Em um dia de pandemia, com o mundo em pausa, estávamos isolados em casa eu, minha esposa Luciana, nosso filho Eduardo e o Cookie, nosso maltês. Trabalhávamos e estudávamos com o que tínhamos em mãos – fé, alegria, resiliência, conexão digital e um senso de gratidão por ainda podermos seguir adiante. À nossa volta, um cenário de incertezas, tanto sobre o futuro, quanto sobre a segurança diante de um contexto social cada vez mais pressionado.
Foi nesse clima que, ao abrir o WhatsApp, me deparei com uma mensagem de Rodolfo e Maísa, um casal que nos é muito querido. No vídeo, Rodolfo, goiano raiz, fazia uma pausa no caos para brindar com uma dose de cachaça e me desafiava a fazer o mesmo. Aceitei e virei. E, sem querer, aquele gesto simples se espalhou como uma onda positiva entre famílias e grupos de amigos. Estávamos, de alguma forma, próximos. Em rede. Unidos por vínculos invisíveis de afeto, mesmo em tempos de isolamento físico.
Acredito que muitos tivemos a esperança de que sairíamos da pandemia como uma sociedade melhor: mais humana, mais solidária, mais conectada no que realmente importa. Mas a realidade foi mais complexa. A volta à normalidade trouxe, com ela, antigos padrões e desafios que já conhecíamos.
A IA como supermind: inteligência que integra, não substitui
Hoje, vejo na Inteligência Artificial (IA) uma janela importante para retomar o sonho de um mundo melhor que a pandemia brevemente nos inspirou. Mas não falo da IA como ciência isolada, e sim dentro de um conceito mais amplo e poderoso: a supermind.
Esse conceito, desenvolvido por Thomas Malone, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), descreve sistemas compostos por profissionais e IA trabalhando juntos, onde o Quociente de Inteligência (QI) do grupo é maior do que o das partes individuais. Trata-se de uma inteligência coletiva elevada, em que humanos e algoritmos colaboram para tomar melhores decisões, resolver problemas complexos e gerar impacto positivo.
Para que este sistema funcione efetivamente, as pessoas precisam aprimorar suas inteligências sociais, participar ativamente e gerar mais valor para suas empresas e clientes, otimizando recursos. É nessa combinação de eficiência e humanidade que encontramos o potencial para um mundo melhor.
A IA não é um substituto da inteligência humana, mas um catalisador de sua potência. Ela amplia nossas capacidades analíticas, nossa memória, nossa habilidade de prever cenários e personalizar interações. Ela nos chama para o futuro que idealizamos, mas ainda não concretizamos.
Para comprovar que a IA, como supermind, aponta para um mundo melhor, destaco suas características transformadoras a seguir:
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Colaboração ampliada: a IA auxilia equipes colaborativas (squads superminds) a terem visões mais consistentes e sem viés da realidade, permitindo ações mais arrojadas e assertivas.
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Dinamismo: algoritmos podem tornar os processos mais dinâmicos, garantindo que informações importantes sejam percebidas e processadas em tempo real.
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Legado: à medida que algoritmos nos liberam de tarefas repetitivas, temos mais espaço para o trabalho criativo, inovador e significativo que nos realiza como seres humanos.
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Clientes mais felizes: a capacidade de hiperpersonalização permite atender clientes de forma diferenciada, criando experiências que realmente respondem às suas necessidades individuais.
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Retorno: a IA otimiza recursos e processos, contribuindo para um crescimento mais sustentável das empresas e da sociedade como um todo.
Em tempos de Páscoa, momento simbólico de renascimento e reflexão, acredito que a supermind pode ser o caminho real para realizar o que a pandemia nos inspirou a imaginar: um mundo mais consciente, mais colaborativo e, sim, mais humano.
Talvez tenhamos falhado em transformar o trauma coletivo em mudança profunda. Mas ainda temos tempo, oportunidade e CIÊNCIA. Podemos usar essa inteligência coletiva não apenas para crescer economicamente, mas para evoluir como sociedade.
No entanto, o desafio reside em como começar a incorporar o conceito de supermind em nossas práticas diárias. O futuro mais humano que imaginamos durante o isolamento pode estar mais próximo do que pensamos, bastando que saibamos equilibrar tecnologia e humanidade.
Ricardo Villaça, CAIO – Diretor de Inteligência Artificial da DRL AI.