Cinco opositores que estavam na embaixada da Argentina na Venezuela deixaram o país nesta terça-feira (6), segundo governos da Argentina e dos Estados Unidos. Há, no entanto, uma guerra de narrativas com o lado estadunidense dizendo que houve um “resgate” e uma “fuga” dos opositores e o governo venezuelano, que foram negociados salvo-condutos para eles.
A informação inicial foi dada pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio. Em publicação nas redes sociais, ele afirmou que a saída dos opositores se trata de uma “operação de precisão” para “resgatar os reféns detidos pelo regime de Maduro”.
“Os Estados Unidos celebram o êxito resgate de todos os reféns detidos pelo regime de Maduro. Depois de uma operação precisa, todos os reféns estão em solo estadunidense. Estendemos nosso agradecimento a todas as pessoas envolvidas nessa operação e a nossos parceiros que ajudaram a assegurar a liberação segura desses heróis venezuelanos”, disse em seu perfil no X.
Não está claro, no entanto, quais foram as condições para essa saída. O Brasil de Fato ouviu de fontes do governo venezuelano que houve uma negociação para que os opositores deixassem a embaixada e, Caracas teria liberado salvo-condutos para eles em negociação que teria se arrastado por semanas.
Os opositores estavam na embaixada da Argentina na capital venezuelana desde março de 2024. No início, eram seis, mas Fernando Martínez Mottola se entregou em dezembro à Justiça do país e pediu uma medida cautelar. Mottola foi ministro do governo do ex-presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, entre os anos de 1992 e 1993. Ele morreu em fevereiro por derrame cerebral.
Os cinco venezuelanos opositores que permaneciam na embaixada eram do grupo opositor de extrema direita, Plataforma Unitária: Magalli Meda, diretora de campanha da ex-deputada ultraliberal María Corina Machado; Omar González, Claudia Macero, Humberto Villalobos e Pedro Urruchurtu, do grupo Vente Venezuela. Todos eles eram alvos de mandados de prisão acusados de organizar e participar de planos golpistas na Venezuela.
A principal delas é Magalli Meda, denunciada pelo Ministério Público de ter organizado em dezembro de 2023 reunião para planejar ações de desestabilização do país, que começaria em um protesto de rua em 15 de janeiro. Depois, em 23 de janeiro, uma marcha também seria realizada no aniversário de 66 anos do fim da ditadura na Venezuela.
A líder da extrema direita venezuelana, María Corina Machado, celebrou a saída dos opositores da embaixada. Ela chamou de “operação impecável e épica” e disse que ainda vai liberar cada um dos “900 presos”. A ex-deputada faz referência aos venezuelanos que foram presos por participar dos atos violentos depois das eleições presidenciais de 2024 que tiveram Nicolás Maduro vencedor para um terceiro mandato.
O governo argentino também comemorou a saída dos venezuelanos. Em nota, a Casa Rosada afirmou que a “extração” dos venezuelanos foi fruto do trabalho dos EUA. O texto agradece também o “compromisso” de Marco Rubio nessa “operação”.
“O presidente Javier Milei expressa sua gratidão a todos os envolvidos, e especialmente ao secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, por seu compromisso pessoal com esta operação, que tornou possível que esses verdadeiros heróis finalmente recuperassem sua liberdade. O governo valoriza os esforços para garantir a segurança e o bem-estar daqueles que estão há muito tempo sob a proteção argentina da perseguição do regime de Nicolás Maduro. Esta ação representa um passo importante na defesa da liberdade na região”, afirma a nota.
A embaixada argentina na Venezuela está sendo custodiada pelo governo brasileiro desde que Buenos Aires afirmou não reconhecer a eleição de Nicolás Maduro em 2024. A diplomacia brasileira, no entanto, afirma não ter conhecimento de quais foram os termos para a saída desses opositores e não ter participado de qualquer negociação neste sentido.
A custódia é uma ferramenta para que um país assuma a representação diplomática de outro governo. O Brasil havia assumido a embaixada da Argentina e do Peru no começo de agosto atendendo a um pedido do presidente Javier MIlei, após o governo de Maduro ter determinado a expulsão do corpo diplomático de sete países da América Latina que acusaram fraude na eleição presidencial sem apresentar provas.
A medida, no entanto, foi suspensa pelo governo venezuelano em setembro. Os diplomatas brasileiros negociaram uma troca para que outro governo assumisse a representação argentina a partir da indicação pelo próprio governo argentino de um novo país. Os argentinos, no entanto, não fizeram nenhuma indicação e, até agora, a embaixada continuou sob responsabilidade dos brasileiros.
Negociação para a saída
O caso envolvendo os exilados na embaixada argentina se arrastava desde março de 2024. Em 11 de dezembro, a Casa Rosada pediu que o governo da Venezuela concedesse salvos-condutos para os seis opositores deixem o país. O governo de Nicolás Maduro aceitou negociar a saída dos opositores depois de uma intermediação da Colômbia. De acordo com o ministro das Relações Exteriores colombiano, Luis Gilberto Murillo, os venezuelanos pediram a troca dos exilados pelo ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas, que está preso em Guayaquil.
De acordo com o jornal colombiano El Tiempo, Caracas ainda teria pedido a liberação da líder indígena Milagro Sala, presa na Argentina desde 2016. Ela é dirigente da organização Tupac Amaru e foi deputada do Parlasul de 2015 até sua prisão. Em 2019, foi candidata pela coligação socialista Frente para a Vitória. Além disso, é integrante da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA).
Ao longo de todo esse período, a chancelaria argentina acusou o governo venezuelano de promover cortes de água e de energia, restrição para a entrada de alimentos e fiscalização das forças de segurança ao redor da embaixada.