Defesa Civil começa a demolir prédio-caixão que desabou no Grande Recife; moradora relembra ‘cenário de guerra’


Moradores tiveram menos de 48 horas para se mudarem dos 16 apartamentos. Defesa Civil começa a demolir prédio-caixão que desabou no Grande Recife
A prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, começou a demolir neste sábado (10) a parte que ainda estava em pé do edifício Kátia Melo, que desabou parcialmente quatro dias antes (veja vídeo acima). O prédio, do tipo caixão, havia sido interditado pela Defesa Civil menos de 48 horas antes de colapsar, o que fez com que o acidente não deixasse vítimas.
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Os trabalhos começaram a partir das 9h30, com as máquinas acumulando os entulhos no chão para que as máquinas fiquem em uma posição mais alta e consigam alcançar a parte de cima da construção.
A previsão da Defesa Civil é que a demolição esteja concluída até segunda-feira (12). Depois disso, ainda haverá um trabalho de remoção dos entulhos.
Até lá, é possível que as próprias máquinas sejam usados para retirar objetos da parte do imóvel que ainda está em pé, mas vários fatores podem influenciar nesse trabalho.
Início dos trabalhos de demolição do edifício Kátia Melo, prédio-caixão que desabou em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.
Reprodução/TV Globo
O secretário executivo de Defesa Civil da cidade, Elton Moura, explicou que tentou negociar com os proprietários do edifício para que eles fizessem a demolição desde o dia do desabamento, mas eles alegaram que não tinham condições de custear o processo.
A prefeitura, então, contratou uma empresa para fazer o serviço. Segundo Moura, havia um receio de um novo desabamento porque a estrutura que restou do prédio estava muito instável.
‘Cenário de guerra’
Dezesseis famílias que moravam no Kátia Melo. Os moradores tiveram poucas horas para agir e tirar seus pertences, móveis e histórias de dentro dos apartamentos.
Uma das moradoras do edifício tipo “caixão” era a servidora pública Mércia Milanez, de 58 anos. Ela residia no segundo andar a quase quatro anos, junto com seu filho, de 39 anos. Do apartamento restou em pé apenas um quarto, o banheiro e parte da sala.
Mãe e filho ficaram do domingo (4), quando a Defesa Civil interditou o prédio, até a madrugada da segunda-feira (5) colocando tudo em sacolas e em trouxas de lençóis. Pela urgência, a mudança foi feita nas pressas e muitos móveis foram danificados.
“Olhava ao meu redor e via cenários de guerra, com os moradores saindo do prédio. “Eu disse para meu filho: ‘tire tudo do apartamento que for a nossa história’. Vamos correr!’ Só hoje eu tenho a certeza da dimensão do que estava acontecendo comigo. Enquanto estava acontecendo eu não avisei a ninguém, nem a parente e nem a amigos. Fiquei atordoada, sem razão, fiquei fora de mim “, relatou Mércia ao g1.
Mércia usa muletas e tem dificuldade de locomoção, e está agora abrigada na casa da irmã, em Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. Ela está dormindo em um colchão no chão, pois sua cama quebrou durante a mudança, e divide o quarto com móveis e pertences que trouxe do apartamento que desabou.
O desabamento do prédio foi uma surpresa e, até agora, ela está abalada: “A sensação que eu estou sentindo neste momento é a mesma que senti quando perdi meu marido. Eu estou viva, mas não dá pra explicar, só consigo chorar. Estou tomando calmantes, não consigo dormir, não consigo nada”.
Câmera de segurança flagra momento em que prédio desabou no Grande Recife
Enquanto ainda fazia a mudança, Mércia sentiu a estrutura do prédio estalando sob ela. Mas os sinais de que o Kátia Melo estava ruindo chegaram muito antes. Há um ano, por exemplo, a porta do quarto do seu filho precisou ser removida porque sempre emperrava. O relato é semelhante aos de outros moradores do prédio.
Mas foi no sábado (3) que os indícios ficaram mais fortes: a grade da sua casa não estava querendo fechar pois o teto cedeu. No outro dia (4), a Defesa Civil foi ao local fazer uma vistoria e emitiu laudo que constatou que a construção apresentava fissuras, abatimento de piso e indícios de movimentação na estrutura.
Já em segurança na casa da irmã após a mudança, Mércia ficou sabendo que o prédio havia desabado na terça-feira (5) quando sua filha, que mora em Portugal, ligou para ela. “Fiquei sabendo do desabamento pela minha filha, ela viu a notícia nos jornais. Ela ligou gritando, porque ela não sabia onde eu estava. Foi desesperador demais”.
Para Mércia, ver a demolição vai ser uma forma de começar a superar a tragédia: “Eu só consigo agora pensar em ver a demolição. Preciso desse momento. Se eu não ver é como se ainda faltasse alguma coisa.”
Prédio estava interditado e vazio quando desabou
Às 10h51 da terça-feira (6), parte da estrutura do edifício Kátia Melo veio abaixo (veja vídeo acima).
Mais cedo, por volta das 9h20, agentes da Defesa Civil foram ao local para verificar se ainda havia moradores dentro dos apartamentos.
O residencial do tipo “caixão” tinha quatro pavimentos, 16 apartamentos e foi construído há mais de quatro décadas.
O prédio fica na Rua Joaquim Marquês de Jesus, no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.
Dias antes do acidente, a Defesa Civil emitiu nota informando que o prédio apresentava vários sinais de risco de desabamento, como fissuras, abatimento de piso e indícios de movimentação na estrutura.
Moradores do prédio que desabou em Jaboatão perceberam estrutura cedendo dias antes, com rachaduras e portas sem abrir.
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