
Um dos principais símbolos da celebração de Pentecostes, a bandeira tem elementos com diversos significados. Crianças e jovens têm acompanhado a programação da Festa do Divino de Mogi das Cruzes, carregando sua própria bandeira. Bandeira do Divino é um dos símbolos da Festa do Divino Espírito Santo
Maiara Barbosa/G1
A bandeira do Divino já foi eternizada na canção de Ivan Lins, mas é nas mãos dos devotos que ela ganha verdadeiro destaque.
A Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes começa só no final de maio, mas os devotos não se separam nunca deste símbolo de fé que passa de geração em geração.
A Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes de 2025, será realizada de 29 de maio a 8 de junho, comemorando 412 anos de fé e devoção da festividade religiosa e folclórica.
O tema da festa será “Divino Espírito Santo e São Francisco, nosso irmão! Ensinai-nos a contemplar o esplendor da criação”. O evento será comandado pelo festeiro João Pedro Mota e pelos capitães-de-mastro Lizandro Leonardo da Silva Corrêa e Patrícia Aparecida do Espírito Santo Corrêa.
Herança de Fé
Rodrigo de Campos, de 14 anos, carrega a bandeira do Divino desde os 3 anos. De uma família devota ao Espírito Santo, ainda criança era levado às alvoradas pela mãe, pelo pai e pela avó. Já o avô o levava à quermesse. O jovem tem ainda duas tias-avós rezadeiras.
Ele contou que quando completou 9 anos trocou sua bandeira pela que tem atualmente. Para ele, a bandeira é um dos principais símbolos do Divino.
“A bandeira do Divino simboliza para mim o amor, a esperança e também a devoção ao Divino. A bandeira é um dos principais símbolos da festa de Mogi das Cruzes”, explicou o imperador da Festa do Divino de 2024.
Rodrigo de Campos contou que todo ano fica ansioso para o começo das celebrações de Pentecostes.
“A partir do dia que as rezadeiras vêm na minha casa, aí é só Divino para mim. É enfeite, é decoração, é música, é tudo. Os que eu mais costumo ir são na alvorada, na entrada dos palmitos, na quermesse, na Procissão de Pentecostes e na missa de encerramento”, relatou.
Aos 3 anos, Campos ganhou sua primeira bandeira do Divino
Reginaldo Campos
Para ele, o significado do que a bandeira representa começou bem cedo.
“Eu quis a bandeira do Divino, porque é um símbolo da cidade que, com o tempo, eu fui descobrindo o significado e eu fui me apaixonando mais. […] E também pela devoção, pelo Divino Espírito Santo que eu tenho”, mencionou.
O jovem de 14 anos com sua bandeira do Divino em uma das alvoradas
Reginaldo Campos
Produção de um símbolo de fé
Em 1996, a artesã e restauradora de imagens sacras Elisete Ortiz dava aulas de pinturas em tecidos e tinha uma loja de materiais artísticos. E foi nessa época que ela recebeu de um cliente um pedido para confeccionar uma bandeira do Divino.
“As pessoas começaram a ver e começaram a encomendar. A partir da primeira bandeira que eu pintei, foi crescendo, eu comecei a participar da Oficina das Divineiras. Da bandeira comecei a fazer o mastro, algumas lembrancinhas, chaveiro, porta-chave e painéis pequenos”, relatou a artesã que também produz o estandarte da Casa da Festa.
De acordo com Elisete, as crianças passaram a procurar as bandeiras do Divino para acompanharem os evento da festa.
A artesã destacou que a bandeira infantil é menor, assim como o mastro e a ponteira e é mais leve.
“Me surpreendeu o numero de crianças. A criança vem no ateliê pra ela escolher a bandeira dela. Está despertando na criança uma devoção, uma curiosidade pela festa e vai acrescentando afeto à criança.”
Elisete explicou que a pomba que fica no mastro é feita de madeira e vem de Minas Gerais. Já o tecido usado é o cetim e ela faz o desenho e a pintura. A artesã também corta o tecido e coloca as franjas. A média é de quatro dias para a bandeira ficar pronta.
“A pombinha que representa o Espírito Santo é o símbolo maior. O pano é vermelho e a pombinha é branca. A gente acrescenta os sete dons, ou eu faço um grafismo com os sete dons, tom sobre tom, ou então eu coloco as cores mesmo. […] tem a ponteira, onde vai o Divino de madeira e faço uma coroa com arame forrado com fita de cetim e umas rosinhas de feltro e mais as fitinhas dos sete dons”, detalhou Elisete.
Segundo a artesã, a bandeira do devoto possui dimensões de 90 e 70 centímetros, um tamanho médio e não fica tão pesada para carregar. Isso porque muitos fiéis costumam ir de transporte público as alvoradas e novena.
