
*Artigo escrito por Fernando Repinaldo, especialista em Administração Pública, Gestão de Projetos e Engenharia de Tráfego
O transporte urbano é parte do cotidiano dos brasileiros que vivem em cidades de médio e grande porte. Os problemas de mobilidade têm uma dimensão social significativa, impactando a saúde e a qualidade de vida da população, além das perdas econômicas geradas por congestionamentos e acidentes de trânsito.
Leia também: Os investimentos que podem mudar o transporte na Grande Vitória
Transporte público x transporte individual
Essa questão já faz parte da história dos países desenvolvidos, que, ao longo da última década, têm buscado conter a expansão do transporte individual por meio de pesados investimentos na melhoria do transporte público.
Essa peleja vem de longe. Em 2008, o primeiro e único plano diretor de transporte e mobilidade urbana elaborado para Vitória indicava a solução do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Em 2010, os holofotes se voltaram para o Bus Rapid Transit (BRT), apresentado como a grande solução para o caos.
Vale ressaltar que VLT e BRT não são modalidades excludentes e poderiam funcionar conjuntamente como soluções eficazes para a mobilidade metropolitana, considerando-se, obviamente, as nuances dos espaços geográficos.
Em ambos os casos, há disponibilidade de financiamentos e interesses públicos e privados, sendo sempre recomendável privilegiar os trilhos por serem mais sustentáveis e menos poluentes.
O sistema Transcol GV já passou por algumas melhorias nos últimos anos, como a renovação da frota com ônibus mais modernos, climatizados e equipados com Wi-Fi.
Além disso, foi implementado o programa Transcol + Acessível, voltado para cadeirantes, com vans adaptadas e climatizadas que garantem mais conforto e eficiência.
Necessidade de aprimoramentos
Contudo, ainda há necessidade de aprimoramentos em vários aspectos de eficiência. A seguir, relato uma experiência pessoal que evidencia uma dessas oportunidades de melhoria.
Não sou usuário frequente do sistema Transcol GV, pois minha rotina não se adequa a esse modal. Entretanto, em uma emergência recente, o ônibus surgiu como a melhor opção de deslocamento.
Foi nesse momento que descobri que, apesar de estar com dinheiro e cartões de crédito no bolso, não tinha como realizar o pagamento da passagem. Isso me fez refletir sobre possibilidades de inovação nesse processo.
É tecnicamente viável implementar o pagamento via NFC no transporte público, e algumas cidades brasileiras já adotaram essa tecnologia.
Existem sistemas que permitem que catracas aceitem pagamentos sem contato, como cartões de crédito, pulseiras e carteiras digitais, sem necessidade de substituir todo o sistema.
Tecnologia NFC pode ser integrada ao transporte público
Além disso, estudos indicam que a tecnologia NFC pode ser integrada ao transporte público para compartilhamento de informações e melhoria na gestão de passageiros, facilitando o acesso a dados sobre linhas, horários e atrasos.
No entanto, a implementação exige infraestrutura adequada nos validadores e integração com sistemas bancários para garantir segurança e eficiência.
Algumas cidades brasileiras já adotaram essa tecnologia, mas enfrentaram desafios como custos de validadores, integração bancária, manutenção e suporte técnico.
Apesar desses obstáculos, o pagamento por aproximação tem sido cada vez mais utilizado, pois reduz filas, melhora a experiência dos passageiros e pode até diminuir custos operacionais a longo prazo. Algumas cidades já estão testando essa inovação em ônibus e metrôs, com resultados positivos.
Plataformas de mobilidade impõem desafios
As plataformas de mobilidade impõem desafios e demandam educação e vontade de inovar. A evolução para uma cidade mais inteligente, integrada e inovadora vai além dos investimentos em tecnologia.
É essencial inovar também na gestão, planejamento, governança e desenvolvimento de políticas públicas.