construiu um núcleo afetivo sólido.

“Eu também agreguei à minha família minha mãe, meu irmão, eu constituí uma família. Antes, sempre fui eu, minha mãe e meus irmãos. Nunca tive a presença do meu pai em casa, e sempre senti falta de uma casa cheia nos momentos de família, como Natal, São João, Ano Novo. A gente tinha que ir pra casa dos outros. Isso me incomodou a minha infância inteira. Eu dizia: ‘Um dia vou ter uma família grande, que eu não vou precisar ir pra casa dos outros, vou fazer a festa na minha casa’. E hoje é o que acontece. Aos finais de semana, estamos sempre em torno de 15 pessoas reunidas.”

Segundo o influenciador, todo mundo tem alguma deficiência em algo, e isso não pode ser motivo de divisão. Foi essa proposta que motivou Sílvio a participar de um reality show que aborda a questão do empoderamento.

“O Sílvio participou dessa competição, que será exibida nas principais plataformas digitais em breve, e que tem como foco a luta pelo empoderamento. Hoje, no movimento de pessoas com síndrome de Down, somos referência no tema da inclusão social, e isso me deixa muito feliz. Eu, que sou um jovem e hoje adulto, soube lidar com isso sem preconceito, sem tabu, sem precisar estudar muito, só com o que eu era. Eu vi a inclusão nascer no meu dia a dia, com o que eu era”, relatou.

Renan reforçou ainda que todos nós temos o poder de cuidar do outro.

“Quando você põe em prática aquilo que Jesus nos ensinou, seus mandamentos sobre amar o próximo, você entende que o amor é capaz de constituir uma família, uma amizade, uma relação de cuidado. Precisamos apenas ser firmes naquilo em que acreditamos e não desistir desse potencial de amar o próximo. Quando você ama, traz esse laço familiar para a relação, e ela passa a ser família — família de amigos, família de filhos, família de colegas… Enfim, onde há amor, é possível.”

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