As lagartixas são visitantes frequentes em lares brasileiros, mas nem sempre bem-vindas. Pequenas, ágeis e silenciosas, elas aparecem e somem rapidamente, rastejando parede acima – e saber que são inofensivas não impede o susto em um encontro inesperado.
O Estadão consultou um especialista para responder às dúvidas e curiosidades mais comuns sobre as lagartixas dentro de casa. Confira:
De acordo com Miguel Trefaut Rodrigues, professor e herpetólogo (quem estuda répteis e anfíbios) do departamento de zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, a espécie mais comum de lagartixa dentro dos lares brasileiros é a Hemidactylus mabouia, apelidada de lagartixa-de-parede.
“Original da África, provavelmente chegou ao Brasil em navios negreiros, sendo amplamente distribuída no país”, conta o especialista. É uma espécie bem pequena, com tamanho médio por volta dos 7 centímetros, podendo ser um pouco menor ou maior.
Lagartixas maiores também podem ser encontradas no País, como as do gênero Phyllopezus, no Nordeste, e a Thecadactylus rapicauda, na Amazônia, que chega a 12 centímetros de comprimento.
“Existem no Brasil cerca de 35 espécies. Ao contrário das lagartixas de casa, que escalam paredes por conta das lamelas adesivas nos dedos, outras têm dedos simples e vivem no solo da mata ou em troncos de árvores. A imensa maioria não vive em ambientes antropizados”, ou seja, modificados pela ação humana.
Por que as lagartixas aparecem dentro de casa?
As lagartixas são pequenos répteis que, em geral, apresentam hábitos noturnos. Elas aparecem dentro de casa em busca de alimento, proteção e temperatura ideal – são seres que não conseguem regular a temperatura interna do corpo, dependendo do ambiente externo para fazê-lo.
Por isso, se escondem em lugares escuros durante o dia e saem à noite para caçar, explica Trefaut Rodrigues. Além das paredes, tetos e frestas, também são atraídas para locais próximos a fontes de luz, que, por sua vez, atraem os insetos. Esse cenário é um verdadeiro banquete para as lagartixas.
Lagartixa em casa é bom ou ruim?
As visitas das lagartixas pode incomodar algumas pessoas, mas sua presença dentro de casa é, na verdade, um bom sinal. Elas não são apenas úteis, como também importantes aliadas no ambiente urbano, uma vez que atuam como controlador biológico na redução de pragas de insetos – inclusive aqueles que transmitem doenças, caso de mosquitos como o Aedes aegypti.
“As lagartixas são animais inofensivos, adaptados à vida antrópica”, explica o pesquisador. Não há perigo para a saúde: elas não são venenosas, não mordem e não transmitem doenças diretamente para os humanos.
Quais insetos a lagartixa come?
A lagartixa se alimenta de insetos em geral, principalmente mosquitos, baratas, pequenas mariposas, aranhas e escorpiões. Também podem comer traças, outro inseto que adora aparecer dentro de casa.
O que é a ‘doença da lagartixa’?
“Doença da lagartixa” é o nome popular da platinosomose felina, uma parasitose transmitida aos gatos pela ingestão da lagartixa ou outros répteis infectados. Os sintomas incluem icterícia, vômito, perda de apetite e de peso.
É possível eliminar a presença das lagartixas em casa sem machucá-las?
Se o incômodo persistir, mesmo sabendo que a pequenina é inofensiva, não é necessário machucá-la. “O que se pode fazer é apanhá-las e soltá-las em outro local, com cuidado, já que lagartixas têm pele frágil e autotomia caudal, isto é, que se solta facilmente”, indica o herpetólogo.
Por que a lagartixa solta a cauda?
Uma curiosidade popular sobre as lagartixas é que elas “perdem” suas caudas quando se sentem ameaçadas. “A autotomia, o processo de soltar parte da cauda, é uma adaptação para evitar a predação. O predador fica com a cauda, que atrai a atenção por continuar com movimentos reflexos, enquanto o lagarto foge e se salva. Uma nova cauda se regenera”, explica.
Lagartixas são venenosas?
O pesquisador esclarece que trata-se de um mito bastante antigo, mas sem qualquer fundamento. “Isto vem das osgas, nome popular das lagartixas em Portugal e que ainda está presente em alguns locais do Nordeste. A ausência de pálpebras nessas espécies, semelhante às cobras, pode ter ajudado a disseminar esse mito”, afirma. Outros mitos popularescos são que lagartixa dá coceira e até que “se uma te morder, só larga quando trovejar, e por aí vai!”, lembra o Trefaut Rodrigues.
