
A Coca-Cola apresentou seus resultados do primeiro trimestre de 2025 nesta terça-feira (29), com números que superaram parte das estimativas do mercado, mas também trouxeram ajustes importantes em suas projeções para o restante do ano. A companhia registrou lucro líquido de US$ 3,33 bilhões entre janeiro e março, uma alta de 5% em relação ao mesmo período de 2024.
Lucro por ação supera previsões; receita recua
O lucro por ação (LPA) da Coca-Cola foi de US$ 0,73, levemente acima da previsão de analistas, que projetavam US$ 0,72 para o trimestre. Apesar do desempenho positivo no resultado líquido, a receita líquida caiu 2%, totalizando US$ 11,13 bilhões, ficando abaixo da estimativa média de US$ 11,16 bilhões.
Esse desempenho reflete um cenário de desaceleração de volumes em algumas regiões e ajustes na política de preços, que ainda estão sendo absorvidos pelos mercados consumidores. A companhia não detalhou que linhas de produtos ou geografias registraram maior pressão, mas reforçou a manutenção de estratégias comerciais para mitigar os efeitos sobre suas vendas globais.
Guidance de receita é mantido, mas lucro ajustado é revisto
Apesar da queda na receita, a Coca-Cola reafirmou sua projeção de crescimento da receita orgânica entre 5% e 6% para 2025, mantendo a estratégia de expansão de presença nos canais diretos e digitalização de vendas. No entanto, a empresa revisou para baixo a expectativa de crescimento do lucro ajustado por ação, que agora deve ficar entre 7% e 9%, ante a faixa anterior de 8% a 10%.
A revisão indica cautela diante de um ambiente de custos ainda pressionado e de incertezas relacionadas a cadeias globais de suprimentos, consumo e flutuação cambial. A companhia sinaliza que, embora mantenha boa margem operacional, alguns ajustes serão necessários ao longo do ano para preservar seus indicadores de rentabilidade.
Guerra comercial no radar e impactos nos custos
A Coca-Cola afirmou que suas operações estão concentradas majoritariamente nos Estados Unidos, mas reconheceu que as tensões comerciais internacionais podem gerar efeitos indiretos sobre sua estrutura de custos em mercados externos.
“Certos componentes da estrutura de custos através dos seus mercados podem sofrer um impacto. Neste momento, a empresa espera que os impactos sejam gerenciáveis”, destacou a companhia no relatório.
O posicionamento da empresa reflete a crescente preocupação de multinacionais com o cenário de guerra comercial entre grandes economias, que pode influenciar tarifas, logística e preços de matérias-primas. Embora os efeitos ainda não tenham sido quantificados, o alerta reforça que o risco geopolítico é um elemento que seguirá no radar dos investidores ao longo de 2025.
Perspectivas e posicionamento da empresa
Mesmo diante de desafios, a Coca-Cola mantém sua estratégia de reforço de portfólio global, avanço em canais digitais e melhoria da eficiência logística. A empresa também continua investindo em inovação de produtos, incluindo linhas de bebidas com menor teor de açúcar, foco em sustentabilidade e marketing regionalizado.
O desempenho no primeiro trimestre sugere resiliência da marca em um ambiente de consumo mais seletivo e competitivo, mas o ajuste nas projeções para o lucro indica que a empresa seguirá navegando com cautela nos próximos trimestres, especialmente diante das variáveis externas que afetam custos e volumes.
Opinião
Para Fábio Fares, especialista em análise macro, o desempenho da Coca-Cola no início de 2025 reforça a tese de que empresas com presença global, gestão disciplinada e exposição operacional local são as mais bem posicionadas para enfrentar um cenário de incerteza econômica e instabilidade geopolítica. “A Coca é um exemplo clássico de como uma companhia pode se proteger da volatilidade sem abrir mão de crescimento. Ela possui um modelo que prioriza previsibilidade, estrutura de custos adaptada aos mercados em que atua e uma marca com forte apelo emocional — o que garante resiliência mesmo em ambientes desafiadores”, afirma Fares.
Segundo o analista, a decisão da empresa de manter o guidance mesmo com uma revisão favorável do impacto cambial mostra uma postura conservadora, que o mercado tende a valorizar no médio e longo prazo. “Num ambiente em que muitas empresas revisam projeções com base em variações pontuais, a Coca-Cola opta por trabalhar com margem de segurança. Isso transmite confiança de que há planejamento de sobra para lidar com pressões futuras, seja no consumo, nos custos ou na geopolítica”, completa.
Fares também destaca que o posicionamento da Coca-Cola — com foco em consumo imediato e operação majoritariamente local — reduz significativamente os riscos associados à guerra comercial e à alta de tarifas globais. “Em um mundo de redes de produção tensionadas, a Coca oferece uma combinação rara: escala, descentralização produtiva e pricing power. É esse tipo de companhia que tende a se tornar ainda mais relevante em tempos de transição e incerteza econômica”, conclui.
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O post Coca-Cola é exemplo de resiliência em meio à incerteza global, diz analista apareceu primeiro em BM&C NEWS.