Mundo do trabalho mudou, mas exploração continua, diz Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges Júnior, defende que as mudanças tecnológicas, a reestruturação produtiva e o avanço do chamado “capitalismo de plataformas” mudaram o perfil do trabalhador e das relações de trabalho, mas não alteraram a essência da exploração da mão de obra. Em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, ele fez um balanço das transformações no mundo do trabalho nas últimas décadas e defendeu a importância de retomar o diálogo com a base para enfrentar os desafios atuais.

“O mundo do trabalho mudou muito com o que eu chamo de ‘capitalismo de plataformas’, mas a relação entre o capital-trabalho, de exploração da mão-de-obra, da força de trabalho dos trabalhadores não mudou. Por outro lado, os valores que o sindicato defende também continuam os mesmos: uma sociedade melhor para todos os trabalhadores e trabalhadoras, porque somos nós que produzimos a riqueza do país”, afirmou.

Selerges fez críticas à precarização representada pela ‘uberização’ do trabalho e apontou que muitos jovens rejeitam vínculos formais por influência de uma “teologia da prosperidade” que estimula o discurso do empreendedorismo individual. Para ele, o movimento sindical precisa reconhecer essa realidade e se aproximar dos trabalhadores de aplicativo que, ao mesmo tempo em que são levados a crer no discurso do sucesso individual, dependem dos apps para garantir o básico. “Temos que conversar com o cara da nota, com o motoboy do aplicativo. Nós temos que ouvir, entender a realidade. O movimento sindical se afastou muito da base, das mudanças que ocorreram”, acredita.

Mudanças exigem diálogo com toda a sociedade

O sindicalista também comentou a proposta do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP), que pretende apresentar um projeto de lei para regulamentar os direitos desses trabalhadores, a partir das demandas levantadas no último “breque do apps”. Para Selerges, a iniciativa do parlamentar é positiva, mas precisará de muita escuta e debate para conseguir o apoio popular necessário para enfrentar um Congresso conservador. “Não pode ser uma posição de esquerda, tem que ser de toda a sociedade organizada”, defende. Para ele, o diálogo deve ser feito nas redes sociais, mas sobretudo presencialmente.

Na avaliação dele, os sindicatos perderam força especialmente após a reforma trabalhista, fruto do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, na sua visão. “Foi para atacar os sindicatos e para ‘pagar’ os empresários que contribuíram para os votos [de impeachment] da presidenta Dilma”, acusa. No entanto, Selerges afirma que o desafio não é só estrutural, mas também de reconectar o sindicato com os trabalhadores. “Eu não quero que o companheiro ame o sindicato, mas que conheça e entenda sua importância para sua vida e para a construção de uma sociedade mais justa”, afirma.

Apesar dos índices de quase pleno emprego e aumento da massa salarial, ele aponta que a alta nos preços e o custo de vida continuam afetando a percepção dos trabalhadores. “Você acha que o trabalhador sabe que o alimento tá caro por causa do dólar? Ele quer chegar no açougue, comprar um pedaço de carne, levar um docinho pra casa. Precisa mudar isso para que o governo está fazendo surta resultado. A mesa do cara é o final da linha”, explica.

Cem anos do 1° de Maio

Moisés Selerges anunciou o retorno do 1º de Maio organizado pelo sindicato, após nove anos. O evento acontecerá no pátio municipal de São Bernardo do Campo, a partir das 10h, e será voltado para as pautas populares: isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, redução da jornada de trabalho, inserção do trabalhador nos lucros e resultados das empresas e combate à taxa de juros alta. “Vamos fazer um 1° de Maio popular. Um dia de colocar a pauta para a classe trabalhadora, falar dos 100 anos do Dia do Trabalhador e fazer festa também”, comemora.

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