Mães na linha de frente: a maternidade como força na luta por moradia

Como é sabido, em todo segundo domingo do mês de maio se comemora nacionalmente o Dia das Mães. A data, que será celebrada este ano no dia 11, carrega consigo histórias de força, luta e resistência. E nas ocupações urbanas, não é diferente. Lá, a maternidade entra em contato com a luta por moradia e transforma mães em protagonistas de um cotidiano marcado por cuidado, organização coletiva e combate às injustiças.

Para muitas dessas mulheres, é justamente a maternidade que as impulsiona a resistir. É o que afirma Ednéia Souza, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), que acompanha há anos o protagonismo das mães em ocupações urbanas.

“Quando você tem um filho, quando você está esperando um filho, você tem necessidade de proteção. E a moradia é proteção”, diz.

No entanto, segundo ela, as políticas públicas habitacionais do estado seguem negligenciando essa realidade. De acordo com relatório da Fundação João Pinheiro (FJP), Minas Gerais representa cerca de 9% do déficit habitacional do Brasil, com mais de 556 mil famílias sem acesso adequado à moradia. 

Destas, aproximadamente 62% são chefiadas por mulheres. 

:: Leia também: Entenda porquê MG tem um dos maiores déficits habitacionais do Brasil ::

“Infelizmente, as políticas públicas não enxergam essas mulheres. Muitas criam os filhos sozinhas, em condições muito duras. É um sofrimento mental inimaginável”, declara Ednéia.

Por isso, a integrante do MNLM defende que o atendimento às mães em situação de vulnerabilidade precisa deixar de ser promessa e se tornar uma prioridade concreta.

“As políticas públicas têm que ser voltadas para atender as mulheres mesmo, para atender os mais vulneráveis. Tem que dar prioridade. Não só na palavra, tem que atender primeiro, principalmente as com menor renda”, afirma. 

Maternidade coletiva

Por essas razões, as ocupações urbanas tornaram-se lugares onde mães se organizaram, por meio da solidariedade, para execução de tarefas coletivas e criaram assim uma forte rede de apoio entre elas. É o que conta Maira, mãe e moradora da ocupação Pátria Livre há cerca de cinco anos.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

“Cheguei aqui com meus filhos quando não tinha mais para onde ir, e encontrei um lugar onde pude recomeçar. Aqui a gente se apoia bastante, porque todo mundo entende as dificuldades umas das outras”, relata. 

Essa convivência solidária entre as mães também reflete diretamente na forma em que as crianças são cuidadas nas ocupações.

“Aqui as crianças não são só responsabilidade da mãe. Todo mundo olha, todo mundo cuida, repreende quando precisa, brinca junto. É como se elas fossem de todo mundo. Isso dá uma segurança e uma leveza que é difícil encontrar fora daqui”, relata a mãe. 

Waldinea Ferreira Silva, moradora da ocupação Pátria Livre há mais de sete anos, reforça ainda o senso de comunidade e coletivismo atrelado à criação dos mais novos na ocupação.

“Eu sempre ensino meus filhos a respeitarem os vizinhos, não perturbando e sempre fazendo a nossa parte”, diz.

Ednéia finaliza reiterando a importância dessas redes solidárias entre mães nas ocupações e comunidades.

“Essas mulheres constroem uma rede de apoio que garante o mínimo de dignidade. Isso você só encontra em ocupação e em comunidade. Acho isso fantástico. É um exemplo de força, de humanidade”, diz a coordenadora do MNLM. 

O cotidiano compartilhado, o cuidado mútuo e as redes de apoio não impactam apenas a vida das mães, mas moldam a maneira como as crianças compreendem o mundo e as relações sociais. Para Ednéia, esse convívio coletivo é fundamental na construção de uma nova visão de sociedade.

“Acho importante que as crianças cresçam próximas das experiências coletivas. Porque aí elas aprendem a valorizar o que é do todo, não só o que é individual. É uma outra compreensão de sociedade, e isso é muito importante”, afirma.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.