O Brasil segue figurando entre os países com as maiores taxas de juros reais do mundo. Em levantamento conduzido pela MoneYou em parceria com a Lev Intelligence, o país aparece na 3ª posição global, com uma taxa real de 8,65% ao ano, calculada com base nos juros futuros de 12 meses (DI) e na inflação projetada pelo mercado para o mesmo período.
Juros reais como instrumento de controle inflacionário
A presença do Brasil no topo do ranking evidencia uma estratégia monetária firme para conter a inflação. A taxa real — medida a partir da fórmula de Fisher — reflete o custo efetivo do dinheiro após descontada a expectativa inflacionária. Com projeções de inflação ainda acima da meta e o cenário fiscal pressionado, o Banco Central tem adotado uma postura mais rígida, mantendo os juros reais elevados como âncora de expectativas.
Essa abordagem tem como objetivo conter o consumo e os investimentos em um ambiente onde a inflação, embora controlada em parte, segue sendo pressionada por fatores como preços de alimentos, serviços e incertezas fiscais.
Brasil em destaque no ranking global de juros reais
Abaixo, os dez primeiros colocados do ranking de juros reais com o Brasil na 3ª colocação:

A média global entre os 40 países analisados foi de 1,60%. O contraste entre o Brasil e essa média reforça o descompasso entre as condições monetárias locais e a tendência internacional, onde a maioria dos países já estabilizou ou começou a cortar suas taxas de juros.
Contexto fiscal e percepção de risco
A taxa de juros real não é apenas uma ferramenta técnica de política monetária — ela também funciona como um termômetro da confiança dos agentes econômicos nas contas públicas e na condução do Estado. O Brasil convive com um histórico de déficits fiscais elevados, dívida pública crescente e dificuldade de aprovar medidas estruturantes no Congresso.
Esse ambiente faz com que o prêmio de risco embutido nos juros seja maior, pressionando tanto a taxa nominal quanto a real. Além disso, a instabilidade institucional e a incerteza sobre o futuro da política fiscal afetam diretamente as expectativas inflacionárias, dificultando a convergência para a meta estabelecida pelo Banco Central.
Uma posição desconfortável no ranking
Estar entre os países com maiores juros reais do mundo não é sinal de força econômica — é um alerta sobre os desafios internos que o país ainda precisa enfrentar. Enquanto países desenvolvidos operam com juros reais baixos ou negativos para estimular a atividade, o Brasil permanece preso a uma lógica de contenção e vigilância inflacionária permanente.
A continuidade desse cenário limita a capacidade de crescimento sustentado, aumenta o custo do crédito e penaliza investimentos produtivos. O ranking da MoneYou, portanto, é mais do que um retrato técnico: é uma radiografia da vulnerabilidade estrutural da economia brasileira.
Alta dos juros reais reflete desequilíbrio fiscal persistente
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o Brasil ocupa atualmente a terceira posição no ranking global de juros reais como consequência direta de um desequilíbrio fiscal persistente. Segundo ele, o alto custo de financiamento da dívida pública e a elevada percepção de risco por parte dos investidores impõem ao país a necessidade de manter taxas reais de juros muito superiores à média mundial. “Temos uma dívida bruta alta, déficit primário elevado e um déficit nominal que continua acima do razoável. Sem uma sinalização clara de responsabilidade fiscal, não há como sustentar juros mais baixos”, explicou.
Para Vale, os problemas estruturais das contas públicas pressionam o Banco Central a manter a política monetária mais apertada do que o ideal, como forma de preservar a credibilidade e conter expectativas inflacionárias. Ainda assim, o economista acredita que existe espaço para o início de um ciclo de queda da Selic a partir do final de 2025, mas com limitações importantes. Ele projeta que a taxa pode subir para até 15% na próxima reunião e, só depois disso, iniciar um recuo gradual, possivelmente até 13,75% no fim do ano. Porém, ele descarta cortes mais agressivos.
“2026 é um ano eleitoral, com incerteza política e fiscal, o que naturalmente torna o Banco Central mais cauteloso. Já 2027 deve ser um ano ainda mais desafiador, com a pressão de manter os gastos sob controle em meio a um novo governo”, afirmou.
Na avaliação de Vale, manter juros reais tão elevados por um longo período é prejudicial à competitividade da economia brasileira. “É muito difícil para o setor produtivo crescer de forma sustentável quando precisa competir com esse custo de capital. Nenhuma empresa consegue gerar retornos consistentes acima de uma taxa real de 7% ou 8% ao ano”, alertou.
Ele relembra que em 2019, antes da pandemia, o Brasil chegou a praticar uma taxa Selic de 6,5% ao ano em meio a um ambiente de reformas estruturais iniciadas após 2016. “Aquele período mostrou que quando o país sinaliza responsabilidade fiscal e compromisso com reformas, a taxa estrutural de juros pode, sim, cair. Mas para isso é preciso um esforço político e técnico consistente, e não apenas promessas”, concluiu.
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O post Brasil entre os líderes globais em juros reais: o que isso revela sobre economia? apareceu primeiro em BM&C NEWS.