Movimentos populares apresentam propostas para negociadores do Brics

Pela primeira vez desde a criação do Brics, movimentos populares e representantes da sociedade civil tiveram espaço formal para apresentar propostas diretamente aos principais negociadores dos países-membros durante a segunda reunião de sherpas do grupo. Sherpas são enviados dos governos dos países do bloco que atuam como guias de discussões e acordos para os chefes de estado. 

“É uma oportunidade para que nós, negociadores, ouçamos o que a sociedade tem a dizer sobre nosso trabalho e como melhorá-lo para que os resultados do Brics sejam mais alinhados com o que a população quer”, afirmou Mauricio Lyrio, sherpa do Brasil no grupo. Ele destacou ainda que o presidente Lula disse que o Brics precisa ouvir a sociedade e tomar decisões que realmente impactem a vida das pessoas.

Dez grupos, que combinaram representatividade institucional e alinhamento com as prioridades da presidência brasileira, foram chamados. Entre os participantes está João Pedro Stedile, economista e liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele destacou que desde a Cúpula do Brics 2024, realizada em Kazan, na Rússia, os movimentos populares vêm realizando encontros virtuais e elaborando documentos, que já foram entregues ao Itamaraty. Ele reforçou a importância do objetivo do encontro no Rio para apresentar essas propostas e estabelecer um canal de diálogo direto com os representantes dos governos.  

“Nós, os movimentos populares, apresentamos por escrito uma síntese sobre os temas que a governança do Brasil colocou: educação, saúde, governança mundial e tecnologia. E aproveitamos para chamar atenção sobre questões urgentes da conjuntura.”

“Além disso, os movimentos cobraram uma postura mais ativa do Brics contra os conflitos em curso no mundo. Há uma responsabilidade civilizatória que exige solidariedade”, declarou Stedile. Outra demanda apresentada pelo MST é a formalização do Conselho Popular do Brics, proposta aprovada em Kazan, mas ainda sem regulamentação.

“Precisamos definir quantas pessoas por país, se terá secretaria, recursos, quantas reuniões por ano. O conselho precisa funcionar de forma permanente, independentemente da posição ideológica do governo que assume a presidência rotativa”, explicou. 

Sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), houve consenso dos representantes da sociedade civil de que a instituição financeira precisa ser o principal agente de financiamento da industrialização do Sul Global. O argumento é que sem indústria não há como reduzir a pobreza ou financiar agricultura familiar, por exemplo. A expectativa é que o NBD se torne uma alternativa real ao Banco Mundial e ao FMI, financiando o desenvolvimento de países emergentes. 

As propostas apresentadas serão consolidadas em documentos oficiais e analisadas pelos sherpas nas próximas semanas. O governo brasileiro reforçou que o diálogo com a sociedade civil continuará ao longo de toda a presidência, com expectativa de resultados concretos na Cúpula de Líderes que ocorrerá nos dias 6 e 7 de julho, também no Rio de Janeiro.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.