
O início de um novo ciclo de negociações entre Estados Unidos e China, com a reunião marcada entre o vice-premiê chinês He Lifeng e o secretário do Tesouro americano Scott Bessent, é visto por analistas como uma tentativa de conter o desgaste mútuo causado pela guerra tarifária. Mas para Fábio Fares, especialista em análise macroeconômica, o ambiente continua dominado pela desconfiança estrutural e interesses geopolíticos conflitantes, o que limita qualquer possibilidade de avanço real no curto prazo
“Os dois países não estão negociando apenas tarifas. Estão travando uma disputa por hegemonia tecnológica, controle de cadeias produtivas e influência global”, afirma Fares.
China-EUA: Tarifas de mais de 100% mostram escalada estratégica
Segundo o analista, a imposição de tarifas superiores a 100% em setores como veículos elétricos, semicondutores e energia limpa demonstra que o conflito é muito mais profundo do que aparenta. “Esses são os pilares da nova economia global. Quem controlar esses setores, controla a próxima geração de crescimento e inovação”, explica.
Enquanto os Estados Unidos tentam proteger seu mercado interno e manter o domínio tecnológico, a China reage com estímulos monetários — como o recente corte no compulsório e nos juros — para sustentar sua economia e mitigar os efeitos das barreiras comerciais. “Não é só estímulo econômico. É preparação para um confronto prolongado”, resume Fares.
Conflito EUA-China: impactos econômicos são assimétricos
Fares observa que, embora ambos os lados sofram, o impacto se dá de formas distintas:
- Nos Estados Unidos, o aumento do custo de importações chinesas pressiona os preços ao consumidor e afeta a indústria que depende de insumos da Ásia.
- Na China, as tarifas atingem o setor exportador e provocam fuga de capitais, desvalorização do yuan e uma desaceleração mais visível, com aumento do desemprego jovem e queda no varejo.
“A China tenta subir na cadeia de valor global, mas é justamente essa ambição que está sendo bloqueada pelas medidas americanas”, pontua o analista.
Diálogo aberto, mas sem aproximação real
Apesar da retomada do diálogo, Fares alerta que o movimento é mais defensivo do que conciliador. “Há pressão do setor privado americano por moderação tarifária, mas nenhuma das partes está disposta a ceder em temas estruturais. Qualquer trégua será tática e temporária.”
A tendência de médio e longo prazo, segundo ele, é o desacoplamento progressivo entre as duas economias. “Podem acontecer ajustes pontuais, mas o rumo está traçado: cada lado está tentando reduzir sua dependência do outro”, conclui.
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