Movimentos sociais populares e sindicatos realizaram na manhã desta quinta-feira (15) um ato na sede da Companhia de Águas e Esgotos do Estado (Cedae) contra tentativa do governo Cláudio Castro (PL) de privatizar a produção de água no estado do Rio de Janeiro. No início do ano, a estatal publicou um edital de licitação para avaliar alternativas ao modelo de negócio da empresa.
O ato denunciou que a investida representa, na verdade, uma abertura para privatização “do que restou da Cedae” pública. A venda da Cedae, em 2021, manteve pública a captação e o tratamento da água que chega nas torneiras da população fluminense. Já as etapas de distribuição e manutenção de rua foram arrematadas pela iniciativa privada.
Desde então as concessionárias têm sido alvo de reclamações sobre piora no serviço, desabastecimento, tarifas mais altas e rompimento de adutoras. Ao Brasil de Fato, o presidente do Sindicato de Saneamento do Rio de Janeiro (Sintsama), Vitor Duque, afirmou que o ato interessa toda população fluminense.
“Nós estamos vendo, Brasil afora, o mal que está fazendo as privatizações do setor de saneamento. Nós estamos vendo investimento onde eles identificam que tem retorno imediato. Em locais mais pobres, locais com IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] baixo, sobretudo as comunidades, a classe trabalhadora sofre com a falta d’água, aumento das tarifas, desestrutura. E tudo isso, pior, com dinheiro público. O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] vem emprestando dinheiro para [as empresas privadas] comprarem as empresas públicas e sucatearem”, afirmou.
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O leilão da Cedae ocorreu sob o governo Castro com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A concessão foi a maior do segmento de água e esgoto do país. No total, três fatias vendidas da companhia somaram R$ 22,6 bilhões. A estatal fluminense foi divida em quatro blocos compostos, ao todo, por 35 municípios do Rio de Janeiro
Interesses em xeque
A deputada federal Enfermeira Rejane (PCdoB-RJ) representou os parlamentares de esquerda na manifestação desta manhã (15). Ela defendeu a responsabilidade da Cedae com o tratamento de água potável, e questionou a privatização dos demais serviços de água e esgoto. “Nós mulheres sentimos na pele o que é a falta de água, as tarifas astronômicas que agora as empresas estão cobrando sem uma contrapartida efetiva de melhoria desse serviço”, declarou.
“No entanto, o governador do Rio de Janeiro volta a apostar na venda de uma parte da Cedae que ficou e que agora vai financiar no ano que vem a eleição do seu candidato para o governo do Rio de Janeiro. Isso é que está por trás dessa grande maracutaia de entregar a água do nosso povo aos interesses privados”, disse a parlamentar, colocando sob suspeita o interesse do governador Cláudio Castro (PL).
Na mesma linha, a vereadora Maíra do MST (PT) reafirmou a importância da água como bem público. “A gente sabe muito bem que o governador quer vender a Cedae para colocar aqueles que tentam privatizar os bens da natureza no poder. Nos nossos mandatos do MST estamos nessa luta em defesa da Cedae pública, em defesa da vida do trabalhador favelado. Porque a gente sabe muito bem que na cidade de Rio de Janeiro há uma disparidade enorme no acesso à água e isso tem classe, isso tem cor”, disse.
Para Roberto Oliveira, do Movimento Atingidos por Barragens (MAB), é inaceitável que a produção e captação de água do estado também sejam entregues à iniciativa privada, a exemplo do sucateamento no serviço prestado pelas concessionárias. “Diversas entidades estão construindo essa luta, partidos políticos, mandatos, movimentos sociais, sindicatos, que deve ir até setembro com atos ainda maiores. Para nós, a defesa da Cedae pública é central nesse momento”, avaliou.
A reportagem do Brasil de Fato procurou a assessoria de imprensa do Governo do Estado do Rio de Janeiro para um posicionamento sobre o protesto e a intenção de vender a estatal. O texto será atualizado com o retorno.