Dá para prever um terremoto com antecedência?

Dá para prever um terremoto com antecedência?Fidel Forato

As imagens de destruição provocadas por um terremoto sempre causam espanto, ainda mais quando envolvem a perda de milhares de vidas. Diante de um abalo sísmico que pode ser tão destrutivo, não seria a ciência capaz de prever esses movimentos na crosta terrestre com antecedência?

Para responder a esta pergunta, o Canaltech conversou com os sismólogos do Programa de Pós-Graduação do Observatório Nacional (PPG-ON). Adiantamos que a resposta é não, não é possível prever com antecedência o local e nem a magnitude de um terremoto.

No entanto, algumas pesquisas iniciais buscam superar esse desafio, como um estudo publicado na revista Science. Os autores revelam que o solo parece se mover, sem causar tremores, cerca de duas horas antes de um terremoto. Este pode ser um sinal útil, mas que ainda deve ser melhor explorado em análises futuras.

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O que seria prever um terremoto?

Para ter uma previsão perfeita de um terremoto, é necessário informar o momento exato do abalo sísmico, o local também deve ser exatamente igual e a magnitude em graus na escala Richter.

“Atualmente, mesmo com todos os estudos realizados há anos, ainda não somos capazes de obter respostas para esses três pontos ao mesmo tempo”, afirma o grupo de pesquisadores.

A dificuldade está na alta complexidade dos fatores que provocam um fenômeno sismológico, já que os processos envolvidos não são lineares e as previsões podem sofrer inúmeras variações.

Por exemplo, a estrutura geológica de uma região, o que inclui os diferentes tipos de rochas e materiais variando em área e em profundidade, pode mudar o desfecho de um terremoto. Outro fator é a profundidade em que ocorre o abalo — isso fez com que um terremoto de magnitude de 6,6 graus não fosse “sentido” no Brasil.

Experimento da avalanche

A dificuldade em prever um terremoto é, em alguns aspectos, parecida com a de um experimento que pode ser feito em casa: uma avalanche caseira. Aqui, é preciso montar uma pilha de areia e, gradualmente, novos grãos devem ser jogados nesse monte.

Em algum momento, a avalanche vai começar, mas é quase impossível determinar qual grão irá desencadear todo o movimento. Também não dá para saber as proporções dessa avalanche com antecedência.

Probabilidade de terremotos

Se não é possível cravar com precisão quando, onde e qual magnitude terá um terremoto, é viável fazer previsões gerais. Dá para apontar quais locais têm uma probabilidade maior para a ocorrência de terremotos. Também pode ser apontada as chances de um terremoto de certa magnitude ocorrer em uma região durante um certo período de anos.

“Essas probabilidades são calculadas com base na taxa média da atividade sísmica que ocorreu numa dada região”, além de estimativas sobre o acúmulo e do alívio de tensão nas falhas como resultado do movimento contínuo das placas tectônicas, como apontam os sismólogos do Observatório Nacional.

No entanto, isso só é possível quando existem dados históricos de terremotos antigos para aquele local. Para melhorar as estatísticas de probabilidade, a análise do solo e das rochas dessa região pode indicar registros geológicos de rupturas de terremotos que ocorreram na história antiga (antes dos registros oficiais). Outra possibilidade é buscar relatos antigos, através de jornais, cartas, diários de expedições, poesias e contos.

IA quer prever abalos sísmicos

Atualmente, diferentes grupos de pesquisa usam a Inteligência Artificial (IA) e, mais especificamente, o aprendizado de máquina para tornar possível a previsão de terremotos. Para isso, as ferramentas analisam grandes quantidades de dados de registros de abalos sísmicos e de dados de deformação da superfície do planeta. Até agora, não encontraram respostas satisfatórias.

No caso do Observatório Nacional, a equipe não trabalha no campo das previsões, mas, na aplicação de Física Estatística, busca estabelecer uma correlação entre os mais variados eventos e procura por correspondências entre os terremotos e outros sistemas — como as avalanches, as erupções solares, os ciclones tropicais e até os processos que ocorrem no cérebro.

Contribuíram os pesquisadores: Diogo L. O. Coelho, pós-doc em sismologia e professor do PPG-ON; Douglas Santos Rodrigues Ferreira, professor do PPG-ON e do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ); e Jennifer Ribeiro S. da Conceição, doutoranda em geofísica do PPG-ON.

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