O Brasil perdeu 970 mil hectares de superfícies de água nos últimos dois anos, área equivalente a quase sete vezes a cidade de São Paulo. A redução atinge rios, lagos e represas e é resultado direto de fatores como mudanças climáticas, uso intensivo de recursos hídricos pela agroindústria e queimadas criminosas, segundo Wagner Ribeiro, professor de Pós-graduação em Ciência Ambiental da USP.
Em entrevista ao Conexão BDF, da Rádio Brasil de Fato, Ribeiro explicou que mesmo quando o volume de chuvas permanece próximo da média histórica, por exemplo, a água tem chegado de forma mais concentrada e intensa em períodos curtos, o que impede sua absorção pelo solo e posterior abastecimento de aquíferos e rios. “A água acaba escoando com muito mais velocidade, e não penetra no solo. Ao não penetrar no solo, evidentemente ela não vai, depois, alimentar os corpos d’água”, afirma.
O uso intensivo da água por grandes empreendimentos do agronegócio e da indústria também agrava o cenário. “A monocultura tem um uso muito intensivo da água. Muitas vezes, deixando de usar técnicas já consolidadas, como a irrigação junto à base da planta, bastante utilizada e conhecida, que poderia ser implementada em mais escalas, mas prefere esses pivôs, muito perdulários, desperdiçam muita água”, diz Ribeiro. “Uma única indústria em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, consome o suficiente para abastecer 500 mil pessoas”, exemplifica.
Nessa crise, o Pantanal, bioma naturalmente alagadiço e rico em biodiversidade, vem sendo duramente afetado. Além da escassez de chuvas regulares, o avanço da pecuária extensiva contribuem para o desequilíbrio hídrico da região. “O Pantanal está bastante adaptado a essa alternância bastante expressiva do volume de água, só que nós estamos assistindo esse período de seca com muito mais intensidade do que o que tínhamos no passado”, alerta o professor.
De acordo com ele, isso acontece também por causa das queimadas criminosas na região. “O fogo contribui para abaixar o nível dos lençóis freáticos. Depois a chuva não vem com a mesma intensidade, não consegue fazer com que essa água aflore novamente”, esclarece. “Algumas espécies que só existem nessa área. Com isso, estamos perdendo o futuro também. É muito preocupante”, lamenta.
O professor lembra que, com a redução do volume de água, há maior concentração de poluentes. Casos como os crimes ambientais em Mariana e Brumadinho, e o garimpo ilegal na Amazônia, aumentam os riscos à saúde pública, especialmente entre comunidades ribeirinhas e povos originários. O uso de mercúrio em atividades garimpeiras contamina peixes e cursos d’água, colocando em risco a subsistência e a saúde de milhares de famílias.
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