
Para Luana Alves, Cris Monteiro foi racista com colegas e servidores negros ao dizer frases de ‘superioridade branca’. Vereadora do Novo se desculpou e afirmou que não quis ofender. Vereadora bate boca com manifestantes durante sessão na Câmara de SP
A vereadora Luana Alves (PSOL) ingressou nesta quarta-feira (30) com uma representação na Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo contra a vereadora Cris Monteiro (Novo) por uma fala no plenário considerada racista.
Durante a votação em 2° turno do aumento de 2,60% para os servidores municipais neste ano, Cris Monteiro ocupou a tribuna para defender o projeto do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e foi vaiada pelos servidores municipais que estavam nas galerias acompanhando a votação.
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Ao ser vaiada, Cris Monteiro rebateu os manifestantes com a seguinte frase: “Escutei todos vocês calados. E, quando vem uma mulher branca, bonita e rica, incomoda muito vocês e vocês vaiam. Mas tô aqui representando uma parte importante da sociedade”.
Os manifestantes revidaram com gritos de “racista”. Após a repercussão, Cris Monteiro emitiu uma nota se desculpando e dizendo que não tinha tido intenção de ofender ninguém. (Leia a íntegra mais abaixo.)
Para Luana, a frase é uma forma de discriminação racial da parlamentar do Novo contra os servidores negros do município e os colegas da Casa.
É muito triste que a Câmara Municipal de São Paulo que deveria representar o povo que é negro, trabalhador, tenha cena de discriminação racial e foi isso que aconteceu e não pode passar impune.
Na representação à Corregedoria, Luana argumentou que a colega do Novo tentou demonstrar “superioridade branca”.
“Ao destacar sua branquitude, beleza e riqueza como elementos de superioridade e motivo de incômodo diante da fala de uma vereadora negra, a parlamentar expressa uma estrutura de poder racializada, que reforça estereótipos discriminatórios e hierarquias raciais, incitando a desvalorização do lugar de fala da mulher negra no espaço público”, escreveu.
Na avaliação de Luana, a declaração deveria ser compreendida no contexto do racismo estrutural. Ela citou ainda o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu “que o racismo no Brasil assume formas institucionais e estruturais, muitas vezes mascaradas por discursos sutis”.
“Na tentativa de embranquecer a humanidade, está aí a presunção da superioridade de alguns sobre os outros e, portanto, não se trata de uma frase mal dita. É a expressão genuína do racismo afirmar que o fato de ser uma mulher branca, bonita e rica possui a verdade”, afirmou Luana.
As vereadores Luana Alves (PSOL) e Cris Monteiro (Novo): embate na Corregedoria da Câmara
Montagem/g1/Richard Lourenço e Douglas Ferreira/Rede Câmara
O que diz Cris Monteiro
Após a frase polêmica, Cris Monteiro emitiu uma nota dizendo que não teve intenção de ofender servidores e colegas negros da Casa.
“A vereadora Cris Monteiro se manifesta publicamente sobre a frase proferida no plenário da Câmara Municipal nesta terça-feira. Ela lamenta a repercussão de sua fala e reforça que em nenhum momento teve a intenção de ofender qualquer pessoa”, diz trecho da nota.
“Ao longo dos últimos cinco anos de mandato, Cris Monteiro sempre pautou sua atuação pelo respeito aos colegas parlamentares e à população de São Paulo. Sua trajetória é marcada pelo diálogo, pela escuta ativa e pelo compromisso com soluções concretas para os desafios da cidade”, completa.
A nota ressalta ainda que a vereadora é “autora de leis importantes como as de Naming Rights e Não se Cale, entre outras iniciativas de impacto” e “segue dedicada ao trabalho legislativo com seriedade, responsabilidade e o objetivo de fazer de São Paulo uma cidade melhor para todos”.
Em 2021, Cris Monteiro já tinha se envolvido em uma briga dentro do banheiro com outra vereadora do mesmo partido. Na época, o caso de agressão mútua foi parar na Corregedoria da casa. As duas chegaram a ser punidas com perda de prerrogativas parlamentares (veja mais aqui).
Sessão conturbada
Rubinho Nunes tenta retirar cartaz de Toninho.
Reprodução
A sessão também teve outro episódio de hostilidade. Os vereadores Rubinho Nunes (União) e Toninho Vespoli (PSOL) tiveram um embate quando, ao fim de sua fala na tribuna, Toninho levantou um cartaz em apoio aos manifestantes.
Rubinho, que estava atrás dele, se aproximou e tentou retirar o cartaz das mãos do vereador, que desviou. (Veja o vídeo abaixo.)
Rubinho Nunes tenta retirar cartaz de Toninho Vespoli
Reajuste de 2,60% aprovado
Placar da votação
Marcel Lopes/TV Globo
Na sessão, a Câmara aprovou em segunda votação a proposta de reajuste salarial dos servidores municipais por um placar de 34 votos a favor e 17 contrários. Não houve nenhuma abstenção.
A proposta em discussão prevê reajuste no salário de todos os servidores municipais, incluindo professores, em duas etapas:
2,60% em maio deste ano; e
2,55% em maio do ano que vem. No acumulado, o aumento fica em 5,15%.
Os servidores em greve exigem um reajuste que seja pelo menos acima da inflação, que atualmente, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, variou 5,65% entre março de 2024 e março de 2025. Há cerca de duas semanas, trabalhadores vêm fazendo manifestações.
Agora, os sindicatos irão definir os próximos passos após a aprovação do projeto de lei.
Abaixo, entenda quais são especificamente as reivindicações dos professores.
💲 Salário atual dos professores
R$ 2.680,40 para um professor que está iniciando na profissão, considerado como categoria 1;
R$ 3.237,89 para um professor com faculdade, considerado como categoria 3.
🧐 O que o PL 416/2025 prevê:
A revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos municipais;
Reajuste do salário e vale-alimentação dos trabalhadores em duas etapas: 2,60% em 1º de maio deste ano para profissionais ativos e aposentados; e 2,55% em maio de 2026;
Reajuste de 6,27% a partir de 1º de maio, sobre o valor do piso docente atual da categoria 1 (QPE 11A), correspondente aos profissionais da carreira do magistério com ensino médio;
Os valores do abono salarial complementar e de abono de compatibilização dos profissionais da educação.
🗣️ O que os servidores reivindicam:
Reajuste salarial de 44% para os profissionais de educação;
Incorporação dos abonos complementares de piso de 31,77%, 3% e 5,67%, concedidos entre 2021 e 2024;
Revogação do confisco previdenciário;
Redução da alíquota previdenciária de 14% para 11%.
Tabela correspondente ao salário atual e o valor previsto com o reajuste para os profissionais da carreira do magistério com ensino médio.
Reprodução SINPEEM (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo).
Ato de funcionários municipais em frente à Câmara Municipal
Bervelin Albuquerque/g1