Opinião: “O PT vai decidir em julho entre a sobrevivência e o naufrágio”

As eleições que vão decidir a presidência do Partido dos Trabalhadores no dia 6 de julho serão cruciais para o futuro da sigla, que hoje sofre a ação de dissidências que contestam a candidatura do ex-prefeito Edinho Silva, avalizada por Luiz Inácio Lula da Silva. De todos os nomes colocados no tabuleiro, se destacam apenas os do próprio Edinho e do deputado Rui Falcão (nenhum parentesco em relação ao signatário desse texto).

Neste contexto, o ex-prefeito de Araraquara representa a ala moderada da agremiação, enquanto o deputado é ligado aos grupos mais radicais. Dessa forma, o embate pelo controle do partido pode ter implicações significativas na condução de Lula neste terceiro mandato.

Com Edinho, tudo se manterá como está e o PT continuará a ser uma ferramenta para ajudar o governo. Caso Falcão vença o pleito interno, porém, haverá uma pressão para que o Planalto dê uma guinada mais forte à esquerda e minimize os acordos com o Centrão, abrindo mais espaço para o petismo raiz na Esplanada dos Ministérios.

Muitos petistas se ressentem dos acertos políticos estabelecidos por Lula durante a campanha, que resultaram na nomeação de vários ministros fora do campo da esquerda. Esses militantes estão por trás da candidatura de Rui Falcão ou de outros nomes que, na reta final, vão apoiar o deputado federal.

Já Edinho, cujo grupo em tese controla 45% da militância do partido, quer um diálogo moderado com a oposição e fará um enorme esforço para ampliar a base de apoio do governo no Congresso.

O estilo de cada um dos candidatos pôde ser comparado recentemente, quando Rui Falcão fez uma visita à embaixada da Palestina (no conflito do Oriente Médio, a esquerda apoia abertamente os palestinos contra o Estado de Israel). Já Edinho, alguns meses atrás, visitou a embaixada dos Estados Unidos, quando participou de um evento que debateu os cenários da política nacional e internacional para os próximos meses.

Essas duas visitas são significativas e mostram o alinhamento de cada um em relação a seus projetos à frente do partido.

Para Lula, uma eventual derrota de Edinho será catastrófica. O empresariado já vê o governo como esquerdista demais – e pressiona por uma gestão mais moderada, especialmente no que diz respeito à economia. Caso Falcão seja o vencedor, o grande temor é o de que o Planalto resolva atender à militância e assumir um esquerdismo que, até agora, tem sofrido retoques para ser disfarçado.

Além disso, o presidente não pode se dar ao luxo de mostrar fragilidade dentro de seu próprio partido. Isso inflaria o custo do apoio dado pelo Centrão ao governo e deixaria o Planalto ainda mais refém dos centristas para a aprovação de qualquer medida no Congresso.

Lula fará de tudo para neutralizar Rui Falcão e seus apoiadores, mas não pode pesar tanto a mão, sob pena de ampliar o racha que já existe dentro do partido. Tudo isso, ainda, ocorre em um momento no qual o governo se ressente de um escândalo hediondo ocorrido no ministério da Previdência, com irregularidades inadmissíveis cometidas embaixo das barbas do ex-ministro Carlos Lupi.

O escândalo deve ampliar a reprovação popular que Lula experimenta hoje, deixando-o mais fragilizado em relação ao Centrão. É também por isso que ele não pode ser derrotado em uma disputa interna. Por enquanto, o Planalto está empenhado em pilotar a crise que se abriu com as denúncias envolvendo a previdência. Mas, em meados de julho, preparem-se: haverá uma blitzkrieg concentrada em cima dos petistas mais radicais. É consenso em Brasília: Lula não pode perder essa batalha.

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