Serras de até mil metros, vegetação densa e área alagada: como é o local afetado pelo fogo no Pantanal


Incêndio já destruiu mais de 1,5 mil hectares de vegetação nativa da Serra do Amolar, local considerado um santuário de biodiversidade no Pantanal. Por ser uma das regiões mais preservadas do Pantanal, brigadistas demoram cerca de 5 horas para acessar local das chamas. Helicóptero da Marinha leva brigadistas para conterem fogo em região de difícil acesso
O incêndio de grandes proporções que já destruiu o equivalente a mil campos de futebol no Pantanal de Mato Grosso do Sul começou em uma das regiões mais preservadas do bioma, que só pode ser acessada de barco ou helicóptero. Desde sexta-feira (26), brigadistas lutam contra o fogo que se espalha pela Serra do Amolar, considerada um santuário da biodiversidade pantaneira. Veja o vídeo acima.
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Como o próprio nome revela, a região é formada por um conjunto de montanhas que alcançam altitudes de até mil metros e extensão de 80 km, além de ser banhada pelo rio Paraguai e Mirim.
A região afetada pelo incêndio fica a cerca de 100 km da área urbana de Corumbá. Na Serra, existe a base do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que atua na conservação do Pantanal há mais de 20 anos. De lá, os 22 brigadistas precisam percorrer até 40 km todos os dias para trabalhar nos focos das queimadas.
“Nós levamos em média 5 horas por embarcação e também a progressão no terreno. São horas para conseguir progredir poucos quilômetros para esse combate. Lembrando, né, que não é só uma caminhada, é caminhada com o equipamento” destacou a chefe do Centro de Proteção Ambiental Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Tatiane Inoue.
Serra do Amolar é uma formação rochosa que fica na fronteira entre Brasil e Bolívia
Divulgação/Ecoa
Nos primeiros dias, os brigadistas não conseguiam acessar ao local do início do incêndio. Só a partir de segunda-feira (29) que os homens do IHP e do Corpo de Bombeiros acessaram a região montanhosa de barco. Na quarta-feira (31), a Marinha enviou um helicóptero para auxiliar no transporte dos brigadistas. Veja o vídeo no início da matéria.
O incêndio atinge a área de preservação localizada no município de Corumbá (MS). No entanto, a Serra se estende também por Cáceres (MT) e também pela Bolívia, país vizinho.
No lado brasileiro, existe o Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense e três Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Na Bolívia, há o Parque Nacional de Otuquis e a Área Natural de Manejo Integrado San Matías. Veja no mapa:
Saiba onde fica a Serra do Amolar
g1
“A maior dificuldade que nós encontramos aqui é a distância que tem entre Corumbá e a região onde está pegando fogo. Desde o sábado fazemos o combate. Viemos no domingo também e foi quando o fogo subiu o morro. A gente começou a fazer o preventivo desde então, que é não deixar o fogo chegar nas outras áreas também”, explica o chefe da Brigada Alto Pantanal, Manoel Garcia.
Ele ressalta que uma das prioridades da equipe é evitar que as chamas cheguem a uma área de 30 hectares, onde há um projeto de recuperação. Nesse local, 25 mil mudas foram plantadas no ano passado para tentar recuperar o território atingido pelo fogo em 2020.
A Serra do Amolar também é considerada uma das regiões com maior potencial turístico do Pantanal por suas belas paisagens. A região alagada proporciona um pôr do sol espetacular para quem decide fazer um passeio de barco ao entardecer.
O local também é casa de vários animais considerados ameaçados de extinção, como a onça-pintada, onça-parda, tamanduá-bandeira, catita, tatu canastra e ariranha.
Pôr do sol na Serra do Amolar em MS
divulgação/governo federal
Pôr do sol na Serra do Amolar, no Mato Grosso do Sul.
Paulo Augusto
Força tarefa
Cerca de três anos após queimadas que devastaram o Pantanal em 2020, o fogo volta a preocupar na região da Serra do Amolar, em Mato Grosso do Sul. Atualmente, cerca de 22 pessoas do IHP, Corpo de Bombeiros, Organização Não Governamental (ONG) e Marinha atuam no combate ao incêndio.
O Ibama também distribuiu Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e equipamentos de combate ao fogo. Além disso, a instituição afirmou que está sendo elaborado um planejamento de contratação de brigadistas de manejo integrado do fogo e um programa para a contratação de equipe para uma Brigada Pronto Emprego no Pantanal, localizada em Corumbá, com o propósito de reforçar as operações durante os períodos emergenciais.
“A gente também está contando com o apoio da Marinha para fazer sobrevoos em pontos onde a gente não consegue chegar nem a pé e nem de barco. Então, fazer o reconhecimento dessas áreas para entender como é que a gente pode trabalhar nesses locais, entender é qual o sentido desse fogo e quais são os riscos. Então, o apoio aéreo na Serra da molar, ele é essencial”, relatou coordenadora de operações do IHP, Isabelle Bueno.
Equipe atua no combate ao fogo na Serra do Amolar
Divulgação/IHP
Fora de época: A tenente-coronel Tatiane Inoue destaca que o mês de janeiro é quando o Pantanal começa a alagar, com a ajuda das chuvas de verão. O fogo geralmente atinge o bioma nos períodos de seca, principalmente entre os meses de setembro e novembro.
Para a tenente-coronel, um incêndio desta proporção em meio a época de cheia no Pantanal é preocupante.
“Porque deixa claro como as mudanças climáticas já estão intensificando esses eventos extremos. Janeiro, naturalmente, é quase o auge da cheia no Pantanal, quando fica bufando de água por todos os lados, como dizem os pantaneiros, né? O Pantanal é um reflexo de que as mudanças climáticas estão acentuando cada vez mais esses eventos climáticos extremos e a tendência é que isso piore ao longo dos anos. Pantanal tem ficado cada vez mais seco e, consequentemente, mais suscetível ao fogo”, destacou.
Fogo consome mais de 1 mil hectares de santuário da biodiversidade no Pantanal
Início e causas do incêndio: Conforme denúncia do IHP, o incêndio começou após um pequeno produtor colocar fogo em uma área de mata, que seria destinada à pastagem de gado.
O fazendeiro perdeu controle das chamas, que se espalharam rapidamente, em decorrência da forte concentração de elementos combustíveis no solo pantaneiro.
“Lamentavelmente, uma atitude isolada trouxe o fogo que segue propagando. É um lugar de difícil acesso, subindo a cerra, alcançando altitudes que chegam a quase mil metros. Então o reforço está acontecendo para que a gente possa ter um controle mínimo e estamos na torcida para acontecer um evento climático, uma chuva para ajudar”, relatou o presidente do IHP, coronel Angelo Rabelo.
O fogo já destruiu 1.598 hectares de vegetação nativa da Serra do Amolar, área maior do que a metragem de 1 mil campos de futebol juntos.
Veja vídeos de Mato Grosso do Sul:
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