Mostra de Cinema da Terra discute produção de alimentos saudáveis, tecnologia e violência no campo em feira do MST

Foi lançado neste sábado (10), durante a 5ª Feira da Reforma Agrária, no Parque da Água Branca, em São Paulo (SP), o documentário Máquinas Chinesas, Terras Camponesas. O filme, produzido pelo Brasil de Fato, foi o primeiro de uma série de três exibidos durante a 1ª Mostra de Cinema da Terra.

O documentário acompanha a cooperação técnica entre Brasil e China para democratizar a mecanização da agricultura familiar e camponesa no Nordeste brasileiro. Desta maneira, aponta como essa parceria, inspirada nas conquistas da Revolução Chinesa, pode fortalecer a reforma agrária, ampliar a produção de alimentos saudáveis e modernizar o campo sem abrir mão das práticas agroecológicas.

“Não podemos pensar essa parceria das máquinas agrícolas somente olhando o o micro, que são as chegadas delas no Brasil, mas no macro também: em toda a bagagem e expertise chinesa que vem desde a sua reforma agrária a partir de 1949/1950, investindo em modernização, no campo, em tecnologia”, diz Vitor Shimomura, diretor do documentário.

“[A China] industrializou o país, criando também uma política de subsídios importantes, de juros baixos, de isenção de impostos. O país praticamente tirou da extrema pobreza cerca de 800 milhões de pessoas, a maioria dessas pessoas camponesas e camponeses. As máquinas foram muito importantes nessa perspectiva”, complementa.

Neste primeiro dia, além do lançamento do Máquinas Chinesas, Terras Camponesas, também foram exibidos Assentamento Olga Benário: Sementes da Resistência, produção da Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho, do MST; e Terra Vista, outra produção do Brasil de Fato. Os três documentários estão disponíveis para assistir gratuitamente no YouTube.

A mostra, que acontece também no domingo (11), é organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), responsável pela feira, em parceria com o BdF.

Discussões na mesa de debate

Após a exibição dos filmes, foi realizada a mesa de debate Resistências, desafios e tecnologia para o campo, mediada pelo jornalista Lucas Estanislau, coordenador de Internacional do Brasil de Fato.

Pessoas sentadas em cadeiras, numa mesa de debate para um público, após a exibição de filmes numa mostra de cinema
Márcio Santos durante fala na mesa de debate; à esquerda, Lucas Estanislau e à direita, Eliane Caffé, Edna Rodrigues e Vitor Shimomura – Iolanda Depizzol/Brasil de Fato

Participaram da discussão Márcio Santos, da direção nacional do MST em São Paulo; a cineasta Eliane Caffé, conhecida por dirigir filmes como Narradores de Javé (2003) e Era o Hotel Cambridge (2016); Edna Rodrigues, militante e integrante da direção estadual do MST na Bahia, além de Vitor Shimomura.

Márcio Santos falou sobre a produção do documentário Assentamento Olga Benário: Sementes da Resistência. O doc do MST conta a história de famílias do assentamento criado em 2006, em Tremembé, no interior de São Paulo, e também traz uma homenagem a dois agricultores mortos em janeiro deste ano.

“A ideia do documentário é justamente mostrar que, apesar das mortes, há vida. E diante de todo esse processo que a gente está fazendo de recuperação de uma área degradada, que foi conquistada depois de muita luta, e foi recuperada ambientalmente a partir do esforço da comunidade em produzir um sistema agroflorestal.”

Ele comentou o processo de violência constante que assentados e acampados sofrem, um desafio na luta pela terra. “[O Assentamento Olga Benário foi atacado] porque está num corredor estratégico e nós ousamos disputar território com o capital estratégico. E conquistamos alguns, apesar de mais derrotas do que conquistas. Tivemos seis assentamentos conquistados nessa região”, celebrou.

Eliane Caffé elogiou as produções exibidas neste sábado na 1ª Mostra de Cinema da Terra e declarou estar impressionada com tudo que envolve o trabalho do MST.

“Hoje, vendo que a gente está num colapso – nem é mais crise ambiental, agora é colapso, e nunca foi tão duro e difícil o momento que estamos enfrentando –, o MST aparece sempre como uma vanguarda, mas uma vanguarda de várias lutas”, explicou.

“Não é só a luta pela terra, mas você vê como isso envolve todas as vísceras e a gente, classe média, que está numa bolha privilegiada, por enquanto, não tem noção do que é vivenciar uma vida assim. Fico impressionada com a força que isso traz e como a gente tem que fazer neste país, não só uma reforma agrária, decente, de verdade, mas uma reforma do sistema de comunicação.”

Para Caffé, os documentários, além de divulgarem o trabalho que envolve a agroecologia, mostram como também a atividade deve ser importante para a sobrevivência no futuro.

“A gente precisa fazer com que cheguem [a um público mais amplo] as experiências deste movimento que muita gente não tem ideia do que é. Se você fica aqui uma hora e meia assistindo esses documentários, você sai daquela depressão de achar que não tem mais pra onde ir”, completa a cineasta.

A mesa foi aberta para participação de quem esteve na feira e assistiu aos documentários. Uma das participantes elogiou a iniciativa de uma mostra de cinema dentro da Feira da Reforma Agrária e foi além: propôs um festival. Já outra também parabenizou os organizadores e perguntou à liderança do MST sobre como o Brasil tem caminhado na luta pela democratização das terras.

Segundo Edna Rodrigues, é necessário o apoio de muita gente para que avance a reforma agrária no Brasil, principalmente do poder público. “A gente sabe que tem muita luta. Os governantes precisam apoiar mais – ou apoiar. A gente sabe da complicação que é quando a gente faz uma ocupação de terra. Tem tantas áreas vagas, que não tem nenhuma utilidade, mas que [muda] quando o MST ocupa.”

“As pessoas não conseguem entender que o trabalhador precisa de um espaço. O primeiro passo para a reforma agrária é a democratização das terras. E pra isso acontecer , nós precisamos de um apoio muito grande tanto da sociedade quanto dos governantes”, diz a militante.

Cartaz com programação de evento de exibição de documentários
Mostra de Cinema continua neste domingo – Iolanda Depizzol/Brasil de Fato

Segundo dia da 1ª Mostra Cinema da Terra

Neste domingo (11), serão apresentados outros três documentários, também seguidos por outra mesa de debate. A programação começa às 12h30.

  • Um fantasma ronda o acampamento (2025).
    Lançamento do MST. Realização: Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho
  • Kudumbashree de Kerala: quando milhões de mulheres se organizam (2023)
    Produção da Assembleia Internacional dos Povos, Peoples Dispatch e News Click. Direção: Vyshakh Thaliyil e Surangya Kaur.
  • Comuna o nada – A organização popular que sustenta a revolução bolivariana (2024)
    Produção do Brasil de Fato. Direção: José Bernardes.

Mesa de Debate: Terra: identidades na luta do Campo

Local: Casa da Primeira Dama – 2º andar – sala 49 – Parque da Água Branca – São Paulo-SP

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