Com mais de 6 mil candidatos e 54 partidos, Venezuela inicia campanha eleitoral para governadores e deputados

A campanha eleitoral para governadores e deputados começou nesta terça-feira (29) na Venezuela. Marcado para 25 de maio, a campanha será feita até o dia 22 do mesmo mês. Até lá, os candidatos poderão pedir votos, fazer campanha de rua e terão um tempo na televisão para propaganda eleitoral. Ao todo são 6.687 candidatos e candidatas em todo o país. Destes, 53,93% são homens e 46,07% mulheres. Para este pleito, 54 organizações políticas estão inscritas, sendo 36 a nível nacional, 10 regionais e 8 indígenas.

O pleito tem dois lados que vivem situações muito distintas nove meses depois de uma eleição presidencial acirrada. A oposição enfrenta um problema tradicional entre a direita venezuelana: a divisão. Já do lado do governo, o clima é de cautela.

A vitória de Nicolás Maduro em 2024 para um terceiro mandato foi marcada por uma campanha difícil e acendeu o alerta, já que o candidato de oposição Edmundo González Urrutia teve 5,3 milhões de votos, apenas 1,1 milhão a menos que o chavista. 

A campanha do governo foi nomeada Ven25+, em alusão aos 24 estados que participarão do pleito, além do Distrito Capital. O chefe do comando de campanha será o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodriguez. Ele foi responsável em 2024 pela campanha do Grande Polo Patriótico, coalizão do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) com outras 10 siglas. 

Na abertura da campanha, Rodriguez deu uma declaração à imprensa afirmando que essas eleições serão uma recuperação do diálogo nacional. Ele convocou os venezuelanos para votar e disse que os candidatos do governo representam uma constância, diferentemente dos opositores que, segundo o congressista, foram morar em outros países no momento mais duro da crise venezuelana. 

“Esse é um chamado à participação. Independente da lista que você vote, que você escolha, de como pense. Que cada voto seja um rechaço ao extremismo e à violência. Que cada voto seja um voto para recusar as sanções, bloqueio e a quem pediu golpe de Estado. A quem roubou empresas nossas e vivem hoje fora do país. Nós sempre estivemos aí. Não fomos para outros países e voltamos para nos candidatar. Não somos oportunistas”, disse.

A campanha do governo também terá como mote o respeito aos venezuelanos migrantes. Desde que assumiu o governo dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump começou a implementar uma política de deportação em massa de imigrantes que viviam de maneira irregular nos Estados Unidos. 

O caso mais recente foi de uma criança de dois anos de idade, Maikelys Antonella Espinoza Bernal, que foi separada dos pais. Caracas chamou a ação de “sequestro” da criança. Os pais são cidadãos venezuelanos, tentaram ir aos EUA e foram deportados no plano de expulsões massivas de Donald Trump, acusados de fazer parte do grupo criminoso Trem de Aragua. 

Rodriguez falou sobre o caso e disse que as forças revolucionárias estarão dedicadas a tentar trazer de volta a criança e que a campanha da esquerda na Venezuela terá como foco os migrantes. 

Oposição rachada com nome conhecido

Mesmo recebendo o segundo maior número de votos das últimas eleições com o ex-embaixador Edmundo González Urrutia, a coalizão opositora Plataforma Unitária está promovendo a abstenção e desestimulando os venezuelanos a não votarem. Eles alegam fraude na corrida presidencial de 2024 e dizem que participar destas eleições seria legitimar a vitória de Nicolás Maduro.

Outra parte da oposição acredita que é necessário disputar o pleito com o maior número possível de candidatos e disputar espaços de poder. Partidos tradicionais como a Ação Democrática (AD) e o partido cristão Copei vão buscar eleger deputados e governadores para manter a influência sobre a política venezuelana. Até mesmo grupos que integram a Plataforma Unitária, como o partido Un Nuevo Tiempo, vão postular candidatos.

Um desses nomes é Henrique Capriles. Ele foi governador do estado de Miranda, na região central da Venezuela, e candidato presidencial das eleições de 2012 contra Hugo Chávez e 2013 contra Nicolás Maduro, perdendo as duas. Capriles foi inabilitado em 2017 por 15 anos no país acusado de cometer delitos administrativos durante seu mandato como governador (2008-2017).

Agora, ele afirma que a sua inabilitação foi suspensa e será candidato a deputado. De acordo com Capriles, é preciso participar para garantir a disputa com o chavismo pelas vias eleitorais. 

“Após oito anos de inabilitação, esta ordem política foi revogada. Quem pode responder às razões pelas quais estou autorizado é quem emite a ordem de autorização. Temos que assumir a liderança, não ficar de braços cruzados, temos que estar na frente, e é por isso que assumi o papel de participar, não apenas no exercício do voto. Para mim, 25 de maio significa: ou continuamos vivos, lutando com o que temos, ou simplesmente cedemos à resignação e ao desespero, e o governo consegue o que quer”, disse. 

O racha na oposição deixa clara uma diferença de perspectivas na direita venezuelana. O lado encabeçado pela ultraliberal María Corina Machado pede a abstenção enquanto outra parte da própria extrema direita, liderada por Capriles, entende que o ideal é tentar uma “negociação” com o governo.

“Acredito no processo de negociação, e acredito que a Venezuela precisa de um grande processo de negociação. Esse não é um processo que me preocupa; tem que ser um processo entre o governo e o que o governo representa, e a oposição democrática e o que a oposição democrática representa”, afirmou.

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