
O Grupo Pão de Açúcar (GPA) voltou a chamar atenção dos investidores após a renovação de seu conselho de administração e a consolidação de um novo bloco de controle. Com a saída do grupo francês Casino e a chegada do empresário europeu Daniel Kretinsky, o mercado começa a reavaliar o potencial de valorização da companhia.
Phillip Soares, chefe de análise da Options & Co, comentou o tema em entrevista à BM&C News. Segundo ele, a troca de comando pode trazer uma nova perspectiva operacional ao GPA. “Sai o Casino, entra o Daniel Kretinsky, um empreendedor europeu com mentalidade mais voltada para a lucratividade. Essa mudança, aliada à presença de investidores estratégicos e minoritários relevantes, como Rafael Ferri e o grupo Tanure, pode pavimentar uma nova fase para a empresa”, afirmou.
Reconfiguração do bloco de acionistas e nova governança
A eleição recente para o conselho de administração consolidou um novo arranjo de poder dentro da empresa. Chapas ligadas ao antigo controlador foram superadas por uma nova composição mais alinhada com a busca por rentabilidade e eficiência operacional. Com isso, o GPA passa a contar com uma governança mais enxuta e alinhada ao interesse dos acionistas minoritários.
Entre os destaques dessa movimentação estão nomes ligados ao setor supermercadista e investidores com visão de longo prazo, que agora dividem espaço na estrutura decisória da companhia. “O novo grupo acionário tem histórico de atuação direta em negócios de varejo e deve pressionar por melhorias concretas no desempenho da empresa”, destacou Soares.
Pão de Açúcar: Endividamento ainda impõe cautela ao investidor
Apesar do otimismo com a nova gestão, o GPA ainda enfrenta um passivo robusto. De acordo com Phillip Soares, a dívida total gira em torno de R$ 7 bilhões, dos quais cerca de R$ 3 a R$ 3,5 bilhões são decorrentes de contratos de aluguel registrados como passivo devido à norma IFRS 16. Além disso, a empresa possui passivos tributários de relevância.
“Mesmo com melhorias operacionais, a lucratividade da companhia está muito aquém do que poderia. Isso mantém muitos investidores institucionais e gestores mais conservadores afastados do papel neste momento”, afirmou o analista.
Foco em rentabilidade pode destravar valor a médio prazo
Com a saída do Casino e a nova filosofia de gestão, a expectativa é que a companhia passe a priorizar rentabilidade e gestão de custos. Segundo Soares, esse é um ponto positivo para quem acompanha o GPA há mais tempo. “A empresa precisa agora entregar margens melhores e provar que consegue manter ganhos operacionais consistentes”, pontuou.
As ações do Pão de Açúcar já vinham se recuperando nos últimos meses, impulsionadas por essa perspectiva de virada de chave. Ainda assim, a volatilidade do papel e o perfil mais arriscado do investimento mantêm a empresa fora do radar de algumas casas de análise que priorizam blue chips com fundamentos mais sólidos.
“Nós, aqui na Options & Co, preferimos neste momento empresas menos alavancadas e com menor exposição à volatilidade. Por isso, apesar de reconhecermos que o GPA pode gerar retornos expressivos, não vemos como um investimento adequado ao nosso portfólio agora”, explicou Soares.
Case promissor, mas ainda exige cautela
A reestruturação societária do Grupo Pão de Açúcar é um divisor de águas na história recente da companhia. A entrada de um novo controlador com foco em resultado, somada à presença de minoritários estratégicos, cria uma janela de oportunidade para destravar valor.
Contudo, o elevado endividamento, os desafios operacionais e a necessidade de recuperar margens ainda mantêm o GPA em uma zona de atenção para investidores institucionais. A tese segue viva — e talvez mais promissora —, mas seu sucesso dependerá da execução prática da nova estratégia.
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