
Segundo o Conselho Tutelar, outros menores também manuseavam produtos químicos enquanto trabalhavam em um bananal em Jacupiranga, no interior de São Paulo. A causa da morte de Kaue de Jesus Nery dos Santos, de 15 anos, ainda não foi divulgada, mas há suspeita de envenenamento. Kaue de Jesus Nery dos Santos, de 15 anos, morreu dias depois de manusear produto agrícola em Jacupiranga (SP)
Reprodução/TV Tribuna e Reprodução/Facebook
O Conselho Tutelar constatou que outros adolescentes tiveram contato com o veneno que pode ter matado Kaue de Jesus Nery dos Santos, de 15 anos. Conforme apurado pelo g1 nesta quarta-feira (14), os menores manuseavam produtos químicos enquanto trabalhavam em um bananal, em Jacupiranga, no interior de São Paulo. A Polícia Civil investiga o caso como maus-tratos.
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Kaue estava internado no Hospital Regional de Registro (SP) e morreu por volta das 4h de domingo (11). A causa da morte ainda não foi divulgada à equipe de reportagem, mas há suspeita de envenenamento.
Quatro adolescentes, entre 14 e 15 anos, foram localizados pelo Conselho Tutelar e confirmaram terem tido contato com os produtos químicos durante o trabalho no bananal de um sítio, localizado no bairro Guaraú. Eles foram submetidos a exames médicos para verificação do estado de saúde e possível intoxicação pelo veneno, mas os resultados ainda não foram divulgados.
A instituição ainda tenta localizar outros três adolescentes que teriam trabalhado no local. O Conselho Tutelar busca confirmar se eles também tiveram contato com o veneno para levá-los ao hospital.
Trabalho infantil
Em nota, o Conselho Tutelar informou que encaminhou a notícia de fato ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e formalizou uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Além disso, a instituição orientou os familiares dos adolescentes sobre os riscos do trabalho infantil.
Também por meio de nota, o MPT informou que a notícia de fato foi recebida pela unidade de Sorocaba (SP), que atende 73 cidades, incluindo as da região do Vale do Ribeira, no dia 9 de maio.
“A atividade que supostamente estava sendo executada pelo adolescente é considerada uma das piores formas de trabalho infantil, segundo o decreto federal 6.481/08. Contudo, neste momento, a procuradora precisa se munir de informações para instruir o procedimento”, afirmou o órgão.
De acordo com o ministério, a procuradora Ana Carolina Marinelli Martins oficiou os órgãos de fiscalização e a empresa, concedendo o prazo de 15 dias para a apresentação de documentos que comprovem a conduta trabalhista do responsável, nos aspectos de saúde e segurança do trabalho.
Conforme informado pelo MPT, a empresa deve apresentar Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), contratos de trabalho, relação completa de empregados e as fichas de entrega de Equipamento de Proteção Individual (EPI).
O g1 tentou contato com o proprietário do sítio, mas não o localizou até a última atualização desta reportagem.
Kaue de Jesus Nery dos Santos (à dir.) e a irmã Kauane de Jesus Santos (à esq.)
Reprodução/TV Tribuna
Família não sabia
Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, a irmã do jovem, Kauane de Jesus Santos, contou que o parente trabalhava no bananal porque queria ter o próprio dinheiro. Ela garantiu que a família acreditava que ele apenas carregava bananas no serviço.
“Nós nunca imaginávamos que ele ia jogar veneno porque nós mesmos não íamos deixar, se nós soubéssemos disso. Deus me livre”, afirmou a irmã. “Para nós, ele ia trabalhar, tirava foto carregando banana porque todo jovem quer ter seu dinheiro, quer trabalhar, quer ter suas coisinhas”.
O caso
Conforme relatado no boletim de ocorrência, o irmão do adolescente conversou com o serviço social do Hospital Regional de Registro e explicou que Kaue trabalhou no bananal em um dia que era feriado e não havia aula. O jovem não soube informar a data exata.
Ainda segundo o registro policial, o irmão afirmou aos profissionais de saúde que Kaue utilizava defensivos [produtos químicos, biológicos ou físicos usados para proteger a produção agrícola] “quando inalou veneno”. Não há detalhes sobre as substâncias manipuladas pelo adolescente.
Segundo o BO, o menino ficou alguns dias com sintomas leves, mas precisou ser levado ao serviço de emergência de Jacupiranga, no último dia 6. Em seguida, ele foi encaminhado ao Hospital Regional de Registro, que constatou que “o adolescente realizava trabalho infantil manipulando veneno em bananal”.
A unidade de saúde registrou a ocorrência pela Delegacia Eletrônica e acionou o Conselho Tutelar. Conforme apurado pelo g1, o caso é investigado como maus-tratos pelo 2º Distrito Policial (DP) de Jacupiranga.
Adolescente de 15 anos morre após manusear produto químico no interior de SP
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