O deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) declarou que não tem mais expectativa de reverter, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, a decisão que rejeita seu recurso contra o processo de cassação. “A tendência na CCJ é a manutenção da não aceitação do recurso, infelizmente”, afirmou, em entrevista exclusiva ao programa Conexão BdF, do Brasil de Fato. Ele classificou o caso como um ataque político e anunciou que percorrerá os 26 estados do Brasil nos próximos dois meses para mobilizar apoio popular antes da votação final em plenário, prevista para 1º de julho.
“O que está acontecendo pode servir como um precedente de cassação em série de mandatos, principalmente de mandatos combativos de esquerda”, afirmou o parlamentar. “Eu vou percorrer os 26 estados brasileiros, mostrando para as pessoas o que está acontecendo, apresentando as razões dessa tentativa de cassação e intimidação. Acredito que virar esse jogo é um processo de mobilização que vá para além do quadrado institucional.”
Braga apresentou um recurso de 94 páginas à CCJ, apontando inconstitucionalidades no rito do processo no Conselho de Ética, mas o relator votou pela rejeição. Um pedido de vista adiou a decisão final da comissão para a próxima terça-feira (29).
Apesar do cenário adverso na CCJ, o parlamentar e seu partido articulam apoios no Congresso. Segundo Braga, a liderança do Psol e outros parlamentares estão conversando com bancadas, inclusive com partidos do centrão e da oposição. “Numa sessão da CCJ, o PSB, partido do centrão, disse que não concorda com a cassação de mandato. Então estou disposto a conversar e apresentar as minhas razões aos deputados”, disse.
O deputado também comparou seu caso ao do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, que foi cassado por via administrativa. A sua cassação pela suspeita do crime não foi levada ao plenário, mesmo após oito meses da decisão no Conselho de Ética. “Por que no meu caso rapidamente querem levar ao Plenário? Precisei fazer uma greve de fome e me mobilizar com o povo para garantir dois meses [para a defesa]. Quer dizer que se eu faltar as sessões, eu também vou ganhar a possibilidade de não ter os meus direitos políticos suspensos?”, questionou.
Glauber Braga reforçou que acredita estar sendo punido por sua atuação contra o orçamento secreto e por denúncias feitas contra o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Não há dúvidas. Isso evidentemente vem como ‘reboque’. O governo federal, no conjunto dos seus ministérios, tem R$ 200 bilhões para fazer investimentos, e existe hoje cerca de R$ 50 bilhões para emendas parlamentares, olha a distorção dessa história. A arma que eu tenho é a minha palavra, a minha voz. Eu não vou deixar acusá-lo.”
‘Greve de fome conseguiu alcançar objetivos’
Durante a entrevista Braga também comentou sobre a greve de fome que fez durante nove dias, iniciada de forma independente em protesto contra a decisão do Conselho de Ética. Braga disse estar com a saúde restabelecida e comemorou que o ato teve grande repercussão. “Na primeira meia hora daquela reunião do Conselho de Ética, que durou seis horas, vi que era a tática ser adotada e, ao final, anunciei. O resultado e a repercussão que vieram depois demonstraram que a tática conseguiu alcançar os seus objetivos de denúncia”, avaliou.
O deputado relatou que teve uma conversa rápida, de cerca de 30 segundos, com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), durante a negociação que levou à suspensão da greve de fome. O diálogo foi intermediado principalmente pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), que recebeu uma ligação de Motta enquanto estava com Braga e outras deputadas do Psol. Segundo o relato, o presidente da Casa demonstrava dúvida sobre fazer um aceno público estendendo o prazo de defesa e, mesmo assim, não conseguir encerrar a greve. Braga então pediu o telefone e garantiu: “Se houver a sinalização de um recuo tático de ao menos dois meses para o exercício da defesa, eu vou cumprir com a minha parte.” E assim foi feito.
A mobilização, segundo ele, é a principal estratégia nos próximos 60 dias. “Tenho esperança que por meio da mobilização consigamos virar esse jogo. Vou percorrer estado por estado, apresentando as nossas razões, explicando para as pessoas o que está acontecendo”, explica.
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