Estado de SP possui 8 espécies de lambaris ameaçadas de extinção


Peixes possuem como principal ameaça a destruição do habitat, decorrente da expansão urbana na região. Lambari-azul-listrado (Mimagoniates lateralis) é uma das espécies ameçadas de extinção no estado de São Paulo
jhalliprandini/iNaturalist
De 66 espécies de lambaris presentes no estado de São Paulo, oito estão na lista de espécies ameaçadas de extinção e estão proibidas de serem pescadas, conforme o decreto Nº 63.853, de 2018, divulgado pelo governo estadual.
Piquira-de-duas-listras (Coptobrycon bilineatus)
Lambari-do-tietê (Hyphessobrycon duragenys)
Lambari-azul-listrado (Mimagoniates lateralis)
Garrida (Pseudocorynopoma heterandria)
Lambari-de-restinga (Rachoviscus crassiceps)
Piquira-de-restinga (Spintherobolus broccae)
Piquira-do-ribeira (Spintherobolus leptoura)
Piquira-cabeçuda (Spintherobolus papilliferus)
De acordo com Fernando Dagosta, zoólogo especialista na diversidade e distribuição geográfica de peixes de água doce com ênfase em lambaris, a maior ameaça a essas espécies é a destruição de seus habitats.
“A expansão urbana em São Paulo tem consumido os últimos ambientes de Mata Atlântica que essas espécies habitam, colocando-as em risco. Certo grau de atenção é devido ao comércio dessas espécies para o mercado de aquariofilia. Como são espécies extremamente raras, são desejadas por entusiastas de aquarismo na Europa e Ásia”, explica Fernando.
Nenhuma das espécies ameaçadas ocorre em grandes rios, e são espécies muito exigentes em termos de habitat. Vivem exclusivamente em riachos de Mata Atlântica, com água corrente mais gelada, transparente, com alto teor de oxigenação e ambientes sombreados pela mata.
“Esse não é o tipo de ambiente que um pescador amador ou esportivo busca ao fazer uma pescaria. Inclusive, essas espécies ameaçadas são tão pequenas que dificilmente poderiam ser pescadas com linha e anzol. A maior delas alcança por volta de 6 cm de comprimento”, diz o zoólogo.
Todas as espécies podem ser encontradas perto da região da Serra do Mar, em São Paulo, e em reservas ambientais, tornando-os animais extremamente “específicos”.
Fernando diz que o número de espécies ameaçadas não aumentou nem diminuiu. “Nós não podemos falar nem que está aumentando, nem que está diminuindo. Mais ou menos padronizado em relação aos últimos anos, vamos colocar assim”, explica.
As espécies ameaçadas são proibidas de serem pescadas durante todo o ano, até que haja uma atualização dessa lista e a espécie seja retirada da categoria no futuro. Um exemplo disso é o lambarizinho-de-rabo-vermelho (Astyanax trierythropterus), que se tornou proibido para pesca em 2009 e liberado em 2018, após quase uma década.
Lambarizinho-de-rabo-vermelho (Astyanax trierythropterus)
Fernando Dagosta
Ficar por dentro das atualizações sobre espécies ameaçadas de extinção é crucial para pessoas que trabalham no meio, sobretudo pescadores. O objetivo de regras como essas é preservar a diversidade marinha, garantir a saúde de ecossistemas e o cumprimento de regulamentações e leis ambientais.
“O Código Penal Brasileiro estabelece que ‘o desconhecimento da lei é inescusável’. Isso significa que, em geral, alegar desconhecimento de atos normativos não é uma justificativa válida para evitar a responsabilidade legal por uma infração. Esse é o mundo ideal. A realidade é muito mais complexa”, diz Fernando.
As espécies ameaçadas nacionais ou estaduais são publicadas frequentemente em artigos denominados “livros vermelhos”. Nessas publicações, que ficam disponíveis online, a sociedade tem acesso a fotos e informações sobre cada uma das espécies ameaçadas.
Importância para a natureza
Fernando informa que essas espécies possuem o mesmo grau de importância para a natureza como qualquer outra espécie de peixe ou organismo nativo, sendo cruciais para a dinâmica da cadeia alimentar: servindo como fonte de alimento para predadores maiores e contribuindo para a regulação populacional de diversas espécies no ambiente aquático.
“A presença das espécies contribui para a variedade de organismos presentes no ecossistema dos rios, o que é fundamental para a estabilidade do ambiente. A biodiversidade está diretamente associada à saúde dos ecossistemas e a capacidade deles de enfrentar perturbações geradas pelo homem”, explica o pesquisador.
“Os lambaris influenciam a ciclagem de nutrientes na água, impactando a disponibilidade de recursos para outras espécies no ambiente aquático. Os lambaris são consumidores omnívoros, ou seja, se alimentam de uma variedade de recursos, incluindo insetos, pequenos crustáceos, larvas, e até mesmo matéria vegetal como sementes e frutos”, finaliza.
Atualmente, são conhecidas 1.275 espécies de lambaris. Elas estão espalhadas desde o norte do México, na divisa com os Estados Unidos, até o sul da Argentina, tendo uma ampla distribuição nas Américas. A maior parte dos lambaris, entretanto, habita águas brasileiras, tanto no Cerrado quanto na Amazônia.
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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