50 anos da derrota dos EUA no Vietnã: ‘Foi um triunfo da luta anti-imperialista’, classifica professor

Em 30 de abril de 1975, helicópteros dos Estados Unidos decolavam às pressas da embaixada em Saigon, capital do Vietnã do Sul, marcando o fim de uma das guerras mais longas e traumáticas do século 20. Meio século depois, a cena da evacuação emergencial permanece como um símbolo incontornável da derrota norte-americana. Para o professor de filosofia aposentado da Universidade de Campinas (Unicamp) João Quartim de Moraes, o episódio representou “um triunfo da luta anti-imperialista”, que reposicionou o campo socialista no tabuleiro geopolítico da Guerra Fria.

Em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, Quartim recordou o impacto simbólico e militar da ofensiva final. “A guerra do Vietnã, por ter terminado com uma vitória integral das forças anti-coloniais, das forças patrióticas de libertação nacional, é um triunfo da luta anti-imperialista, da luta dos povos”, classificou. “Foi uma derrocada realmente. Alguns soldados estadunidenses disputavam, à ponta do revólver, o direito de embarcar.”

O conflito, que oficialmente terminou com a queda de Saigon em 1975, começou ainda nos anos 1940 com a resistência vietnamita à ocupação japonesa e, depois, à retomada colonial francesa. “Desde a libertação do país, em 1945, os vietnamitas enfrentaram sucessivas potências coloniais”, explicou o professor. A derrota dos franceses em 1954 na fortaleza de Dien Bien Phu abriu caminho para a divisão do Vietnã do Norte, socialista, e do Sul, apoiado pelos EUA.

Segundo Quartim, o conflito escalou com a intervenção direta dos Estados Unidos a partir da década de 1960. A partir de então, o Vietnã tornou-se o principal palco da chamada “guerra por procuração” entre EUA e União Soviética. “Embora a URSS [União das Repúblicas Socialistas Soviéticas] e a China tenham apoiado o Vietnã, houve tensões entre os dois países, o que dificultou a ajuda soviética”, contou.

Saldo humano e disputa ideológica

Cerca de 1,1 milhão de vietnamitas, entre soldados e guerrilheiros, morreram no conflito, contra aproximadamente 350 mil mortos do lado sul-vietnamita e estadunidense. Só os EUA contabilizaram quase 60 mil soldados mortos, o que, de acordo com o professor, gerou forte comoção interna.

Quartim ressaltou que a resistência vietnamita enfrentava uma máquina de guerra cruel, com superioridade tecnológica. “A disparidade de perdas se explica pelo poder de destruição massiva dos Estados Unidos, com bombardeios, tanques, viaturas e armamentos pesados”, disse.

Ainda assim, o Vietnã venceu. E essa vitória reverberou pelo mundo, com impacto direto na opinião pública norte-americana. “A juventude, o movimento negro, artistas, intelectuais… Houve uma verdadeira fratura moral e cultural nos EUA”, relatou. Nomes como Martin Luther King Jr. e a atriz Jane Fonda, inclusive, se engajaram contra a guerra.

“Os centros culturais e intelectualmente mais avançados, menos tacanhos; a juventude estudantil; a militância do movimento negro dos Estados Unidos e outras forças sociais importantes se ativaram e lutaram muito”, pontuou Quartim. “A direita chegou a dizer que os EUA foram derrotados por causa do inimigo interno. Não é verdade. O inimigo interno se mobilizou porque a resistência de Estados Unidos estava muito forte”, concluiu.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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