Começa nesta quarta-feira (7) o conclave que elegerá o novo papa após o fim do pontificado de Francisco. O processo ocorre à porta fechada na Capela Sistina, no Vaticano, com a presença de 133 cardeais eleitores, embora, como aponta Frei Betto, o número de influentes nos bastidores seja ainda maior. “É um conclave atípico e absolutamente imprevisível”, avaliou o teólogo dominicano em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo Frei Betto, um dos principais fatores que tornam esta escolha diferente das anteriores é a diversidade do colégio eleitoral, com representantes de 71 países. “Tem cardeal que precisou usar crachá pela primeira vez. Muitos não se conhecem, o que é raro”, conta. Ele prevê mais tempo de discussões e negociações que nos dois últimos conclaves, que duraram 48 horas. “Acredito que vá durar de três a quatro dias”, especula.
Para o escritor e religioso, o cenário é de confronto entre duas alas da Igreja: os conservadores que viam Francisco como “papa comunista” e os que defendem a continuidade da sua agenda. “Os conservadores o achavam um papa avançado demais na área dos costumes. Ele apoiou o movimento LGBT e facilitou o acesso à eucaristia para pessoas divorciadas”, relembra.
No entanto, a ala progressista tem força. “Há também aqueles que são mais moderados e progressistas querendo dar continuidade à linha pastoral do Francisco”, afirma. As discussões ainda contam com apoio de cardeais influentes que, mesmo sem direito a voto, por terem mais de 80 anos, participam ativamente dos debates e articulações. “É um equívoco pensar que só os que votam decidem. Os demais participam dos conchaves e têm muita influência.”
Zuppi, o preferido
Entre os possíveis sucessores, a torcida de Frei Betto é pelo cardeal Matteo Zuppi, da Bolonha, presidente da Conferência Episcopal da Itália. “É o meu candidato, um homem muito progressista, totalmente afinado com Francisco, tanto nas questões de costumes, quanto nas questões sociais e climáticas.”
De qualquer maneira, ele aposta na eleição de um papa italiano. “Eles não se conformam de ter perdido a hegemonia do papado”, indica. Outro nome cotado na Itália é o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, considerado mais moderado.
Frei Betto também comentou a participação brasileira no conclave: são oito cardeais, sendo sete com direito a voto. O nome mais mencionado entre os brasileiros é Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus. “É o mais afinado com a linha de Francisco. Defensor dos povos originários, da Amazônia, do equilíbrio ambiental. Quando denuncia mazelas sociais, aponta as causas. Isso é raro.”
Apesar da afinidade com o projeto de Igreja representado por Francisco, o dominicano vê pouca chance de um novo papa latino-americano. “Depois de Bergoglio, acho difícil que elejam outro da América Latina agora.”
‘Americanos são arrogantes; africanos, conservadores; e filipino, muito novo’
Frei Betto descarta alguns nomes tidos como favoritos na imprensa internacional. Ele acredita que os cardeais norte-americanos, por exemplo, enfrentariam resistência. “Eles são os mais ricos da igreja e os mais arrogantes, há uma rejeição a eles muito forte. Essa rejeição deve ter aumentado no momento em que o [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump deu um tiro no pé ao divulgar aquela foto dele fantasiado de papa. Isso causou profunda indignação na igreja, inclusive por parte dos conservadores.”
Também vê pouca chance de um papa africano: “Todos os cardeais africanos são conservadores. Embora o catolicismo cresça no continente, acho muito difícil que o conclave venha eleger um cardeal que vai criar uma ruptura com a linha de Francisco.” O teólogo também descarta o filipino Luis Tagle, de 67 anos, apesar da popularidade e da atuação pastoral elogiada. “Ele é muito jovem, os cardeais não vão querer outro papa como João Paulo II, que ficou 26 anos no poder”, analisa.
‘Francisco foi o chefe de Estado mais respeitado do mundo’
A figura de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, permanece como uma referência incontornável no conclave. “Francisco, sem dúvida nenhuma, era o chefe de Estado mais respeitado do mundo. Tinha autoridade para intervir nos conflitos, nas guerras, nas situações de refugiados, nos problemas climáticos… Era uma pessoa com muita autoridade”, resume Frei Betto.
Com um colégio eleitoral dividido e interesses em disputa, a escolha do novo pontífice será decisiva para definir se a Igreja Católica seguirá na trilha aberta por Francisco, ou se tomará outro rumo. “Oremos para que o Espírito Santo ilumine os cardeais e que o escolhido dê continuidade à linha de Francisco”, pede o teólogo.
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