
A China tem adotado uma série de medidas de estímulo à economia — incluindo cortes de juros, redução do compulsório bancário e incentivos a setores estratégicos —, mas ainda não conseguiu conter a desaceleração econômica. Para o especialista em análise macroeconômica Fábio Fares, as ações recentes do governo chinês revelam mais desespero do que estratégia eficaz. “A China está desesperada porque simplesmente não tem dinheiro. Esse é o ponto que muita gente ignora. Desde 2022, o país vive uma escassez crescente de recursos fiscais”, afirmou em entrevista à BM&C News.
Segundo Fares, a percepção de que Pequim poderia manter indefinidamente um modelo de crescimento apoiado em investimentos e exportações não se sustenta diante da atual conjuntura. “A população chinesa está envelhecendo, o consumo interno está em queda, o setor imobiliário foi dizimado, e o desemprego está em níveis críticos. Não adianta injetar crédito se a confiança estrutural não volta”, explicou.
Conflito geopolítico com os EUA impõe nova lógica global
Além dos entraves domésticos, a China enfrenta uma crescente pressão externa. Para Fares, o conflito comercial com os Estados Unidos deve ser encarado não como um episódio pontual, mas como uma nova realidade duradoura, semelhante à lógica da Guerra Fria dos anos 1980. “Estados Unidos e China não serão parceiras. São rivais estratégicos, e cada uma vai minar a outra da forma que for possível — seja por tarifas, diplomacia ou influência regional”, avaliou.
Ele aponta que o tempo de resolução dos conflitos favorece os norte-americanos, pois permite que empresas multinacionais reorganizem suas cadeias de produção fora da China. “Quanto mais tempo leva para um acordo ser fechado, mais as empresas têm tempo para sair da China. E esse movimento já começou, principalmente após o aumento das tarifas no final de 2024”, destacou.
Índia em foco: tensão regional pode favorecer a China indiretamente
Na avaliação de Fares, há ainda um componente geopolítico pouco discutido, mas com forte impacto sobre as estratégias empresariais. A Índia — principal destino das empresas que transferem produção da China — entrou em conflito militar com o Paquistão nos últimos dias. Para ele, essa nova instabilidade pode retardar a saída das fábricas da China e dar fôlego ao governo chinês. “Não me surpreenderia se, no futuro, descobríssemos que a própria China financia, de forma indireta, esse tipo de conflito. Ela precisa ganhar tempo para se reestruturar”, disse.
Fares ressalta que, mesmo fragilizada, a China ainda exerce forte influência sobre a economia global, mas depende cada vez mais do consumo americano. “O mundo insiste em achar que a China é autossuficiente, mas ela precisa vender. E quem compra é os Estados Unidos. O dólar continua sendo a moeda dominante não por prestígio, mas por ser a moeda de um país superavitário em demanda global”, afirmou.
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