Ataques de pitbull acendem alerta sobre socialização animal

Foto: Pixbay

Em um intervalo de apenas três dias, o Espírito Santo registrou pelo menos dois ataques violentos envolvendo cães da raça pitbull. Diante da gravidade dos episódios, a discussão sobre a criação de cães da raça pitbull ou de raças consideradas de guarda voltou à tona.

No primeiro caso, uma mulher de 46 anos foi brutalmente atacada por um pitbull monster dentro da própria casa, no bairro Belo Horizonte, em Marataízes.

No segundo, um bebê de apenas 1 ano e 4 meses foi mordida na cabeça pelo cachorro da família, em Cariacica. Somado a isso, outro caso de grande repercussão ocorreu em Goiás, onde uma mulher de 31 anos morreu após ser atacada pelo próprio cão.

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Especialistas em comportamento animal apontam que, mais do que demonizar uma raça específica, é preciso compreender a raiz do problema: a criação inadequada, a falta de socialização desde os primeiros meses de vida e o uso de cães como ferramenta de intimidação ou defesa.

Para o médico veterinário Diogo Garnica de Sousa, o comportamento agressivo de cães está diretamente ligado ao modo como eles são tratados pelos tutores.

A responsabilidade é totalmente de quem cria e da forma como cria o animal. O segredo está na socialização correta desses indivíduos. Existe uma janela para esta socialização que é quando filhote, estando aberta até próximo aos 90 dias de idade, explica.

Segundo Diogo, é nesse período inicial que o filhote deve ser exposto a diferentes estímulos: crianças correndo, idosos com bengalas, ambientes com barulho, pessoas desconhecidas.

Essa exposição faz com que o animal desenvolva vínculos afetivos e compreenda o que é ou não uma ameaça. “Vamos lembrar que não somente essa raça pode atacar, mas qualquer uma que não passe por essa fase da forma correta. Eles atacam o desconhecido”, pontua.

Apesar da força física e do porte intimidador, os pitbulls podem ser animais dóceis e sociáveis, segundo o especialista. No entanto, isso exige orientação adequada e, muitas vezes, acompanhamento profissional.

“É recomendável a ajuda de um adestrador para ensiná-los comandos de obediência básica. São animais muito enérgicos e fortes, e moldar esse comportamento é essencial”, diz.

Por outro lado, o veterinário chama a atenção para um fator preocupante: muitos tutores criam os animais com o intuito de instigar a agressividade.

Algumas pessoas criam esses cães como guarda, instigando o ataque e os submetendo a situações de estresse, como espaços pequenos e ausência de contato com outros seres. Isso pode tornar qualquer raça perigosa.

A médica veterinária da Polícia Militar, tenente Jéssica Nogueira, reforça essa visão. Para ela, o problema está mais na criação do que na genética.

O pitbull já tem um instinto natural de captura de presa. Mas se ele for criado com amor, socializado desde filhote, ele pode ser um animal dócil. A questão é que muitos são criados para atacar, afirma.

Segundo Jéssica, o treinamento desde a infância do animal é fundamental. “Socializar é colocar esse animal em contato com outros cães, com seres humanos, com diferentes tipos de estímulos. Assim, ele vai crescer entendendo que essas situações são normais, e não ameaças.”

A veterinária também aponta que há uma legislação que determina o uso de focinheiras em cães de médio e grande porte durante passeios, mas o descumprimento dessa norma é comum. “As pessoas acabam saindo com os animais sem focinheira. Isso é negligência. A prevenção depende do cuidado desde o início da vida do animal e do cumprimento das regras.”

O comportamento agressivo, especialmente em raças com histórico de uso como cães de guarda, também pode se manifestar de forma mais violenta.

Um pastor alemão, por exemplo, quando treinado para captura, tende a segurar e soltar. O pitbull, não. Ele captura e mata. Isso está na natureza dele. Por isso, o nível de responsabilidade do tutor deve ser ainda maior, alerta Jéssica.

Diante dos recentes casos, os especialistas reforçam que não se trata de culpar a raça, mas de assumir a responsabilidade como tutor. Criar um cão exige mais do que afeto: requer conhecimento, orientação e, sobretudo, comprometimento com a segurança de todos ao redor.

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