A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) divulgou, nesta quarta-feira (23), um vídeo de uma câmera de segurança que mostra o momento em que o agricultor Gideone Menezes, 67 anos, foi atropelado no Recife (PE). Ele participativa da Marcha em Defesa da Reforma Agrária e da Democracia, na terça-feira (15), organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Na imagem, é possível observar que o carro modelo Eco Sport na cor branca, conduzido pelo comerciante identificado apenas como Tiago, tenta ultrapassar o bloqueio da marcha e sair da faixa liberada para o fluxo de veículos. Os militantes tentam conter o avanço do carro, mas o condutor acelera e atinge algumas pessoas, entre elas Gideone, que aparece no vídeo de camisa vermelha e segurando a bandeira do movimento. As imagens são do circuito de segurança de um estabelecimento que fica na Avenida General San Martin, no bairro dos Torrões, e que gravou o atropelamento às 09h16.
Gideone está internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife. Ele teve traumatismo craniano, ferimentos no abdômen e nos órgãos genitais. Segundo a família, o militante está reagindo bem às medicações.
Nesta quarta-feira (23), a Polícia Civil de Pernambuco revelou detalhes da investigação. Informou que prendeu o condutor do veículo, de forma preventiva, e que agora ele responderá por tentativa de homicídio e omissão de socorro. O delegado responsável pelo caso, Diego Jardim, classificou a atitude do motorista como “impensada e impulsiva”. A polícia também descartou motivação política.
“Ainda segue a investigação, mas até o momento a gente não pode afirmar que foi uma conduta relacionada contra o movimento agrário ou político partidário. O que a gente pôde perceber até o momento é que foi alguém que foi impedido de passar naquele momento, que tomou uma atitude descabida, inconcebível e quis passar de todo jeito. Nós não conseguimos identificar até o momento que existe essa intolerância ao movimento ou nada do tipo”, detalhou o delegado.
O delegado reforçou que a imagem divulgada ainda está sendo analisada pelos peritos. Eles devem avaliar a velocidade no carro no momento do atropelamento e se, de fato, o veículo havia sido danificado antes pelos manifestantes.
Investigação
Tiago foi preso nesta terça-feira, no bairro do Curado 2, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. Antes, durante o feriado de Páscoa, ele se apresentou à política, acompanhado de um advogado, e prestou depoimento. O suspeito afirma que agiu em legítima defesa.
“Ele confessa que foi o autor do atropelamento, mas diz que agiu em legítima defesa. Ele fala que no momento ali, as pessoas o impediram de passar, que estavam com barrotes, que começaram a bater no carro, que o avô começou a passar mal e aí ele decidiu acelerar e tentar passar por onde dava. Segundo ele, ele nem percebeu que uma pessoa foi atropelada”.
O delegado informou que solicitou a prisão preventiva de Tiago no dia seguinte ao atropelamento. O mandado de prisão foi autorizado na terça-feira (22), dia em que foi realizada a prisão.
“As imagens ainda vão ser periciadas, todas as informações técnicas ainda vão chegar para serem analisadas, mas, olhando as imagens, não tem como crer que ele não viu que alguém estava sendo atropelado. A pessoa vai no capô do carro, é arrastada e logo depois o carro passa por cima. Então, realmente é uma versão que não é verdadeira”, comentou o delegado, sobre o vídeo divulgado nesta quarta-feira.
A polícia deve ouvir outras testemunhas do caso, entre elas os policiais que estavam acompanhando a marcha.

Marcha Pacífica
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra contesta a versão do condutor do veículo e cobra por agilidade nas investigações. Segundo Fernando Silva, da direção nacional do movimento em Pernambuco, Tiago estava forçando a ultrapassagem da marcha e colocando em risco os pedestres.
“Durante o trajeto da marcha, esse agressor tentou, de todas as formas, furar o bloqueio, e nós fomos impedindo para que isso não viesse a acontecer, até porque do lado que a gente estava era, justamente, uma passagem de pedestre. Então, todos os carros que estavam atrás da marcha e outros que estavam ao lado esquerdo estavam passando normalmente. Mas esse cidadão, a todo momento, ele tentava furar o bloqueio. Havia uma provocação dele. Não é verdade que ele não sabia [que atropelou um pedestre]”.
“Ele viu quando bateu no companheiro, que o companheiro estava na frente do carro dele, principalmente no momento que o companheiro caiu no chão e ele passou por cima, indo e voltando. O que nós queremos é que a justiça possa ver o caso e fazer justiça, porque quem estava ali, naquele momento, era um trabalhador, um agricultor e um militante do Movimento Sem Terra, que estava lutando pelos seus direitos, que era a conquista da terra”, concluiu o dirigente.
Legítima defesa
Os advogados de Tiago alegam que ele agiu por legítima defesa. Em nota, classificaram a prisão preventiva como “desnecessária”.
A defesa informou que Tiago não teve intenção de atropelar os manifestantes e que, “durante o trajeto, ao deparar-se com uma passeata que bloqueava a via, houve um desconforto com um dos manifestantes, tendo este agido com violência atingindo o veículo”.
Segundo os advogados, isso “desencadeou novos ataques dos demais manifestantes por meio de pedaços de madeira (barrotes), havendo depreciação do automóvel”.
“Diante da situação de violência e risco iminente à integridade física dos ocupantes do automóvel, o investigado, na tentativa de proteger a família e afastar-se do local, acelerou o veículo, não tendo qualquer intenção de causar dano a quem quer que fosse”, concluiu o texto.