“No ano passado, minha ponteira estava atrapalhando no ônibus. Eu adaptei uma ponteira que desenrosca do mastro e ela consegue transportar melhor e depois ela enrosca de novo. A cada ano aparece um pedido diferente e a gente vai adaptando”
O preço das bandeiras varia de R$ 35 a R$ 250, e geralmente a artesã costuma ter elas a pronta entrega. Elisete contou que o que mais gosta ao produzir as bandeiras é saber das graças alcançadas pelas pessoas que vão até o ateliê fazer as encomendas.
“[…] é muto gratificante, tem esse outro lado da fé das pessoas que alimenta a nossa própria fé, é muito gostoso. É um período em que as pessoas estão a fim de compartilhar com a gente, as pessoas entram no ateliê e não querem nem comprar nada, só compartilharem a fé delas. Parece que une as pessoas […] elas conversam de coração aberto, contam partes da vida delas, em função do Divino, é muito emocionante ouvir as histórias delas”.
Artesã confecciona bandeiras há mais de 20 anos
Elisete Ortiz/Arquivo Pessoal
Bandeira dos festeiros
Os festeiros da Festa do Divino de Mogi das Cruzes confeccionam a bandeira de acordo com as características, com o lema e com o logo escolhidos para a festa que organizam. Mas, o casal apresenta o estandarte apenas no primeiro dia da festa.
Durante todo o período de preparação, os festeiros usam a bandeira dos organizadores do evento do ano anterior. E ela só é entregue aos antigos donos quando a festa começa.
O festeiro de 2025, João Pedro da Mota, contou que a bandeira que vai usar esse ano foi feita por uma costureira em São Luiz do Paraitinga e demorou dois meses para ficar pronta.
Desde quando foi anunciado, ele passou a usar a bandeira do casal de festeiros de 2024. No dia 29 de maio, quando começa a festa, Mota passa a usar sua própria bandeira e devolve a bandeira que está usando.
Mota explicou que ao carregar a bandeira sente todo o respeito e devoção ao Divino Espírito Santo.
“As pessoas olham pra bandeira, abraçam a bandeira, se cobrem com a bandeira. É um gesto muito emocionante”.
Segundo Mota, para este ano 100 bandeiras a mais foram fabricadas e vão ser distribuídas aos devotos. Será uma bandeira em cada barraca na quermesse.
“Estamos resgatando a história das bandeiras e esse ano tem duas coisas que são só o início. As bandeiras e o meio ambiente. Estaremos implementando mais bandeiras e medidas de meio ambiente”.
Símbolo de Fé
O vermelho da bandeira representa a luz do Espírito Santo que se manifestou em forma de língua de fogo sobre os apóstolos no Dia de Pentecostes. Essa é a cor que a bandeira do Divino precisa ter, além de uma pomba branca estampada em um dos seus lados.
“A pomba é outro símbolo do Divino. Ele se manifestou em forma de pomba no batismo de Jesus. O mastro da bandeira tem a imagem de uma pomba esculpida, pode ser de metal ou madeira. A dos devotos às vezes podem vir sem, mas dos festeiros normalmente devem ter a pomba na parte superior”, explicou a coordenadora da Casa da Festa, Márcia Andere.
Ela disse ainda que as fitas da bandeira não podem ser de qualquer comprimento e precisam ter o tamanho de uma pessoa ou de uma cabeça.
“As fitas são colocadas pelos devotos que fazem alguma promessa, ou esperam alcançar alguma graça e colocam nas bandeiras. Muitos devotos chegam e dão nó nessas fitas, esses nós são pedidos que estão sendo feitos”, descreveu.
De acordo com a coordenadora da Casa da Festa, que também foi festeira em 1998 e seus pais em 1993, a bandeira do festeiro caminha por vários lugares. Ela visita abrigos, hospitais, eventos que recebem a festa do próximo ano e só retorna para a mão de seu dono na véspera da festa do próximo ano.
“O festeiro faz com carinho e já tem que entregar. Depois ela se torna uma relíquia da família”.
Segundo Marcia, Mogi das Cruzes é a cidade que mais leva bandeiras às ruas durante a festa. Alguns devotos fazem promessa de confeccionarem bandeiras e doarem durante a alvorada.
“O devoto que recebe, pra ele, é mais importante, tem um significado maior. […] Ela [bandeira] tem um significado forte, eles [devotos] fazem questão de mostrar sua fé carregando sua bandeira”, contou.
O mastro da bandeira tem a imagem de uma pomba esculpida, pode ser de metal ou madeira.
Elisete Ortiz
Devotos participam de evento da Festa do Divino no Museu de Arte Sacra
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