
O escândalo que desviou mais de R$ 6 bilhões dos aposentados do INSS ganhou ontem mais um contorno incômodo para o governo. As investigações já tinham revelado que um irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Ferreira da Silva, mais conhecido pelo apelido de “Frei Chico”, era vice-presidente de um sindicato que recebia recursos vindos de descontos irregulares dos benefícios pagos aos pensionistas. Na terça-feira, veio a notícia de que Enrique Lewandowski, filho de Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, havia sido contratado pelo Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) para trabalhar pela manutenção do processo que permitia a entidade continuar descontando 2,5% de cada contracheque pago pelo INSS.
Não há, por enquanto, nenhuma evidência de que Frei Chico e Enrique Lewandowski estejam envolvidos no esquema – e há uma enorme chance de que os dois não sejam elos desta cadeia. Mesmo assim, essas duas situações funcionam como bombas para minar a já combalida popularidade do presidente da República.
Embora essas ligações perigosas possam prejudicar em muito a estratégia de comunicação do governo, o maior risco à reputação desta administração é a permanência do ministro da Previdência, Carlos Lupi, à frente da pasta. Por enquanto, só se pode acusar Lupi de ter sido omisso ou incompetente ao apreciar o caso – especialmente quanto teve o primeiro contato com o assunto, quase dois anos atrás. Mas somente omissão ou incompetência já seriam razões suficientes para pedir a cabeça do ministro.
Lula demorou meses e mais meses para se livrar de Juscelino Filho, ex-ministro das Comunicações por temer perder o apoio do União Brasil. Os caciques do PDT, partido de Lupi, já mandaram sinais nessa mesma toada: se vier a demissão, a sigla desembarca da base de apoio a Lula.
A permanência de Juscelino, que ficou insustentável após a denúncia da Procuradoria-Geral da República, acabou minando a credibilidade do Planalto, que busca desde a posse apagar da memória popular os casos de corrupção entre petistas revelados pela Operação Lava Jato.
Talvez Lula devesse se guiar por outra regra, instituída pelo ex-presidente Itamar Franco – e um exemplo ímpar de transparência dentro do poder público.
Em outubro de 1993, o ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi acusado de corrupção e pediu o boné. Itamar disse que Hargreaves – que era seu amigo particular – voltaria ao cargo se nada fosse comprovado contra ele. Como nada apareceu nas investigações que o desabonasse, o ministro reassumiu o ministério em fevereiro de 1994.
Essa norma poderia ser utilizada agora para preservar a imagem do governo. Mas, mesmo que nada se prove contra Lupi, o melhor seria deixá-lo fora da Esplanada. A incompetência, quando permite involuntariamente a corrupção, é tão perniciosa quando um ato deliberadamente criminoso. Afinal, no final das contas, quem sai perdendo é o cofre público. E, neste caso, também os aposentados.
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