MST ocupa fazendas em AL e MS neste sábado (26) e chega a 30 acampamentos no ‘Abril Vermelho’

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupou, na manhã deste sábado (26), duas fazendas improdutivas: uma em Arapiraca, no agreste de Alagoas, e outra em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Assim, chegam a 30 as ocupações feitas desde o início do mês, na Jornada de Lutas pela Reforma Agrária, também conhecida como “Abril Vermelho”. 

Em Alagoas, 300 camponeses montam acampamento com barracos de lona em área próxima à Vila Bananeira e afirmam que devem começar mutirões de trabalho para o preparo de solo para plantio. 

“Pela manhã fomos surpreendidas com ameaças de homens armados da pistolagem da região. Após isso, caminhonetes do movimento Invasão Zero, umas 15 ou 20, vieram com homens armados intimidar as famílias. Nós mantemos a resistência aqui. Acionamos órgãos de segurança do estado de Alagoas e a Ouvidoria Agrária Nacional. Também comunicamos o governo do Estado”, destaca Margarida Silva, da coordenação nacional do MST em Alagoas. 

A Polícia Militar (PM) foi ao local e, segundo o MST, impediu por um período  a entrada e saída de acampados, bem como de alimentos, na área. A barreira foi desfeita após negociação com a presença da diretora da Câmara Nacional de Conciliação Agrária do Incra, Carolina Morishita; do Secretário de Segurança Pública do Estado de Alagoas, Flávio Saraiva; do presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas, Jaime Silva; e de representação do Centro de Gerenciamento de Crises e do Incra de Alagoas.

A área ocupada pertence ao Grupo Bananeira e, segundo o MST, está improdutiva desde 2012. “Queremos mudar a cara desse local: o que antes era improdutivo, nós queremos diversidade de produção, preservação dos bens da natureza e famílias vivendo com dignidade”, declarou a Margarida Silva.

No Mato Grosso do Sul a ocupação foi feita também por 300 trabalhadores sem-terra por volta das 6h, próximo ao distrito de Panambi. A área pertence à empresa JBS. Até o momento, não houve a chegada da polícia ou de seguranças privados. Segundo os acampados, um drone sobrevoou o terreno. 

A ocupação é uma ampliação do Acampamento Esperança, onde 270 famílias do MST vivem há cerca de dois anos, na beira da rodovia MS-379. Apenas em 2024, a comunidade foi alvo de três incêndios e um ataque de pistoleiros. 

Trabalhadores sem-terra ocupam fazenda da JBS no Mato Grosso do Sul – Comunicação MST/MS

O Brasil de Fato pediu uma posição para o grupo JBS mas não recebeu resposta até o fechamento da matéria. Caso haja retorno, o texto será atualizado. A reportagem não encontrou o contato do Grupo Bananeira, mas o espaço segue aberto para manifestação.

Plantio em homenagem ao papa Francisco

Em ambas as ocupações os acampados pretendem fazer o plantio simbólico de mudas de árvores em homenagem ao papa Francisco, sepultado nesta manhã em Roma, na Itália. 

“Aqui é uma homenagem ao papa, mas vai mais além disso, queremos com essa ação já demarcar nossa posição nas terras que ocupamos, com produção de comida e preservação dos bens da natureza”, explicou a coordenadora do MST em Alagoas. 

“Ocupar para o Brasil alimentar”

A já tradicional jornada de lutas do MST no mês de abril acontece todos os anos em memória ao Massacre de Eldorado do Carajás, quando a Polícia Militar do Pará assassinou 21 trabalhadores sem-terra em 1996, na “Curva do S”.  

Neste ano, a mobilização tem o lema “Ocupar para o Brasil alimentar” e reivindica a destinação de terras sem função social para a reforma agrária, no intuito de fortalecer a produção de alimentos saudáveis. 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.